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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

PERSEGUINDO A VINGANÇA - 20ª PARTE.



                
     Ainda estava escuro quando Tião se colocara de pé. Uma fresca brisa soprava o chão cascalhado do pátio do posto, trazendo consigo um delicioso frescor misturado com o odor molhado da vegetação pelo orvalho da madrugada.

     No horizonte emoldurado pela silhueta dos morros, um tímido clarão prenunciava a aurora de mais um dia de luta. O jovem Tião caminhou apressado em direção à lanchonete do Posto, de onde vinha um suave cheiro de café fresco. Os caminhoneiros que pernoitaram no pátio já aqueciam o motor dos seus veículos impregnando o ar com a fumaça de óleo diesel.

     Aos poucos o silêncio matutino ia sendo tomado pelo ronco dos motores, deixando o posto pegando a estrada empoeirada, uns retornando em direção a Cuiabá e outros seguindo rumo ao nortão do Estado, levando Tião a segui-los com os olhos até que sumissem sob a poeira que levantava da estrada sem pavimento.

     Os primeiros clientes do posto, já encostavam seus veículos próximo as bombas de combustíveis esperando ser abastecidos. Muito destes moradores da pequena Rosário, que seguiam rumos aos seus afazeres, nas proximidades da cidade e na zona rural.

      Tião correu atender os clientes, com uma felicidade que a muito não expressava em seu revoltoso semblante.

      _Bom dia, é prá completa?!! – Perguntava Tião aos clientes já com a mangueira de abastecimento em punho, e assim ia atendendo a clientela correndo de uma bomba a outra.

     Vez ou outra aparecia um cliente, comentando ainda do assassinato ocorrido dois dias antes. Diziam que o autor dos disparos continuava a ser desconhecido, e que a Polícia nem sequer tinha um suspeito. Como se a Polícia tivesse interesse de investigar os diversos crimes que ocorria naquela região.

     Tião sabia que corria o boato que no quartel da Polícia Militar existente as margens da rodovia, eram da onde saia os mais temidos pistoleiros de Mato Grosso.

     A Polícia Civil, era um bando de “bate pau” mal remunerados que eram contratados pelo Governo para não fazerem nada, ou melhor, quase nada, pois volta e meia extorquíam um motorista ou um cidadão qualquer em busca de uns trocos.

     Tião lembrara um fato que outrora escutara no boteco do sapecado, de um Delegado de Polícia que nomeado pelo Governo passara por aquelas bandas.

     Escutou ele uma passagem contado pelo Julinho dono do boteco, que este delegado, um Mineirinho franzino e corrupto, aproveitou um entrevero acontecido entre as putas da zona do quilometro 14, com uns vendedores ambulantes de roupas e enxovais metendo-os no xilindró somente com o propósito de extorquir dinheiro deles.

     O delegado Mineirinho, mancomunado com as Meretrizes e acobertados pelos seus agentes bate paus, tiraram uma grana preta dos ambulantes ficando ainda com grande parte da mercadoria que eles tinham para venda.

     Tião lembrara também que quando mataram seu pai, Polícia nenhuma se interessara pelo ocorrido, pois era um pobre lavrador que havia sucumbido sob os disparos de uma “chumbeira”[1] a mando de um poderoso e rico Fazendeiro.

     Ao lembrar do assassinato do seu velho pai, brotou novamente em seu peito o propósito de vingança, que por alguns momentos havia esquecido diante da morte de um dos algozes. Tião lembrou daquela horrenda figura conhecida por Tião Bigode, que vez ou outra aparecia lá no posto para abastecer seu veículo.

Seu peito encheu-se novamente da sede vingativa, o fermento que o teria trazido para Rosário que o impelia a seguir em frente em busca de por fim, saciá-la. O dia havia passado rápido e Tião nem percebera.

     O gerente do Posto já estava cadeando[2] as bombas, quando o Jovem dirigia-se rumo à borracharia onde tinha seu quartinho em anexo.

     Lavou-se e dirigiu-se a lanchonete para comer algo antes de dormir, e ao retornar ao seu humilde aposento, mirou o céu e respirou fundo a brisa fresca e perfumada da noite. No céu tímida e crescente a Lua mostrava que dias seguintes ela estaria esplendorosa em total luminosidade.

     O jovem vingador, entretanto, esqueceu um pouco do seu ódio, para lembrar-se de sua amada Rosilda, e ao fechar os seus  olhos, podia recordar do perfume suave que exalava dos seus  negros cabelos. Dos beijos ardentes naqueles lábios trêmulos e tímidos.

     Chacoalhou sua cabeça de um lado para outro, tentando neutralizar aqueles doces pensamentos, pois ainda tinha sua promessa a cumprir, e o amor haveria de por hora, estar em segundo plano, pois o que ele precisava era o oposto.

     Foi até seu aposento onde escondia sua arma  pegando-a desmuniciou-a para em seguida empunhá-la com firmeza mirando-a em um alvo  imaginário.

     _ Tau! Tau! Tau! Seu dia está chegando Tião Bigode, vou ti mandar pro capeta seu filho da puta!!! – Murmurou Tião baixinho recôndito em sua solidão.

      Logo depois, encostou sua cabeça no travesseiro de penas suado de sua cama para cair nos braços de orfeu.


CONTINUA.....




[1] Espingarda de caça de alma lisa também conhecida por cartucheira.
[2] Colocando cadeados, trancando-as sob chave.

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