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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

PERSEGUINDO A VINGANÇA – 10ª PARTE



                    Rosilda a meiga garota evangélica, tinha nas mãos uma Bíblia, e costumava visitar Dona Dita com o propósito de Evangelização. Nos domingos após o culto dominical, passava horas lendo para a velha senhora trechos dos versículos do Novo Testamento. Naquele domingo, no entanto, sua leitura estaria prejudicada já que Dona Dita tinha visita.

                   _ Vem cá menina de Deus, que eu quero apresentá um amigo do Pedro, que hoje vai cume aqui em casa. – Disse Dita a Rosilda, que naquele momento era conduzida pela velha para o fundo do quintal, onde encontrava-se o velho Pedro e o jovem Tião.

                   _ Prazer. Disse Rosinha estendendo as mãos para Tião.

                  _ O prazer é todo meu. Respondeu Tião segurando a mão da meiga garota. Suas mãos não eram tão macias, evidentemente devido as constantes lides domésticas, já que Rosilda era de família humilde. Porém isto para Tião pouco importava, pois ele também tinha origem na miséria deste grande país.

                   O dois casais sentaram a sombra de mangueira  em animada prosa, que vez e outra era interrompida por risos e gargalhadas, das “estórias” contadas pelo Velho Pedro.

                   Uma das “estórias” de Pedro, que Rosilda não cansava de ouvir, era a do “Pé-de-garafa”, lenda matogrossense, sobre um ser ou uma entidade, que costumava pregar peças nos caçadores. A lenda diz ser o Pé-de-garrafa um monstro que assombra o sertão. Por onde passa, deixa pegadas redondas, que lembram o fundo de uma garrafa. Vive nas matas e solta gritos amedrontadores. Multiplicado em várias direções, eles atordoam e enlouquecem quem os ouve. Os caçadores acabam perdidos para sempre.

                   _Uma certa ocasião. – Dissera o Velho. _ Lá pás bandas do córgo frio, um “Baiano” a pouco dias chegado da Bahia, que tinha pegado uma empreita de roçada de juquira, foi fazê uma espera de Paca, bem de baixo de um pé de Tucum, que estava derrubando os cocos. Amarrô sua rede, entre dois pé de Embaúba e lá empulerado ficou esperando a bichinha vir pra mode cumê. Numa certa artura, apareceu o “Pé-de-garafa”, e foi logo dizendo. “é hoje baiano, que nós vamo acertá nossa conta”. O Baiano arrepiô os cabelos do congote, e disse “não vem não se não eu prégo fogo”, e apontou a espingarda em direção donde vinha a prosa. No mesmo instante, o baiano escutou, falar, “cortá o punho da rede e derruba o cabra”. Foi quando baiano despencou de cima do puleiro, disparando sua arma ao leu, e saiu correndo da mata e até hoje não foi mais buscá a rede e nem mais caçá. – Concluiu o velho, o conto que a muito tem lhe acompanhado.

                   Rosilda tentando explicar tais acontecidos, como uma boa evangélica, já culpou o Diabo, dizendo que o “Pé-de-garrafa”, era um demônio que habitava a mata.

                   Tião ria muito, e achava engraçada a preocupação da doce e meiga garota, lembrando que havia morado muito tempo na selva amazônica no conhecido Vale do Rio Arinos, e nunca vira o tal monstro que dizem assombrar os caçadores.

                   Algum tempo depois, Dona Dita, gritou lá da cozinha.

                   _ A bóia tá na mesa pessoar!!!.. Avisando que o almoço já se encontrava servido.

                   Todos lavaram as mãos em uma bacia de alumínio amassada, que se encontrava próximo ao poço perto da tábua de lavar roupa e depois se dirigiram a sala onde estava  preparada a singela mesa. Havia um recipiente com arroz, outro com feijão, o frango ao molho estava esfumaçando, ao lado de uma travessa de macarronada. Havia também uma pequena panela com abobrinha refogada. Os talheres eram compostos por pratos de louça desbocados, e alguns talheres amassados. Porém impecavelmente limpos.

                   Deglutiram o almoço com muita conversa e risos, e após foram sentar aos fundos da casa sob a sombra da frondosa mangueira, foi quando Rosinha falou dirigindo ao Jovem Tião.

                   _ Tião hoje é dia de curto na Assembléia de Deus, você não qué mi acompanha?!

                   O Jovem respondeu em tom de brincadeira:

                   _ Naquela Igreja onde Deus é surdo?!?

                   Rosinha corou seu bonito rosto, frente ao dito pelo pretendente e respondeu.

                   _ Pára Tião, de brincadeira. Deus castiga !

                   Tião caindo em gargalhada, respondeu à garota:

                   _ Mais não é mué. A gente passa lá e tá só uma gritaeira. Vai vê que eles acha que Deus é surdo!!! Provocando o Riso do Velho Pedro que acabara de bocejar com o sono que batera após a refeição.

                   A menina corando sua meiga face riu meio que sem jeito, já que a brincadeira era contra sua Igreja, que ela tinha apreendido a respeitar desde pequena, porém não deixou que isto a incomodasse levando como brincadeira do jovem Tião, que nela havia despertado tanto interesse.

                   Tião logo em seguida, notando o desconforto da jovem mulher, correu em contornar a situação dizendo que somente estava brincando, e que um dia desses a acompanharia no culto de sua Igreja.

                   Tião, porém não contara aos amigos que todas as noites seus sonos eram incomodados pelos fantasmas do passado, e isto o levava a lembrar de todo o acontecido com seu pai, assassinado brutalmente por pistoleiros lá nas margens do Rio Arinos no Município de Porto dos Gaúchos.



CONTINUA........
                  

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