Dias depois daquele fato
ocorrido na casa de tolerância, Tião estava atendendo nas bombas de
combustíveis quando encostara um veículo para ser abastecido.
Tião dirigiu-se ao veículo para fazer o
atendimento e escutou aquela voz afeminada que em noites passadas escutara no prostíbulo:
_Oi bonitão, pode completar
que hoje tenho que ir em Jangada para contratar mais duas xoxotas para o meu
cabaré.
Era Suzete a bicha que ele
havia conhecido naquela noite quando estivera lá na zona.
Marcão ou Suzete como gostava
de ser chamado, era um mulato que mais puxava para o lado mameluco[1] da
miscigenação brasileira. Ninguém ao certo sabia de sua origem, somente que este
comandava o prostíbulo existente naquelas bandas.
Porém pelo seu tamanho
avantajado colocava respeito no prostíbulo quando algum cliente excedia no
álcool. Suzete logo interferia com o propósito de colocar respeito na situação.
Diziam que Suzete era boa de
briga, e quando provocada distribuía pernada e murros com grande facilidade.
_Oh bonitão, você é o
gostosão daquela noite lá no cabaré, não é?!! – Perguntou Suzete ao frentista, enquanto este abastecia
seu veículo.
Tião respondeu sua pergunta
com um simples gesto afirmativo com a cabeça.
_Apareça lá novamente tomar
umas “bramas” com a gente, sei que naquele dia Bigode estava travado e aprontou
aquele barraco todo.
_Você não ficou assustado não
é?!! – Insistiu Suzete puxando prosa com Tião, que respondeu-o com um sorriso
sem graça e constrangido, receoso que os seus amigos de trabalho ouvisse a
conversa.
_Aquele filho da puta e corno
do bigode, anda intragável e tem espantado os meus clientes. – Prosseguiu
Suzete com sua conversa.
_Vai ver que naquela noite
ele não deu no coro, acho que o corno está ficando brocha. – Continuou Suzete
enquanto alcançava sua “bolceta”[2] no
porta luvas da perua Kombi que estava conduzindo.
Tião a aguardava na porta do
lado do passageiro, enquanto Suzete juntava em sua pequena bolsa o dinheiro
para o pagamento.
Pagou o abastecimento e
deixou o posto em direção a Jangada.
Tião ficou olhando enquanto a
Kombi desaparecia no meio da poeira da rodovia, foi quando lhe veio na cabeça
uma ideia que certamente iria ajuda-lo na sua sina.
Vendo Suzete reclamar do
Bigode, viu nisto uma oportunidade de aproximar do bicha cafetão e assim
estudar o ambiente onde iria matar o último dos pistoleiros que havia matado
seu pai.
Ele precisava de mais
informações sobre Marcão ou Suzete como era conhecido, e nada melhor do que
falar com Pedro a noite quando este viesse para o trabalho. O velho haveria de
ter informações que ele precisava sobre o cafetão.
O Sol começará a querer se
por detrás da Serra, a passarada já faziam seu barulhento e costumero ritual nas árvores
vizinhas em busca de refúgio noturno. Mais um dia estava terminando para Tião
nosso solitário e obsessivo vingador.
Não demorou muito, para que
Tião visse Pedro caminhando no pátio empurrando sua inseparável bicicleta. Como
sempre, trazia uma pequena "matula" pendurado no guidão, onde guardava a velha
térmica com café e talvez algum desjejum que sua velha preparava para que ele
comesse mais tarde.
Foi quando Tião lembrou que
nunca havia visto o velho Pedro pedalando aquela igual bicicleta. O Jovem então dirigiu-se a
Pedro perguntando:
_Ei véio, posso pergunta um
coisa?!!
_Craro que pode minino!!!
Respondeu-lhe Pedro.
_Purque que eu nunca vi ocê
muntado nesta magrela?!! Não sabe andá não?!! – Prosseguiu Tião com suas
perguntas que agora tinha um ar de deboche.
O velho soltou aquela
costumeira risada, e foi logo falando:
_Sabe eu sei, só tenho um
pouco de preguiça em pedalar. Uso ela para pendura a matula e emprestá prós
outros.
Tião agora vira que havia
tornado o centro do deboche, pois o único que vivia emprestando a bicicleta do
velho era ele e ninguém mais.
Se pricisá tá as ordem
minino!!! – Prosseguiu o velho.
Tião agora ria do velho amigo
Pedro, e não demorou responder-lhe:
_Hoje não véio. Hoje não vou
precisa.
_Vai lá para seu banco que
mais tarde vou lá trocar umas prosas com ocê.
Terminado os serviços nas
bombas, Tião caminhou até o banco onde Pedro costumava sentar, e foi logo pedindo:
_Ponha um café aí véio, pra
mim tomá.
Pedro alcançou a "matula" que
já encontrava guardada em baixo do banco, tirando de lá a velha canequinha de
plástico azul e a térmica com o café,
servindo para Tião.
Tião enquanto soprava o café
para que ele não lhe queimasse a boca foi logo dizendo:
_Eh véio, vi um figura
estranha que veio abastece hoje aqui no posto. Não sei se você conhece o cabra?
_Um
tar de Marcão, que os outro frentista disse que ele chama também de Suzete,
você conhece véio?!! – Concluiu Tião.
_Quem num conhece, é o tar
viado que é dono da Zona!!! Nunca conversei cum ele, mas diz por aí que é um
homem perigoso. Rápido na faca e na navaia.
_Ouvi falá que lá na zona do
Coxipó em Cuiabá, ele andou cortando a barriga dum cabra que não queria paga a
conta. Depois veio prá cá e agora cuida da zona daqui. Concluiu Pedro
respondendo as curiosas perguntas do jovem.
_Hum!!! – Manifestou Tião,
satisfeito com as informações do velho.
Tião então despedira do velho
e dirigiu-se para seu alojamento para depois do banho retornar a lanchonete
para jantar como de costume para após ir dormir como era de costume.
CONTINUA....
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por sua participação. Seu comentário está aguardando moderação para depois ser publicado.