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terça-feira, 29 de dezembro de 2009


As aparências enganam.
O que eu irei relatar agora é atribuído a uma pessoa muito conhecida em minha pacata Porto dos Gaúchos. Não sei se realmente aconteceu como me contaram, mas se é fato ou ficção não deixa de ser divertido.
O personagem deste relato é conhecido na cidade onde moro com o apelido popular de “Cateto”. Por que seu apelido é “Cateto”?! Sinceramente eu não sei. Só sei que todos o conhecem por este apelido.
O fato ou ficção acontecera há algum tempo passado, naquela ocasião Cateto coabitava com uma mulher afro descendente, muito simpática, honesta e principalmente trabalhadora. Era uma mulher magra e de estatura franzina, porém trabalhadora e ótima Dona de Casa.
O Cateto homem também de pequena estatura e magricelo, na época apreciador contumaz de uns “gorós”[1], vestia com trajes simples de um matuto, e exibia em sua cabeça um chapéu preto imitando os cowboys americano. Desse modo Cateto encontrava-se em um final de tarde, em um boteco próximo a rodoviária tomando cachaça e já se encontrava trôpego, devido às diversas doses já ingeridas.
Cateto estava na fase alcoólica do “Leão” misturado com a do “macaco”, saltitava de um lado do outro do recinto do pequeno estabelecimento, falando alto e de forma ameaçadora para aqueles que não o conheciam. Cateto sempre foi uma pessoa pacífica.
No mesmo recinto encontravam-se mais alguns homens, moradores da zona rural do município, que ali estavam talvez com a intenção de pegar Ônibus da noite, e, enquanto esperavam a hora, tomavam uma bebida ou simplesmente sentavam nas mesas do estabelecimento aguardando a tempo passar.
Porém estas pessoas decerto não conheciam o meu amigo “Cateto”, que como antes falado, estava “roncando grosso”[2] pelo estabelecimento, e olhando para os presentes, falava em tom ameaçador de como era perigoso (fato que nunca o fora) e que com ele “a coisa era na bala” etc...etc...e tal.
Os seus espectadores estavam em silêncio evitando até mesmo de encarar o “valente” e “perigoso” homem que ali se encontrava. Talvez imaginassem eles, ser aquele elemento com seu negro chapéu, um perigoso pistoleiro lá das bandas da baiana, rápido no gatilho e no desejo de matar.(só se fosse um camelo. Rsss.).
Minutos mais tarde, entra no recinto sua companheira, talvez atendendo a um chamado do dono do estabelecimento, e viera para levar o Cateto embora vez que este estava a incomodar os demais fregueses com sua então contumaz bebedeira.
Cateto vendo sua companheira dizendo para ele que estava na hora de ir para casa, imediatamente relutou, decerto dizendo que ficaria mais um pouco, o que a levou a dar-lhe um safanão pelo braço puxando para fora do boteco obrigando que fosse embora dali. Com esta atitude Cateto quase jogado pela mulher para fora do pequeno bar, deixou cair o chapéu no chão cascalhado da rua na época ainda não pavimentada.
Imediatamente Cateto abaixou para pegar seu lustroso e negro chapéu, e virando para os demais homens que ainda estavam no recinto do boteco, foi logo dizendo, que se estes rissem ele voltaria.
Até hoje fico a imaginar se isto realmente teria acontecido, e se aconteceu, como se portaram as demais pessoas que estavam ali no recinto, vendo aquele homem que a pouco momento antes temiam, sendo levado para casa pela mulher magrinha que aos “trancos e barrancos” lhe puxava pelos braços.
Todo vez saio do meu escritório e vejo meu velho conhecido Cateto, pegando as folhas da antiga Figueira que insisti em cair no pátio do hospital municipal onde ele trabalha, fico a indagar-me, será que realmente aquilo teria acontecido?!? O caso é hilariante e demonstra claramente que as aparências muitas das vezes nos enganam.
NILTON FLÁVIO RIBEIRO (niltonflavioribeiro.blogspot.com) 29/12/2009.


[1] Denominação popular a bebida alcoólica, o mesmo que cachaça, pinga, água que passarinho não bebe.
[2] Contando vantagem, dizendo bravatas.

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