As aparências enganam.
O que eu irei relatar agora é atribuído a uma pessoa muito
conhecida em minha pacata Porto dos Gaúchos. Não sei se realmente aconteceu
como me contaram, mas se é fato ou ficção não deixa de ser divertido.
O personagem deste relato é conhecido na cidade onde moro com
o apelido popular de “Cateto”. Por que seu apelido é “Cateto”?! Sinceramente eu
não sei. Só sei que todos o conhecem por este apelido.
O fato ou ficção acontecera há algum tempo passado, naquela
ocasião Cateto coabitava com uma mulher afro descendente, muito simpática,
honesta e principalmente trabalhadora. Era uma mulher magra e de estatura franzina,
porém trabalhadora e ótima Dona de Casa.
O Cateto homem também de pequena estatura e magricelo, na
época apreciador contumaz de uns “gorós”[1],
vestia com trajes simples de um matuto, e exibia em sua cabeça um chapéu preto
imitando os cowboys americano. Desse modo Cateto encontrava-se em um final de
tarde, em um boteco próximo a rodoviária tomando cachaça e já se encontrava
trôpego, devido às diversas doses já ingeridas.
Cateto estava na fase alcoólica do “Leão” misturado com a do
“macaco”, saltitava de um lado do outro do recinto do pequeno estabelecimento, falando
alto e de forma ameaçadora para aqueles que não o conheciam. Cateto sempre foi
uma pessoa pacífica.
No mesmo recinto encontravam-se mais alguns homens, moradores
da zona rural do município, que ali estavam talvez com a intenção de pegar
Ônibus da noite, e, enquanto esperavam a hora, tomavam uma bebida ou
simplesmente sentavam nas mesas do estabelecimento aguardando a tempo passar.
Porém estas pessoas decerto não conheciam o meu amigo
“Cateto”, que como antes falado, estava “roncando grosso”[2]
pelo estabelecimento, e olhando para os presentes, falava em tom ameaçador de como
era perigoso (fato que nunca o fora) e que com ele “a coisa era na bala”
etc...etc...e tal.
Os seus espectadores estavam em silêncio evitando até mesmo
de encarar o “valente” e “perigoso” homem que ali se encontrava. Talvez imaginassem
eles, ser aquele elemento com seu negro chapéu, um perigoso pistoleiro lá das
bandas da baiana, rápido no gatilho e no desejo de matar.(só se fosse um
camelo. Rsss.).
Minutos mais tarde, entra no recinto sua companheira, talvez
atendendo a um chamado do dono do estabelecimento, e viera para levar o Cateto
embora vez que este estava a incomodar os demais fregueses com sua então
contumaz bebedeira.
Cateto vendo sua companheira dizendo para ele que estava na
hora de ir para casa, imediatamente relutou, decerto dizendo que ficaria mais
um pouco, o que a levou a dar-lhe um safanão pelo braço puxando para fora do
boteco obrigando que fosse embora dali. Com esta atitude Cateto quase jogado
pela mulher para fora do pequeno bar, deixou cair o chapéu no chão cascalhado
da rua na época ainda não pavimentada.
Imediatamente Cateto abaixou para pegar seu lustroso e negro
chapéu, e virando para os demais homens que ainda estavam no recinto do boteco,
foi logo dizendo, que se estes rissem ele voltaria.
Até hoje fico a imaginar se isto realmente teria acontecido,
e se aconteceu, como se portaram as demais pessoas que estavam ali no recinto,
vendo aquele homem que a pouco momento antes temiam, sendo levado para casa
pela mulher magrinha que aos “trancos e barrancos” lhe puxava pelos braços.
Todo vez saio do meu escritório e vejo meu velho conhecido
Cateto, pegando as folhas da antiga Figueira que insisti em cair no pátio do
hospital municipal onde ele trabalha, fico a indagar-me, será que realmente
aquilo teria acontecido?!? O caso é hilariante e demonstra claramente que as
aparências muitas das vezes nos enganam.
NILTON FLÁVIO RIBEIRO (niltonflavioribeiro.blogspot.com)
29/12/2009.