Rosilda a meiga garota
evangélica, tinha nas mãos uma Bíblia, e costumava visitar Dona Dita com o
propósito de Evangelização. Nos domingos após o culto dominical, passava horas
lendo para a velha senhora trechos dos versículos do Novo Testamento. Naquele
domingo, no entanto, sua leitura estaria prejudicada já que Dona Dita tinha
visita.
_ Vem cá menina de Deus, que
eu quero apresentá um amigo do Pedro, que hoje vai cume aqui em casa. – Disse Dita
a Rosilda, que naquele momento era conduzida pela velha para o fundo do
quintal, onde encontrava-se o velho Pedro e o jovem Tião.
_ Prazer. Disse Rosinha
estendendo as mãos para Tião.
_ O prazer é todo meu.
Respondeu Tião segurando a mão da meiga garota. Suas mãos não eram tão macias,
evidentemente devido as constantes lides domésticas, já que Rosilda era de
família humilde. Porém isto para Tião pouco importava, pois ele também tinha
origem na miséria deste grande país.
O dois casais sentaram a
sombra de mangueira em animada prosa,
que vez e outra era interrompida por risos e gargalhadas, das “estórias”
contadas pelo Velho Pedro.
Uma das “estórias” de Pedro,
que Rosilda não cansava de ouvir, era a do “Pé-de-garafa”, lenda matogrossense,
sobre um ser ou uma entidade, que costumava pregar peças nos caçadores. A lenda
diz ser o Pé-de-garrafa um monstro que assombra o sertão. Por onde passa, deixa
pegadas redondas, que lembram o fundo de uma garrafa. Vive nas matas e solta
gritos amedrontadores. Multiplicado em várias direções, eles atordoam e
enlouquecem quem os ouve. Os caçadores acabam perdidos para sempre.
_Uma certa ocasião. – Dissera
o Velho. _ Lá pás bandas do córgo frio, um “Baiano” a pouco dias chegado da
Bahia, que tinha pegado uma empreita de roçada de juquira, foi fazê uma espera
de Paca, bem de baixo de um pé de Tucum, que estava derrubando os cocos. Amarrô
sua rede, entre dois pé de Embaúba e lá empulerado ficou esperando a bichinha
vir pra mode cumê. Numa certa artura, apareceu o “Pé-de-garafa”, e foi logo
dizendo. “é hoje baiano, que nós vamo acertá nossa conta”. O Baiano arrepiô os
cabelos do congote, e disse “não vem não se não eu prégo fogo”, e apontou a
espingarda em direção donde vinha a prosa. No mesmo instante, o baiano escutou,
falar, “cortá o punho da rede e derruba o cabra”. Foi quando baiano despencou
de cima do puleiro, disparando sua arma ao leu, e saiu correndo da mata e até
hoje não foi mais buscá a rede e nem mais caçá. – Concluiu o velho, o conto que
a muito tem lhe acompanhado.
Rosilda tentando explicar
tais acontecidos, como uma boa evangélica, já culpou o Diabo, dizendo que o
“Pé-de-garrafa”, era um demônio que habitava a mata.
Tião ria muito, e achava
engraçada a preocupação da doce e meiga garota, lembrando que havia morado muito
tempo na selva amazônica no conhecido Vale do Rio Arinos, e nunca vira o tal
monstro que dizem assombrar os caçadores.
Algum tempo depois, Dona
Dita, gritou lá da cozinha.
_ A bóia tá na mesa
pessoar!!!.. Avisando que o almoço já se encontrava servido.
Todos lavaram as mãos em uma
bacia de alumínio amassada, que se encontrava próximo ao poço perto da tábua de
lavar roupa e depois se dirigiram a sala onde estava preparada a singela mesa. Havia um recipiente
com arroz, outro com feijão, o frango ao molho estava esfumaçando, ao lado de
uma travessa de macarronada. Havia também uma pequena panela com abobrinha
refogada. Os talheres eram compostos por pratos de louça desbocados, e alguns
talheres amassados. Porém impecavelmente limpos.
Deglutiram o almoço com muita
conversa e risos, e após foram sentar aos fundos da casa sob a sombra da
frondosa mangueira, foi quando Rosinha falou dirigindo ao Jovem Tião.
_ Tião hoje é dia de curto na
Assembléia de Deus, você não qué mi acompanha?!
O Jovem respondeu em tom de
brincadeira:
_ Naquela Igreja onde Deus é
surdo?!?
Rosinha corou seu bonito
rosto, frente ao dito pelo pretendente e respondeu.
_ Pára Tião, de brincadeira.
Deus castiga !
Tião caindo em gargalhada,
respondeu à garota:
_ Mais não é mué. A gente
passa lá e tá só uma gritaeira. Vai vê que eles acha que Deus é surdo!!!
Provocando o Riso do Velho Pedro que acabara de bocejar com o sono que batera
após a refeição.
A menina corando sua meiga
face riu meio que sem jeito, já que a brincadeira era contra sua Igreja, que
ela tinha apreendido a respeitar desde pequena, porém não deixou que isto a
incomodasse levando como brincadeira do jovem Tião, que nela havia despertado
tanto interesse.
Tião logo em seguida, notando
o desconforto da jovem mulher, correu em contornar a situação dizendo que
somente estava brincando, e que um dia desses a acompanharia no culto de sua
Igreja.
Tião, porém não contara aos
amigos que todas as noites seus sonos eram incomodados pelos fantasmas do passado,
e isto o levava a lembrar de todo o acontecido com seu pai, assassinado
brutalmente por pistoleiros lá nas margens do Rio Arinos no Município de Porto
dos Gaúchos.
CONTINUA........
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