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quarta-feira, 12 de março de 2014

PERSEGUINDO A VINGANÇA - 24ª – PARTE.




                   Dias depois daquele fato ocorrido na casa de tolerância, Tião estava atendendo nas bombas de combustíveis quando encostara um veículo para ser abastecido.
              Tião dirigiu-se ao veículo para fazer o atendimento e escutou aquela voz afeminada que em noites passadas escutara no prostíbulo:
                   _Oi bonitão, pode completar que hoje tenho que ir em Jangada para contratar mais duas xoxotas para o meu cabaré.
                     Era Suzete a bicha que ele havia conhecido naquela noite quando estivera lá na zona.
                   Marcão ou Suzete como gostava de ser chamado, era um mulato que mais puxava para o lado mameluco[1] da miscigenação brasileira. Ninguém ao certo sabia de sua origem, somente que este comandava o prostíbulo existente naquelas bandas.
                 Porém pelo seu tamanho avantajado colocava respeito no prostíbulo quando algum cliente excedia no álcool. Suzete logo interferia com o propósito de colocar respeito na situação.
                   Diziam que Suzete era boa de briga, e quando provocada distribuía pernada e murros com grande facilidade.
                   _Oh bonitão, você é o gostosão daquela noite lá no cabaré, não é?!! – Perguntou  Suzete ao frentista, enquanto este abastecia seu veículo.
                   Tião respondeu sua pergunta com um simples gesto afirmativo com a cabeça.
                   _Apareça lá novamente tomar umas “bramas” com a gente, sei que naquele dia Bigode estava travado e aprontou aquele barraco todo.
                   _Você não ficou assustado não é?!! – Insistiu Suzete puxando prosa com Tião, que respondeu-o com um sorriso sem graça e constrangido, receoso que os seus amigos de trabalho ouvisse a conversa.
                   _Aquele filho da puta e corno do bigode, anda intragável e tem espantado os meus clientes. – Prosseguiu Suzete com sua conversa.
                   _Vai ver que naquela noite ele não deu no coro, acho que o corno está ficando brocha. – Continuou Suzete enquanto alcançava sua “bolceta”[2] no porta luvas da perua Kombi que estava conduzindo.
                   Tião a aguardava na porta do lado do passageiro, enquanto Suzete juntava em sua pequena bolsa o dinheiro para o pagamento.
                   Pagou o abastecimento e deixou o posto em direção a Jangada.
                   Tião ficou olhando enquanto a Kombi desaparecia no meio da poeira da rodovia, foi quando lhe veio na cabeça uma ideia que certamente iria ajuda-lo na sua sina.
                Vendo Suzete reclamar do Bigode, viu nisto uma oportunidade de aproximar do bicha cafetão e assim estudar o ambiente onde iria matar o último dos pistoleiros que havia matado seu pai.
                   Ele precisava de mais informações sobre Marcão ou Suzete como era conhecido, e nada melhor do que falar com Pedro a noite quando este viesse para o trabalho. O velho haveria de ter informações que ele precisava sobre o cafetão.
                   O Sol começará a querer se por detrás da Serra, a passarada já faziam seu barulhento e costumero ritual nas árvores vizinhas em busca de refúgio noturno. Mais um dia estava terminando para Tião nosso solitário e obsessivo vingador.
                   Não demorou muito, para que Tião visse Pedro caminhando no pátio empurrando sua inseparável bicicleta. Como sempre, trazia uma pequena "matula" pendurado no guidão, onde guardava a velha térmica com café e talvez algum desjejum que sua velha preparava para que ele comesse mais tarde.
                   Foi quando Tião lembrou que nunca havia visto o velho Pedro pedalando aquela igual bicicleta.  O Jovem então dirigiu-se a Pedro perguntando:
                   _Ei véio, posso pergunta um coisa?!!
                   _Craro que pode minino!!! Respondeu-lhe Pedro.
                   ­_Purque que eu nunca vi ocê muntado nesta magrela?!! Não sabe andá não?!! – Prosseguiu Tião com suas perguntas que agora tinha um ar de deboche.
                   O velho soltou aquela costumeira risada, e foi logo falando:
                   _Sabe eu sei, só tenho um pouco de preguiça em pedalar. Uso ela para pendura a matula e emprestá prós outros.
                   Tião agora vira que havia tornado o centro do deboche, pois o único que vivia emprestando a bicicleta do velho era ele e ninguém mais.
                   Se pricisá tá as ordem minino!!! – Prosseguiu o velho.
                   Tião agora ria do velho amigo Pedro, e não demorou responder-lhe:
                   _Hoje não véio. Hoje não vou precisa.
                   _Vai lá para seu banco que mais tarde vou lá trocar umas prosas com ocê.
                   Terminado os serviços nas bombas, Tião caminhou até o banco onde Pedro costumava sentar, e foi logo pedindo:
                   _Ponha um café aí véio, pra mim tomá.
                  Pedro alcançou a "matula" que já encontrava guardada em baixo do banco, tirando de lá a velha canequinha de plástico azul e  a térmica com o café, servindo para Tião.
                   Tião enquanto soprava o café para que ele não lhe queimasse a boca foi logo dizendo:
                   _Eh véio, vi um figura estranha que veio abastece hoje aqui no posto. Não sei se você conhece o cabra?
                  _Um tar de Marcão, que os outro frentista disse que ele chama também de Suzete, você conhece véio?!! – Concluiu Tião.
                   _Quem num conhece, é o tar viado que é dono da Zona!!! Nunca conversei cum ele, mas diz por aí que é um homem perigoso. Rápido na faca e na navaia.
                   _Ouvi falá que lá na zona do Coxipó em Cuiabá, ele andou cortando a barriga dum cabra que não queria paga a conta. Depois veio prá cá e agora cuida da zona daqui. Concluiu Pedro respondendo as curiosas perguntas do jovem.
                   _Hum!!! – Manifestou Tião, satisfeito com as informações  do velho.
                   Tião então despedira do velho e dirigiu-se para seu alojamento para depois do banho retornar a lanchonete para jantar como de costume para após ir dormir como era de costume.

CONTINUA....


[1] Cafuzo é a designação dada no Brasil aos indivíduos resultantes da miscigenação entre índios e negros africanos ou seus descendentes.

[2] Bolceta – Pequena bolsa.

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