Ouvi-se um ruído estridente
de metal, o que acordou o rapaz com um grande sobressalto, fazendo seu coração
palpitar pelo excesso de adrenalina que seu organismo acabara de produzir.
Levantou-se imediatamente da sua cama e vira que o ruído havia vindo da borracharia
em frente onde o borracheiro Vitor já estava a trabalhar, desmontando um pneu
de caminhão. O ruído era proveniente das marretadas que dava no metal com o
propósito de endireitar o aro da roda amassado em consequência de uma pedra ou
um buraco talvez encontrado em seu trajeto.
Tião olhara no seu velho
relógio automático, que herdara de seu pai após a sua morte, e vira que estava
atrasado para o serviço. Chacoalhou o relógio continuamente com o propósito de
lhe dar cordas, correndo em seguida ao pequeno banheiro anexo aos seus aposentos,
onde existia uma pia lavatório fixada do lado de fora de sua parede.
Passou uma água no rosto escovando os dentes em seguida, para correr em direção
as bombas do posto onde iniciaria seu labor.
Ao chegar, fora logo se
desculpando com os amigos de trabalho principalmente com o Marcão, gerente do
posto que o vendo chegar atrasado olhava
para o relógio com o ar de reprimenda. Tião com o fim de justificar seu raro atraso já dirigiu-se ao gerente:
_Descurpa Marcão, é que
fiquei de prosa com o Véio Pedro até tarde e perdi a hora.
_Tá bem, procura não se
atrasar mais. Agora corre toma o café lá na cantina e volta logo para o
serviço. – Disse lhe Marcão aceitando a justificativa do empregado.
Marcão sabia que Tião, desde
que iniciará como empregado do Posto gozava da simpatia do Patrão, que gostara
do jeito simples do Jovem sempre prestativo e disposto a ficar algumas horas a
mais ajudando no movimento do estabelecimento sem nada exigir em troca. Alguns minutos
de atraso, portanto, não traria nenhum prejuízo ao Posto.
Tião olhara ao redor do
estabelecimento e notara que Pedro, seu amigo já havia ido para casa. Caminhou
em direção à lanchonete para tomar seu rápido cafezinho retornando de imediato
para seus afazeres como frentista do Posto de Gasolina.
Quando varria o chão
pavimentado do pátio do posto, próximo às bombas de combustíveis escutou uma
voz que o chamava:
_Escuta aqui o piralho, não
vem me atende não?!
Tião olhou para trás e vira
que havia encostado em uma das bombas de combustível, uma camionete com
carroceria de madeira. O condutor do veículo estava em pé ao lado do mesmo e de forma grosseira e asquerosa falava alto querendo chamar a atenção dos demais frentista do
posto.
_Esta moçada de hoje, são
tudo uma cambada de bosta preguiçoso e vagabundo. Não quer saber de nada.
Tião ouvindo aquilo correu em
atender o homem que esbravejava ao lado da bomba querendo o imediato
atendimento e que naquele momento lhe dera as costas e seguia em direção da
lanchonete e mais de que presa foi perguntando-lhe:
_ Ei moço! É prá completa!?!
_ Encha o taque guri entojado
e para de embromar! – Disse o mal e educado homem enquanto caminhava em direção da
lanchonete.
Tião não dera muita atenção às
deselegâncias daquele sujeito, pois volta e meia aparecia naquelas paragens um
motorista ignorante exigindo tratamento diferenciado e tratando mau os
frentistas empregados. Porém a política da empresa era que o cliente sempre tinha
razão e ele iria cumprir seu compromisso para com o seu patrão.
O jovem frentista abasteceu o
veículo completando o tanque, anotando em seguida a quantidade de litros no bloquete de controle do posto, e de posse de uma mangueira de água, passou
a lavar o para-brisa que encontrava empoeirado e sujo por restos de insetos
esmagados contra o vidro.
Não demorou muito e o
condutor do veículo já estava retornando da lanchonete e chegando próximo a
Tião já foi logo perguntando daquele seu jeito rude e mau educado.
_E daí o pentelho, quanto deu
a facada!?! – Querendo saber do preço que teria que pagar por aquele
abastecimento.
Naquele momento Tião levantou
os seus olhos negros, e fitou o seu interlocutor que até então não tinha
reparado, e o que vira fez seu sangue ferver seu coração disparar ao encher-se
de ódio e sede de vingança. Aquele homem estúpido e mau educado que chegara
ali, era nada menos que o homicida que havia participado do assassinato de seu
saudoso pai. Aquele homem que estava ali era nada mais nada menos que Tião
Bigode. Não havia dúvida alguma em seu pescoço havia ainda aquele horroroso
crucifixo acompanhado de igual figa, que ele havia acrescentado por uma medalha
de Senhora Aparecida dita padroeira deste grande país.
Seu semblante agora era de terror, não somente pelo medo que
naquele momento estava sentido. Este medo não era por covardia, porém pelo
simples receio de que aquele homem o reconhecesse e viesse estragar os seus planos de vingança que a muito vinha alimentando seus dias e suas noites.
O jovem se controlou ao
máximo para não sair correndo dali em direção ao seu aposento e lá de posse de
seu velho revolver retornar e descarrega-lo na cabeça daquele sórdido homem.
Tião respirou profundamente
virou-se alcançou-lhe o controle de abastecimento e educadamente pediu-lhe para
que ele dirigi-se ao caixa onde estava o gerente Marcão para efetuar o necessário pagamento.
Naquele momento não mais fitara e devagar afastou-se dali furtando-se de ser
reconhecido.
Bigode montando em sua arrogância, nem notou o
desconforto que havia causado naquele jovem frentista, pois não era de seu
feitio a observar aqueles que em sua índole maligna seriam pessoas
insignificantes. Dirigiu-se ao caixa do posto pagando pelo combustível para em seguida entrar
em seguida no seu veículo e partir em direção a Nobres.
Tião então caminhou até a
lanchonete do posto pedindo a Dona Nena que lhe servisse um café. Nena vendo a
aparência transtornada do jovem foi logo falando:
_Credo Tião! Parece que viu
sombração?!! – Disse a mulher a Tião.
_Tá branco que nem defunto
menino!!! – Prosseguiu Nena para o jovem que tomava o café em silêncio que ela lhe havia
servido.
_E vi mesmo dona Nena, mais
não foi sombração. – Disse Tião, respondendo as indagações daquela Senhora.
_Vi o caramunhão em
forma de home! - Exclamou-lhe Tião, porém não entrando em detalhes com o intuito de não levantar
suspeitas quanto a sua futura intenção.
_Espera aí que vou preparar
uma água com açúcar para você minino. – Insistiu Nena preocupada com o jovem que ali se
encontrava com ar transtornado.
_Dexa prá lá Dona Nena, já tô
mió. – Disse Tião agradecendo o café e se retirando do recinto caminhando em direção as
bombas e retornar com seus os afazeres cotidiano.
CONTINUA......