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quarta-feira, 5 de março de 2014

PERSEGUINDO A VINGANÇA - 23ª PARTE.



                   Era uma tarde chuvosa de uma quinta feira de outubro. No correr do dia havia precipitado uma boa quantidade de chuva molhando a terra e limpando a poeira fina esbranquiçada que cobriam os telhados das casas.
                   A chuva também lavara as folhas dos arbustos da beira da BR, que devido ao circular dos veículos pelas estradas sem pavimento cobriam de poeira as plantas que margeavam o trajeto.
                   Ainda estava chuviscando, espalhando um suave cheiro de terra molhada enchendo o peito do jovem frentista de saudade de sua morada nas margens do formoso Rio Arinos. Sentia saudades de sua mãe e de sua irmãzinha deixadas lá no Sapecado.
                   Quase por volta de encerrar seus serviços de frentista, estava Tião lavando o para-brisas do veículo de um cliente, quando vira passando por frente do Posto, a camionete de Tião Bigode rumo a zona de meretrício nos arrabaldes da cidadezinha.
                   O jovem Tião pensando consigo mesmo, foi logo matutando, que aquela noite seria propícia para matar uma cobra venenosa. Estava úmido e as serpentes costumam deixar suas tocas referindo ao pistoleiro alvo de sua sina.
                   Após o encerramento do seu trabalho rumou em silêncio para o alojamento no fundo da borracharia, entrou fechou a porta sentando-se em sua cama. Em seguida retirou do esconderijo o revólver que estava embrulhado em um pano.
                   Abriu seu tambor e conferiu se estava municiado, depois de constatar que não havia cápsulas no tambor, tornou a fecha-lo apontando-o para um alvo imaginário sussurrando palavras que imitavam o disparo.
                   _ Tau, tau, tau... – Repetiu Tião como se disparasse sua arma.
                   Banhou-se rapidamente vestindo uma roupa escura, decerto para ajuda-lo a esconder na penumbra da rua mal iluminadas de Rosário.
                   Pegou o revólver e calmamente começou a municiá-lo com as cápsulas de bala que trazia junto ao objeto, para em seguida coloca-lo na cintura cobrindo-o com a camisa.
                   Dirigiu-se até o banco de madeira frente à lanchonete do posto, onde estava o seu amigo Pedro e pediu-lhe a bicicleta emprestada.
                  
                   _Ué Tião!?! Resorveu dar umas pedaladas?!! – Perguntou-lhe Pedro querendo puxar alguns instantes de prosa com o seu jovem amigo.
                   _ Pois é Véio, tô com vontade de dar umas vortinhas por aí.
                   O Velho não notara o ar de preocupação e tensão na face de Tião.
                   _ Só por umas horinhas, e já te devorvo a magrela Véio.
                   _Não tenha pressa Tião, não vou a lugar nenhum mesmo. Pelo menos até o dia amanhecer. – Completou o Velho.
                   _Vê se não dorme Véio. O vão roba o posto com ocê roncando aí neste banco – Falou Tião com para seu amigo com o ar de deboche, com o intuito de descontrair um pouco a prosa iniciada, para em seguida montar na bicicleta e coloca-la a rodar em direção à rua.
                   Tião atravessou a cidade pedalando sua condução, entre os buracos e o cascalho solto das ruelas escuras daquelas bandas.
                   Enquanto seguia seu trajeto podia ver ao longe uma luz vermelha que despontava entre as folhas dos arbustos, identificando a zona de meretrício, onde decerto estaria Bigode um dos motivos de sua vingança.
                   Aproximou-se do prostíbulo, que naquela noite estava movimentada. Era uma casa simples edificada parte de tijolos e outra parte em madeira.
                   Tião encostou a bicicleta sob uma mangueira, e dirigiu-se até a porta do estabelecimento.
                   Em seu interno, tinham um salão amplo, com mesas espalhadas na penumbra do ambiente. Aos fundos um balcão com algumas garrafas de bebidas expostas em uma pequena prateleira, sob um freezer.
                   Nas mesas haviam algumas mulheres sentadas com vestes provocantes, o ambiente estava impregnado de fumaça de cigarros e perfume barato.
                   Algumas das damas estavam acompanhadas sentadas no colo dos fregueses. Em suas mesas haviam garrafas de cervejas umas vazias e outras cheias.
                   O salão estendia-se até o fundo ligando com um corredor que dava para parte externa do estabelecimento, onde haviam portas que davam para aquele corredor. Tião pode ver que algumas das mulheres levantavam do salão  seguiam acompanhada em direção aqueles quartos.
                   Tião permaneceu em pé olhado ao redor, pois era a primeira vez que estava indo aquele lugar, quando ouvira uma voz masculina melosa e afeminada lhe dirigindo a palavra.
                   _E aí gostosão, só vai ficar olhando!!!
                   Tião se voltou, e viu um ser que dele se aproximara. Este ser um homem afeminado trajava uma roupa colada e colorida. Camiseta curta bem acima do umbigo unhas das mãos e dos pés pintadas com esmaltes e cútis maquiada como uma mulher.
                   Suas sobrancelhas estavam feitas tal qual as mulheres, mas seu corpo e bíceps avantajado revelava o negão que era aquele ser.
                   _Espere eu nunca o vi por aqui, é novo nas paragens?! – Perguntou-lhe o homem.
                   Tião meio sem jeito totalmente encabulado, respondeu-lhe de imediato.
                   _Sim, só tô dando uma oiada e já vô imbora. – Respondeu Tião aquele ser que dele se aproximava.
                   Era Marcos, ou Suzete, como gostava de ser chamado, o cafetão da zona, aquele que arrumava as mulheres e recebia o dinheiro arrecadado com a venda das bebidas e principalmente do sexo.
                   Suzete colocou as mãos sobre os ombros de Tião, para lhe dizer em seguida:
                   _Se tem dinheiro é bem vindo, se não a porta da rua é serventia da casa.
                   Tião respondeu o homem com educação, dizendo que somente estava ali para conhecer o ambiente, e que outro dia viria com mais tempo.
                   _Então fique a vontade, se quiser tomar uma cerveja e só pedir, se quiser uma mulher também, só se você não gosta de xoxota?!! – Falou-lhe Marcos com ar sátiro em sua voz afeminada.
                   Tião ignorou a conversa e colocou-se a caminhar lentamente pelo salão, olhando para todos os lado, como se estivesse estudando-o com cautela.
                   Saiu pelo corredor e pode observa que a camionete de Tião Bigode estava estacionada próximo ao último dos quartos, bem no final do corredor.
                   O jovem caminhou devagar, pelo corredor de portas, onde haviam alguns homens abraçados com algumas prostitutas, quando passou por eles, estes olharam firmemente para o rapaz, com o olhar de poucos amigos. Tião prosseguiu examinando cuidadosamente o local até aos fundos.
                   Pouco antes de chegar ao quarto onde acreditava estar Bigode com sua amante, pode ouvir uma discussão entre um homem e uma mulher seguidos de estalos de tapas e móveis tombando.
                   A porta se abriu e uma mulher fora empurrada para fora, caindo ao chão chorando. Tião levantou os olhos e viu bigode saindo quarto a fora.
                   Foi quando ouvira atrás de si, a voz afeminada que momento antes ouvira no salão.
                   _Bigode seu filho da puta, vê se para de bater em minhas meninas ou eu chamo os bati paus para colocar você na cadeia! – Era Suzete que despontou atrás de Tião ao escutar o fuzuê de Tião Bigode.
                   Bigode estava com a camisa e a fivela do cinto aberta. No peito aquele cordão com o crucifixo. Em uma das mãos ele segurava firmemente um revólver e em outra uma garrafa de cachaça que vez o outra entornava deixando líquido escorrer pelos cantos da boca.
                   _Escuta aqui seu viado, eu sou um fregueis antigo nesta porra de zona, portanto cala sua boca ou enfio uma bala nesta cara pintada de bicha!!! – Disse Bigode a Suzete mostrando que ele quem mandava naquela situação.
                   O nosso Tião então achou um jeito de se afastar daquele entrevero, vendo que a noite não estava propícia para seu objetivo.
                   Foi quando Bigode o conheceu entre os presentes, e gritou:
                   _Olha quem é que está aí, o pirralho do posto!!! Tu tá cheirando a urina ainda moleque e tá rodiando zona.
                   O jovem não o respondeu, mas apressou-se em sair do local. Quando já estava montando em sua bicicleta olhou para trás e viu Bigode agarrando a mulher pelos braços empurrando-a de volta ao quarto, para em seguida apagar as luzes.
                   Tião pedalou seu veículo com firmeza para retornar ao posto. Sua cabeça remoía em pensamentos em achar uma forma segura para realizar seu objetivo.
                   Ele já sabia que Bigode era contumaz frequentador do prostíbulo e que também não se separava de uma arma, até mesmo quando estava com a vadia que era sua amante.
                   Enquanto retornara ao posto lembrara-se dos ensinamentos do seu saudoso pai, do que a “bico de jaca” se mata com um só golpe na cabeça, pois se acerta no corpo ela ainda pode picar. Referindo o mais temido réptil peçonhento que habitava a floresta em que se criara.
                   Quando chegou ao posto pode ver o velho Pedro com uma garrafa térmica em uma das mãos e um copo em outra, tomando um cafezinho fumegante.
                   O velho ao avistar Tião já foi logo puxando conversa:
                   _Mais já Tião?!! Pensei que ia demora mais.
                   _Qué toma um pouco de café?!! Completou Pedro.
                   _Não Véio, brigado, mais já vou me recoie, amanhã o bicho pega logo cedo.
                   Tião então caminhou em direção ao seu alojamento escondendo a arma no lugar de costume e deitou-se entregando em pensamentos para logo dormir.

CONTINUA.....

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