Ainda estava escuro
quando Tião se colocara de pé. Uma fresca brisa soprava o chão cascalhado do
pátio do posto, trazendo consigo um delicioso frescor misturado com o odor
molhado da vegetação pelo orvalho da madrugada.
No horizonte emoldurado
pela silhueta dos morros, um tímido clarão prenunciava a aurora de mais um dia
de luta. O jovem Tião caminhou apressado em direção à lanchonete do Posto, de
onde vinha um suave cheiro de café fresco. Os caminhoneiros que pernoitaram no
pátio já aqueciam o motor dos seus veículos impregnando o ar com a fumaça de
óleo diesel.
Aos poucos o silêncio
matutino ia sendo tomado pelo ronco dos motores, deixando o posto pegando a
estrada empoeirada, uns retornando em direção a Cuiabá e outros seguindo rumo
ao nortão do Estado, levando Tião a segui-los com os olhos até que sumissem sob
a poeira que levantava da estrada sem pavimento.
Os primeiros clientes
do posto, já encostavam seus veículos próximo as bombas de combustíveis
esperando ser abastecidos. Muito destes moradores da pequena Rosário, que
seguiam rumos aos seus afazeres, nas proximidades da cidade e na zona rural.
Tião correu atender
os clientes, com uma felicidade que a muito não expressava em seu revoltoso
semblante.
_Bom dia, é prá completa?!! – Perguntava Tião
aos clientes já com a mangueira de abastecimento em punho, e assim ia atendendo
a clientela correndo de uma bomba a outra.
Vez ou outra aparecia
um cliente, comentando ainda do assassinato ocorrido dois dias antes. Diziam
que o autor dos disparos continuava a ser desconhecido, e que a Polícia nem
sequer tinha um suspeito. Como se a Polícia tivesse interesse de investigar os
diversos crimes que ocorria naquela região.
Tião sabia que corria
o boato que no quartel da Polícia Militar existente as margens da rodovia, eram
da onde saia os mais temidos pistoleiros de Mato Grosso.
A Polícia Civil, era
um bando de “bate pau” mal remunerados que eram contratados pelo Governo para
não fazerem nada, ou melhor, quase nada, pois volta e meia extorquíam um motorista
ou um cidadão qualquer em busca de uns trocos.
Tião lembrara um fato
que outrora escutara no boteco do sapecado, de um Delegado de Polícia que
nomeado pelo Governo passara por aquelas bandas.
Escutou ele uma
passagem contado pelo Julinho dono do boteco, que este delegado, um Mineirinho
franzino e corrupto, aproveitou um entrevero acontecido entre as putas da zona
do quilometro 14, com uns vendedores ambulantes de roupas e enxovais metendo-os
no xilindró somente com o propósito de extorquir dinheiro deles.
O delegado
Mineirinho, mancomunado com as Meretrizes e acobertados pelos seus agentes bate
paus, tiraram uma grana preta dos ambulantes ficando ainda com grande parte da
mercadoria que eles tinham para venda.
Tião lembrara também
que quando mataram seu pai, Polícia nenhuma se interessara pelo ocorrido, pois
era um pobre lavrador que havia sucumbido sob os disparos de uma “chumbeira”[1] a
mando de um poderoso e rico Fazendeiro.
Ao lembrar do
assassinato do seu velho pai, brotou novamente em seu peito o propósito de
vingança, que por alguns momentos havia esquecido diante da morte de um dos
algozes. Tião lembrou daquela horrenda figura conhecida por Tião Bigode, que
vez ou outra aparecia lá no posto para abastecer seu veículo.
Seu peito encheu-se
novamente da sede vingativa, o fermento que o teria trazido para Rosário que o
impelia a seguir em frente em busca de por fim, saciá-la. O dia havia passado
rápido e Tião nem percebera.
O gerente do Posto já
estava cadeando[2] as
bombas, quando o Jovem dirigia-se rumo à borracharia onde tinha seu quartinho
em anexo.
Lavou-se e dirigiu-se
a lanchonete para comer algo antes de dormir, e ao retornar ao seu humilde
aposento, mirou o céu e respirou fundo a brisa fresca e perfumada da noite. No
céu tímida e crescente a Lua mostrava que dias seguintes ela estaria
esplendorosa em total luminosidade.
O jovem vingador,
entretanto, esqueceu um pouco do seu ódio, para lembrar-se de sua amada Rosilda,
e ao fechar os seus olhos, podia
recordar do perfume suave que exalava dos seus negros cabelos. Dos beijos ardentes naqueles
lábios trêmulos e tímidos.
Chacoalhou sua cabeça
de um lado para outro, tentando neutralizar aqueles doces pensamentos, pois
ainda tinha sua promessa a cumprir, e o amor haveria de por hora, estar em
segundo plano, pois o que ele precisava era o oposto.
Foi até seu aposento
onde escondia sua arma pegando-a
desmuniciou-a para em seguida empunhá-la com firmeza mirando-a em um alvo imaginário.
_ Tau! Tau! Tau! Seu
dia está chegando Tião Bigode, vou ti mandar pro capeta seu filho da puta!!! –
Murmurou Tião baixinho recôndito em sua solidão.
Logo depois, encostou
sua cabeça no travesseiro de penas suado de sua cama para cair nos braços de orfeu.
CONTINUA.....
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