No raiar do dia seguinte ao
de ter abatido o objeto de sua vingança, Tião acorda em um sobressalto com um
barulho de metal batido. Era o borracheiro que havia madrugado para consertar
um pneu de caminhão e o ruído estridente era em consequências das marretadas
que dava no aro para solta-lo.
O
jovem levantou apreensivo, pois queria estar cedo nas bombas para ver os
comentários sobre assassinato de bigode. Lavou-se como de costume e foi de
encontro do velho Pedro que já ajeitava a pequena matula no guidão da
bicicleta.
Pedro ao ver Tião se
aproximando, já foi logo falando:
_Bom dia minino!!! Nem vi ôce
chegar onte!
Pedro estava um pouco sem
graça por que sabia que havia dormido no serviço e em consequência da soneca
não vira quando Tião chegara.
_Bom dia véio, quais são as
novas?!! – Respondeu-lhe Tião com uma pergunta.
Tião não queria deixar o seu
amigo constrangido, sendo assim nem tocara no fato de quando chegou o velho
dormia no banco de madeira existente na frente do posto.
Pedro então, prosseguindo com
sua prosa matinal, já foi logo dizendo:
_É parece que a noite lá pro
lado da zona, foi um poco agitado!!! Vi us pulicia indo e vortando pelas ruas,
como se procurassem alguém.
_Mas até agora não sei o que
aconteceu?!! – Prosseguiu o velho.
Tião esboçou um leve sorriso
de satisfação e caminhou em direção à lanchonete. Tinha que comer alguma coisa
antes de se entregar aos seus afazeres cotidiano. E assim o fez.
Seus colegas de trabalho já
se agrupavam próximo às bombas de combustíveis comentando os últimos acontecimentos.
Tião aproximou deles demonstrando ar de curiosidade como se não soubesse, que
Bigode o temido pistoleiro jaz estava com o Demônio queimando no fogo eterno do
inferno.
_Aconteceu argo Zé Antonio?!!
– Tião indagou ao seu colega de serviço, pois sabia que o frentista era
conhecido de Bigode.
_Pois é Tião, não é que
mataro o Bigode lá na zona noite passada!!!
_Vixe!!! Como assim mataro?!!
– Perguntou-lhe Tião.
_Mataro com um montão de
tiro!!! Tão falando que devia ser uns três ou quatro pistoleiro que o mataro. –
Prosseguiu Zé Antonio relatando os acontecimentos para seu interlocutor, sem se
quer desconfiar, que o verdadeiro autor dos disparos estava ali bem na sua
frente.
_Nossa, que coisa?!! –
Respondeu-lhe Tião procurando demonstrar-se surpreendido pela notícia.
_Já sabe quem foi os
cabras?!! – Prosseguiu Tião com suas indagações.
_Vai sabe?!!! O povo lá só
escutou os pipoco e não viro mais nada. – Prosseguiu Zé Antonio com suas
narrativas.
Neste momento Pedro
aproximava do grupo para escutar a conversa e saber mais detalhes, já que ainda
não estava a par dos acontecidos.
Então mataro o homê?!! –
Perguntou Pedro aos frentistas.
_Pois é véio, foi lá na zona.
– Respondeu-lhe Tião.
_Enchero ele de bala!!! –
Prosseguiu o jovem vingador ainda querendo mostrar surpresa.
_Mais um urutu foi pro
saco!!! – Afirmou Pedro para os frentistas que ali se encontravam.
O dia todo o assunto da
cidade foi à morte do temido pistoleiro Tião Bigode.
Tião guardava para ele aquela
sensação do dever cumprido, pelo menos dois dos que participaram diretamente do
assassinato de seu pai estavam mortos.
Terminando seus afazeres no
posto, Tião correu para o seu alojamento banhou e trocou-se, para ir ao
encontro de Rosilda. Tinha que dizer para ela os seus sentimentos e pedi-la em
casamento. E assim o fez.
Ambos trocaram juras, se
abraçaram e se beijaram e depois caminharam felizes pelas ruas da cidade.
Tião dissera para a namorada
que em todo este tempo havia economizado um dinheirinho com o propósito de
comprar uma casa.
Dissera para Rosilda que no
domingo iria ver uma pequena casa localizada do outro lado da BR e se tudo
desce certo iria buscar sua mãe e sua irmã para morar com ele e em seguida
casar com aquela que ele havia escolhido para ser sua para o resto da vida.
E assim o fez Tião, somente voltando para
Porto dos Gaúchos para buscar sua mãe e irmã. Em
seu retorno para Porto dos Gaúchos, ficou sabendo pelo Julinho do boteco no sapecado,
que Durval José Pereira, o fazendeiro suposto mandante da morte de seu pai
havia falecido por uma doença grave. Havia morrido em um hospital de São Paulo
com câncer no fígado.
Tião ouvindo aquilo pensou
que aquela vingança ficou a critério de Deus. Aquele homem fora o responsável
por sua ira e a busca por vingança.
A sede de vingança já não
mais existia dentro do peito daquele homem que tinha sido forjado no ódio e em
uma promessa feita ao lado de um corpo sem vida.
Agora Tião só pensava em retornar
a Rosário para casar-se com Rosilda, naquela Igrejinha evangélica onde avistara
Edi sua primeira vítima início de sua vingança. E assim fez Tião.
Tempos mais tarde, parado no
quintal de sua casa ao entardecer de um domingo, observou sua mãe conversando
com sua esposa Rosilda, sob a sombra de um cajueiro, ambas estavam felizes e
isto era o que mais lhe importava. Sua irmãzinha brincava ao lado com um
filhote de vira lata que este havia arrumado.
Olhou para longe e avistou a
Serra, coberta da vegetação do serrado. Uma suave brisa soprou sua face
sorridente trazendo consigo um leve perfume de flores.
Mirou o céu e o viu aos
poucos sendo pintados por inúmeras estrelas. Respirou fundo e sorriu com
satisfação, pois agora somente havia paz em seu peito.
FIM.
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