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sábado, 28 de dezembro de 2013

PERSEGUINDO A VINGANÇA - 14ª PARTE.




                   Chegado o domingo tão desejado pela jovem e crente Rosilda, está aguardava apreensiva pela chegada da noite, quando o seu amado viria em seu encontro para ambos assim seguirem em direção ao culto.
                   A ensolarada tarde, dava ares de sucumbir pela chegada da noite, pois o sol já escondera por detrás da serra calcária que delimitava a cidade pelo seu lado oeste. Rosilda de banho tomado escolhia uma roupa entre o seu singelo e parco vestuário, com o evidente escopo de embelezar-se para o homem de sua vida. A escolher o vestido azul com bolinhas brancas o colocara sobre a cama, alcançando uma escova sobre a velha penteadeira, cujo espelho a muito se encontrava quebrado somente sendo seguro pela sua moldura de madeira.
             A jovem sentou-se na cama ao lado do vestido e olhando-se no espelho trincado de sua penteadeira, procurando a parte menos danificada do mesmo, colocou-se a escovar suas negras e longas madeixas pensando consigo mesma que se o seu amado iria acha-la bonita.
                   Em cima da mesma penteadeira, estava seu “Novo Testamento”, que de novo mesmo somente era o nome pois o livro dito sagrado de tanto manuseio estava com algumas páginas a se soltar e a capa amarrotada pelo uso excessivo. Rosilda tentou alcança-lo e ele escapando dos seus delicados dedos caiu aberto no piso do seu quarto, na pagina do sermão da montanha, onde ela ao alcançá-lo pode ler o versículo que dizia “bem aventurados os que têm sede de Justiça, pois serão saciados.”
                   A jovem mulher, leu com atenção redobrada o versículo e na solidão do seu quarto mergulhou em seus pensamentos acreditando que o seu Salvador estaria falando com ela naquele momento.
                 Foi quando o silêncio do seu quarto fora quebrado pela voz de sua genitora que com seu jeito simples e caboclada anunciava a chegada do seu amado.
­             _ Rosirda, seu namorado chegô!!! – Disse a velha senhora para sua filha que ainda estava em seu humilde quarto.
       _Tá lá fora do portão te esperando, sentado no cepo. – Completou a velha.
           Rosilda procurou se apressar em terminar de arrumar-se, pois logo entraria na Igreja de braços dado com seu amado, como sempre sonhara, havia chegado a hora de mostrar para os seus amigos e conhecidos fiéis irmãos como ela afirmava, que seu amado logo estaria entre eles, para os cultos de adoração a Jesus o Salvador. Ela iria conseguir sua confirmação, sua conversão e até seu batismo pelo Espírito Santo, e ele que sempre havia estado distante acabaria aceitando Jesus como seu Salvador.
            Com pressa alcançou sua Bíblia e o hinário que estava sob a penteadeira, e dirigiu-se para fora da casa em direção a rua, onde avistara seu amado sentado no banquinho de tábuas fixo em frente de sua casa ao lado do seu portão. Banco este onde trocavam constantes juras de amor. 
           O jovem Tião vestia uma camisa branca e uma calça de brim do tipo “jeans”, porém calçava uma botina, destas muito usadas no meio rural, porém impecavelmente limpa e engraxada, e quando viu sua amada apontando no portão toda arrumada e perfumada, abriu um grande sorriso de alegria e admiração.
        _Vamô mué, não vai querer chegar tarde no curto! – Falou Tião a sua amada, que  muito vinha insistindo para que ele a acompanhasse a Igreja.
          Rosilda se aproximou de Tião colocando seus braços em torno do seu pescoço em seguida desferindo-lhe um beijo selando assim seu amor e sua gratidão pelo namorado. Ambos deram as mãos e caminharam em direção a Igreja.
           À tarde ensolarada do belo Estado Matogrossense ia dando lugar a noite que se aproximava. O Sol já havia escondido por detrás da serra, e começava a aparecer algumas estrelas naquele azul infinito límpido e sem nuvens que marcava o período das secas.
           Os últimos pássaros já haviam se escondidos entre as grandes mangueiras muitos frequentes nos quintais. Agora o que via voando no céu ziguezagueando de um lado para outro em busca de insetos eram os grandes morcegos. Outras espécies voavam em torno das árvores frutíferas em busca de um suculento fruto. Mariposas começavam a surgir buscando a luminosidade das luzes dos parcos postes existentes por ali e das que vinham das casas que ainda estava de portas abertas.
           Algumas crianças ainda corriam pelas ruas sem pavimentação e esburacadas daquele bairro pobre. Era pega pega, pique salvo, alguns ainda insistiam em correr atrás de uma bola até quando a enxergassem. Risos e nomes feios se entremeavam em algazarras.
                  Por outro lado, as meninas que com suas cantigas de rodas se divertiam nas calçadas longe da agitação dos meninos. Tudo aquilo era bonito para Tião, que teve uma infância diferenciada, distantes de amigos e dos piques esconde. Sua diversão consistia em correr entre as árvores, pescar e nadar no Arinos e nos demais córregos e sangas de sua região.
                Subir em árvores, caçar de espera nos “puleiros”[1] e acompanhar seu saudoso pai nas caçadas de catetos e queixadas em companhia da “guaipeca”[2] Futrica, sua cachorra de estimação. Ele lembrava do seu pai, quando alguém perguntava a raça da cachorra, ele respondia com o ar de matreiro e de deboche que era “guaivira”, cruzamento de “guaipeca” com vira lata. 
                  Assim foi caminhando o jovem casal de braços dados em direção a Igreja, felizes e apaixonados.

CONTINUA.......


[1] Puleiro: local utilizado para caça de espera. É feito com varas  de madeira reforçada, pregada ou marrada entre duas árvores próximas de uma ceva, seja saleiro ou árvores frutíferas.
[2] O mesmo que Vira Lata. Cachorro sem raça definida.

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