Ainda
estava escuro, quando Tião ouviu os primeiros galos cantarem pelas redondezas.
Alguns dos motoristas que pernoitaram no pátio do posto, já acionavam a partida
dos seus caminhões, quiçá, para aquecê-los antes de empreender viajem, trazendo
com o ruído dos motores o odor de fumaça e óleo diesel em combustão.
O jovem colocou-se em pé, dirigindo-se
a torneira Do lavabo existente lado de fora do pequeno banheiro adjacente ao
seu alojamento, levando uma velha toalha
no pescoço, e uma escova de dentes com a pasta já colocada. Após sua
higiene matinal, dirigiu-se a lanchonete para tomar um rápido café e em seguida
dirigir-se as bombas de abastecimento, estava ansioso para escutar os
comentários cotidianos típicos de uma pequena cidade interiorana.
Pedro que ainda estava por
ali, aprontando-se para ir para casa, foi logo lhe falando:
_Morreu mais um ontem à
noite!
_Morreu matado! – Completou o
velho.
Tião mantendo a calma e
mostrando desconhecimento perplexidade e principalmente curiosidade, foi logo
perguntando:
_Gente conhecida?!
_Edi Bala. – Respondeu o
velho.
_Onte os pulicias passaram
aqui, e me contaram que tinha havido um crime e que alguém tinha matado o Edi
perto da casa dele.
_Deram três tiros no peito
dele, bem no coração! Continuou reportando-lhe o velho.
_Mas já sabe quem foi que
matou o sujeito?! – Perguntou-lhe Tião, querendo tirar mais informações do
velho.
_Vai sabê quem foi!?! –
Respondeu Pedro.
_Os Pulicia, disse que pode
ter sido vingança, pois o tar morto não era flor que se cheire, já tinham
matado muita gente de encomenda. – Prosseguiu o velho.
_Na verdade foi uma limpa! – Continuou
o velho demonstrando que o crime pouco lhe abalara ou que lhe trouxesse alguma
surpresa.
O dia todo os comentários que
se ouvia pela cidade era a morte de Edi Bala, ocorrido na noite anterior, porém
ninguém imaginava que o autor dos fatídicos disparos estava ali junto com eles
trabalhando e rindo como sempre fazia. Tião se divertia em ouvir os relatos e
as hipóteses de como o crime havia acontecido.
Uns falavam que a morte dele
havia sido encomendada por um fazendeiro cujo irmão havia sido assassinado e
que supostamente quem teria sido o pistoleiro seria o Edi. Outros diziam que
seria a própria polícia que o havia matado, e assim por diante.
Tião, não sentia remorso pelo
ocorrido, pelo contrário, em seu peito havia regozijo, pois tinham cumprido em
parte a promessa que fizera ao lado do corpo sem vida do seu saudoso pai. Porém
ainda faltava um.
O vento suave da tarde
soprava seus negros cabelos, e ele mirava a sombra dos morros ao longe, vez e
outra seu olhar voltava para a poeirenta estrada e lhe batia a saudade da mãe e
da irmãzinha que um dia deixara em Porto dos Gaúchos.
A noite chegou mansamente
para o Jovem, trazendo-lhe boas recordações do perfume dos cabelos de sua
amada, que ele não via hora de abraça-la, beijá-la e finalmente poder possuí-la
como um homem deseja possuir uma linda mulher.
Sentiu necessidade de
caminhar, pelas ruelas de Rosário, outrora conhecida como “Nossa Senhora do Rio
Acima”, até chegar próximo da Igreja Evangélica que sua amada frequentava,
talvez com o intuito de poder vê-la, nem que fosse por alguns segundos e de
longe. As luzes da Igrejinha estavam apagadas, pois não era dia de culto.
Tião então retornou para seu
quartinho anexo à borracharia, para mais uma noite de descanso, desta vez não
havia fantasmas em seus sonhos, pois no seu íntimo havia certeza de um dever
cumprido.
CONTINUA......
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