Era uma tarde chuvosa de uma
quinta feira de outubro. No correr do dia havia precipitado uma boa quantidade
de chuva molhando a terra e limpando a poeira fina esbranquiçada que cobriam os
telhados das casas.
A chuva também lavara as
folhas dos arbustos da beira da BR, que devido ao circular dos veículos pelas
estradas sem pavimento cobriam de poeira as plantas que margeavam o trajeto.
Ainda estava chuviscando,
espalhando um suave cheiro de terra molhada enchendo o peito do jovem frentista
de saudade de sua morada nas margens do formoso Rio Arinos. Sentia saudades de
sua mãe e de sua irmãzinha deixadas lá no Sapecado.
Quase por volta de encerrar
seus serviços de frentista, estava Tião lavando o para-brisas do veículo de um
cliente, quando vira passando por frente do Posto, a camionete de Tião Bigode
rumo a zona de meretrício nos arrabaldes da cidadezinha.
O jovem Tião pensando consigo
mesmo, foi logo matutando, que aquela noite seria propícia para matar uma cobra
venenosa. Estava úmido e as serpentes costumam deixar suas tocas referindo ao
pistoleiro alvo de sua sina.
Após o encerramento do seu
trabalho rumou em silêncio para o alojamento no fundo da borracharia, entrou fechou
a porta sentando-se em sua cama. Em seguida retirou do esconderijo o revólver
que estava embrulhado em um pano.
Abriu seu tambor e conferiu
se estava municiado, depois de constatar que não havia cápsulas no tambor,
tornou a fecha-lo apontando-o para um alvo imaginário sussurrando palavras que
imitavam o disparo.
_ Tau, tau, tau... – Repetiu Tião
como se disparasse sua arma.
Banhou-se rapidamente
vestindo uma roupa escura, decerto para ajuda-lo a esconder na penumbra da rua
mal iluminadas de Rosário.
Pegou o revólver e calmamente
começou a municiá-lo com as cápsulas de bala que trazia junto ao objeto, para
em seguida coloca-lo na cintura cobrindo-o com a camisa.
Dirigiu-se até o banco de
madeira frente à lanchonete do posto, onde estava o seu amigo Pedro e pediu-lhe
a bicicleta emprestada.
_Ué Tião!?! Resorveu dar umas
pedaladas?!! – Perguntou-lhe Pedro querendo puxar alguns instantes de prosa com
o seu jovem amigo.
_ Pois é Véio, tô com vontade
de dar umas vortinhas por aí.
O Velho não notara o ar de
preocupação e tensão na face de Tião.
_ Só por umas horinhas, e já
te devorvo a magrela Véio.
_Não tenha pressa Tião, não
vou a lugar nenhum mesmo. Pelo menos até o dia amanhecer. – Completou o Velho.
_Vê se não dorme Véio. O vão
roba o posto com ocê roncando aí neste banco – Falou Tião com para seu amigo
com o ar de deboche, com o intuito de descontrair um pouco a prosa iniciada,
para em seguida montar na bicicleta e coloca-la a rodar em direção à rua.
Tião atravessou a cidade pedalando
sua condução, entre os buracos e o cascalho solto das ruelas escuras daquelas
bandas.
Enquanto seguia seu trajeto
podia ver ao longe uma luz vermelha que despontava entre as folhas dos
arbustos, identificando a zona de meretrício, onde decerto estaria Bigode um
dos motivos de sua vingança.
Aproximou-se do prostíbulo,
que naquela noite estava movimentada. Era uma casa simples edificada parte de
tijolos e outra parte em madeira.
Tião encostou a bicicleta sob
uma mangueira, e dirigiu-se até a porta do estabelecimento.
Em seu interno, tinham um
salão amplo, com mesas espalhadas na penumbra do ambiente. Aos fundos um balcão
com algumas garrafas de bebidas expostas em uma pequena prateleira, sob um
freezer.
Nas mesas haviam algumas
mulheres sentadas com vestes provocantes, o ambiente estava impregnado de
fumaça de cigarros e perfume barato.
Algumas das damas estavam
acompanhadas sentadas no colo dos fregueses. Em suas mesas haviam garrafas de
cervejas umas vazias e outras cheias.
O salão estendia-se até o
fundo ligando com um corredor que dava para parte externa do estabelecimento,
onde haviam portas que davam para aquele corredor. Tião pode ver que algumas
das mulheres levantavam do salão seguiam
acompanhada em direção aqueles quartos.
Tião permaneceu em pé olhado
ao redor, pois era a primeira vez que estava indo aquele lugar, quando ouvira
uma voz masculina melosa e afeminada lhe dirigindo a palavra.
_E aí gostosão, só vai ficar
olhando!!!
Tião se voltou, e viu um ser
que dele se aproximara. Este ser um homem afeminado trajava uma roupa colada e
colorida. Camiseta curta bem acima do umbigo unhas das mãos e dos pés pintadas
com esmaltes e cútis maquiada como uma mulher.
Suas sobrancelhas estavam
feitas tal qual as mulheres, mas seu corpo e bíceps avantajado revelava o negão
que era aquele ser.
_Espere eu nunca o vi por
aqui, é novo nas paragens?! – Perguntou-lhe o homem.
Tião meio sem jeito
totalmente encabulado, respondeu-lhe de imediato.
_Sim, só tô dando uma oiada e
já vô imbora. – Respondeu Tião aquele ser que dele se aproximava.
Era Marcos, ou Suzete, como
gostava de ser chamado, o cafetão da zona, aquele que arrumava as mulheres e
recebia o dinheiro arrecadado com a venda das bebidas e principalmente do sexo.
Suzete colocou as mãos sobre
os ombros de Tião, para lhe dizer em seguida:
_Se tem dinheiro é bem vindo,
se não a porta da rua é serventia da casa.
Tião respondeu o homem com
educação, dizendo que somente estava ali para conhecer o ambiente, e que outro
dia viria com mais tempo.
_Então fique a vontade, se
quiser tomar uma cerveja e só pedir, se quiser uma mulher também, só se você
não gosta de xoxota?!! – Falou-lhe Marcos com ar sátiro em sua voz afeminada.
Tião ignorou a conversa e
colocou-se a caminhar lentamente pelo salão, olhando para todos os lado, como
se estivesse estudando-o com cautela.
Saiu pelo corredor e pode
observa que a camionete de Tião Bigode estava estacionada próximo ao último dos
quartos, bem no final do corredor.
O jovem caminhou devagar,
pelo corredor de portas, onde haviam alguns homens abraçados com algumas
prostitutas, quando passou por eles, estes olharam firmemente para o rapaz, com
o olhar de poucos amigos. Tião prosseguiu examinando cuidadosamente o local até
aos fundos.
Pouco antes de chegar ao
quarto onde acreditava estar Bigode com sua amante, pode ouvir uma discussão
entre um homem e uma mulher seguidos de estalos de tapas e móveis tombando.
A porta se abriu e uma mulher
fora empurrada para fora, caindo ao chão chorando. Tião levantou os olhos e viu
bigode saindo quarto a fora.
Foi quando ouvira atrás de
si, a voz afeminada que momento antes ouvira no salão.
_Bigode seu filho da puta, vê
se para de bater em minhas meninas ou eu chamo os bati paus para colocar você
na cadeia! – Era Suzete que despontou atrás de Tião ao escutar o fuzuê de Tião
Bigode.
Bigode estava com a camisa e
a fivela do cinto aberta. No peito aquele cordão com o crucifixo. Em uma das
mãos ele segurava firmemente um revólver e em outra uma garrafa de cachaça que
vez o outra entornava deixando líquido escorrer pelos cantos da boca.
_Escuta aqui seu viado, eu sou
um fregueis antigo nesta porra de zona, portanto cala sua boca ou enfio uma
bala nesta cara pintada de bicha!!! – Disse Bigode a Suzete mostrando que ele
quem mandava naquela situação.
O nosso Tião então achou um
jeito de se afastar daquele entrevero, vendo que a noite não estava propícia
para seu objetivo.
Foi quando Bigode o conheceu
entre os presentes, e gritou:
_Olha quem é que está aí, o
pirralho do posto!!! Tu tá cheirando a urina ainda moleque e tá rodiando zona.
O jovem não o respondeu, mas
apressou-se em sair do local. Quando já estava montando em sua bicicleta olhou para
trás e viu Bigode agarrando a mulher pelos braços empurrando-a de volta ao
quarto, para em seguida apagar as luzes.
Tião pedalou seu veículo com
firmeza para retornar ao posto. Sua cabeça remoía em pensamentos em achar uma forma
segura para realizar seu objetivo.
Ele já sabia que Bigode era
contumaz frequentador do prostíbulo e que também não se separava de uma arma,
até mesmo quando estava com a vadia que era sua amante.
Enquanto retornara ao posto lembrara-se
dos ensinamentos do seu saudoso pai, do que a “bico de jaca” se mata com um só
golpe na cabeça, pois se acerta no corpo ela ainda pode picar. Referindo o mais
temido réptil peçonhento que habitava a floresta em que se criara.
Quando chegou ao posto pode
ver o velho Pedro com uma garrafa térmica em uma das mãos e um copo em outra,
tomando um cafezinho fumegante.
O velho ao avistar Tião já
foi logo puxando conversa:
_Mais já Tião?!! Pensei que
ia demora mais.
_Qué toma um pouco de café?!!
Completou Pedro.
_Não Véio, brigado, mais já
vou me recoie, amanhã o bicho pega logo cedo.
Tião então caminhou em
direção ao seu alojamento escondendo a arma no lugar de costume e deitou-se
entregando em pensamentos para logo dormir.
CONTINUA.....
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