Um conhecido meu, me contou recentemente que em uma certa ocasião, fizera um poleiro(1) próximo a um pé de Tucumã(2), onde estava caindo seus frutos (cocos), e assim freqüentados pelas Pacas que muito aprecia está iguaria.
Montou seu jirau(3) não muito alto e lá acomodando-se a espera de sua almejada caça. Não demorou muito para escutar o ruído do caminhar do roedor saltitando sobre a cobertura de folhas secas que se acomodava no chão da floresta, que aos poucos ia aproximando acobertado pela escuridão da noite, em busca dos suculentos cocos ao pé do Tucumã.
O nosso personagem, ficou imóvel a espera de sua caça, com uma das mãos segurava firmemente sua espingarda cartucheira calibre 32 e com a outra o farolete, pronto para ser aceso em direção do animal que certamente iria se colocar sob sua mira para saborear os cocos maduros caídos naquele local.
Enquanto esperava pacientemente pela caça, ouvindo o ruído de seu caminhar pela mata, o caçador imaginava como iria prepará-la, se a fritaria como de costume ou a assaria. Sua boca inundava de saliva só de pensar naquela saborosa iguaria muito apreciada pelos caboclos e sertanejos de quase toda região deste imenso Brasil.
Quando o ruído do caminhar do bicho cessou, sendo substituído pelo peculiar barulho que o animal faz ao roer o coco, o caçador viu que era o momento ideal de acender seu farolete, focando a caça nos olhos para em seguida disparar sua arma. Poou!!!... O tiro ecoou pela floresta, seguido do cheiro de pólvora e do silêncio profundo da noite.
O caçador conseguira seu intento, e a caça fora abatida. Porém quando ensaiava para descer do poleiro, escuta novo ruído de um caminhar sutil sobre as folhas secas no chão, que também vinham em direção a ele. Pensou o caçador, que aquela noite seria de sorte, pois não somente levaria uma Paca para sua casa, porém duas, e as fritando com muita banha teria mistura para toda aquela semana.
Permaneceu imóvel no poleiro a espera da segunda caça que em sua direção se movia, porém aquele ruído sutil, não parecia ser o feito pelo caminhar do roedor, muito conhecido daqueles que caçam em esperas embrenhados na mata e acobertados pelo manto da noite. Estes aprenderam a conhecer o animal somente pelo ruído de seu caminhar sobre folhas secas acomodadas no chão da floresta.
Sua experiência de velho caçador naquele momento o deixara pouco confuso, e este indagara em pensamento e consigo mesmo: - Seria outra Paca???
Esta caça porém vinha de outro lado donde estava trepado, o que o impedia de focar sem comprometer o seu tiro, pois a pequena árvore onde amarrara o seu poleiro o impedia de ter uma boa mira. Isto o levou a permanecer imóvel, pois momento antes havia substituído o cartucho de sua espingarda por outro carregado. Agora só restava ao caçador escutar até que a caça se colocasse no local adequando para ser abatida.
Aguçando seu ouvido o caçador pode notar que a caça, dirigiu-se em direção de onde estava empoleirado, se posicionando bem abaixo do caçador, o que também lhe impedia em atirar, já que seu poleiro não era muito distante do chão. Pacientemente o caçador aguardava o momento certo para abater sua caça, permanecendo imóvel para não espantá-la.
O frescor da noite trazia um suave perfume de flores, que entrava pelas narinas do caçador acobertado pela escuridão da noite sem luar. Foi quando sentiu que o poleiro onde estava acomodado deu um leve balanço, como se algo nele apoiara, ouvindo o ruído do animal fungando como se farejasse algo.
O caçador se indagou novamente, o que seria aquilo, pois nada lhe parecia, mesmo assim e impelido pela curiosidade permaneceu imóvel. Momento em seguida viu o ruído do caminhar da caça, que saindo de baixo do seu poleiro foi em direção aos cocos, onde já estava abatida a outra Paca, foi quando o caçador acendeu o seu farolete na direção daquilo que até então acreditava ter sido mais outra Paca, e viu o lombo de uma enorme Onça Pintada que havia abocanhando a Paca abatida e já se preparava para sair do foco da lanterna para se embrenhar na selva.
O Caçador não hesitou, apontou sua arma disparando-a em direção a Onça, que largou a presa abatida anteriormente e fugiu em direção a escuridão da noite soltando um grande e intimidador esturro.
Cessando o ruído da fuga do grande felino, o Caçador sentiu seu coração disparar, quando descobriu que a Onça, posicionou bem baixo do poleiro em que estava, e nele apoiando chegou a varejá-lo, pois ele pode até sentir sua respiração.
O velho mateiro quando me contava sua história, me disse que Deus realmente existe e cuida dos seus filhos, pois a feroz e faminta onça o podia muito bem tê-lo agarrado e o puxado do poleiro com suas afiadas unhas, porém sentido o cheiro do sangue da Paca por ele abatida, deixou sua presa humana para em seguida abocanhar a caça anteriormente morta pelo caçador. Tenho certeza que homem naquela noite aprendeu mais uma grande lição em sua vida de que a caça pode salvar o caçador.
Nilton Flávio Ribeiro.
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1 Armação feita com varas de madeira, próximo a um pé de fruta, para espera e caça de animais silvestres, muito comum em regiões de mata.
2 Espécie de palmeira com caule espinhoso muito comum nas matas de nossa região.
3 Outra denominação dada pelos sertanejos para armação descrita no número “um” desta nota. Também chamado de poleiro.
legal ja passei por isso
ResponderExcluirmas foi mais asustador por com migo era uma onça parda
e alem dela vim em minha direçao ela me atakou
mas quando eu ouvi o passos do animal correndo em minha direçao eu pulei do puleiro foi quando ela passou por sima de min com um enorme salto
mas logo em seguida eu asendi o falorete e abati ela com um tiro de um fusil serteiro
nunca me esqueço do medo