O dia foi chegando com o
burburinho dos pássaros. Algum velho galo das redondezas ainda insistia em
cantar, talvez no afã de demonstrar para os frangotes do terreiro quem ainda
mandava.
O cheiro suave do café e dos
salgadinhos recentemente fritos vinha lá da lanchonete do Posto, aguçando o
apetite de Tião, já que não havia jantado na noite passada que esteve na Igreja
em companhia de Rosilda. O jovem dirigiu-se a Lanchonete para um rápido desjejum
pois logo tinha que pegar no serviço. Os primeiros clientes já estava
encostando para o abastecimento dos seus veículos.
Os camioneiros[1]
que haviam passado a noite no pátio do posto, funcionavam seus caminhões
aquecendo-os para prosseguirem sua solitária viajem.
O funcionamento dos motores
carregava o ar fresco da manhã do cheiro forte de óleo queimado, quebrando de
vez o silêncio matinal daquelas paragens. Veículo saia outros chegavam, uns encostavam-se
às bombas para abastecimento, outros simplesmente estacionavam no pátio para
usarem os banheiros do posto, comer um lanche ou descansar um pouco.
E assim o dia ia passando com
Tião correndo de um lado para o outro, atendendo um e outro que na bomba
encostasse. Nos espaços de tempo, quando amenizava o movimento Tião ficava a
pensar em sua busca e os motivos que tinham o trazido naquela cidade tão
distante de sua família. Batia lhe a saudade de sua mãe e de sua irmãzinha que
ficara no sapecado em Porto dos Gaúchos.
Foi quando Tião resolveu, que
para fazer o que pretendia havia de se afastar-se do seu amor, pois precisava
estar concentrado e com o sangue frio na hora de apertar o gatilho.
Como iria fazer isto? Ainda
não fazia ideia de como falar com Rosilda que precisaria passar um tempo longe
dela, sem que isto lhe trouxesse sofrimento e mágoa. Por outro lado Tião sentia
falta da namorada, seu desejo era ficar todo o momento ao lado daquela que
havia escolhido para ser sua futura esposa.
Nos momentos das briguinhas e
desentendimentos, peculiar de todos namorados, quando ambos ficavam sem
conversar, estes poucos momentos pareciam que virava uma eternidade, aumentando
o fervoroso desejo de ficarem juntos e se entrelaçarem como verdadeiros amantes
em uma alcova flores.
Aquele dia no posto foi muito
movimentado. Veículos partiam e outros chegavam, fazendo com que Tião corresse
de um lado para outro atendendo a clientela.
Mal largava a mangueira de
abastecimento juntava a outra de água para tirar o pó dos para-brisas dos
veículos, e assim foi passando o dia porém dentro de sua cabeça pensamentos fragmentados
iam e viam como se você um martelo lembrando-o de sua sina.
Ao cair da noite, quando o
posto reduzia seu movimento, e alguns camioneiros já estacionavam seus pesados
veículos no grande pátio empoeirado, Tião caminhou em silêncio para o seu
aposento, passando pelos velhos pneus amontoados próximo da borracharia,
procurando evitar as costumeiras conversas do pós trabalho.
Entrou em seu pequeno quarto,
alcançando uma ruída toalha de banho, estendida sob sua cama, pegou um sabonete
e dirigiu-se ao pequeno banheiro adjacente ao lado de seu aposento ao fundo da
borracharia para tomar um banho e em seguida tentar dormir um pouco, já que
suas noites de sono estavam sendo constantemente interrompidas por pesadelos e
o recôndito desejo de vingança.
Ao retornar do seu banho,
buscou o velho revolver que escondia em baixo do seu colchão, enrolado em um pedaço
de cobertor velho colocando a limpa-lo com óleo lubrificante para conter a
ferrugem. Após a costumeira limpeza ele o empunhava desmuniciado apontando-o em
direção da parede e em um alvo imaginário acionava o gatilho, acompanhando o
seu “lencar” com um som de um também
imaginário disparo.
_Tal! Tau! Tal!... – Repetia Tião com o olhar fixo naquele alvo imaginário, que para ele era um dos homens objeto de sua ira
vingativa.
Pegou a arma enrolando-a
novamente no pedaço do cobertor, e a colocou no local de costume para mais uma
noite de conturbado sono.
Os pássaros novamente estavam em ruidoso “burburio” do amanhecer
anunciando a vinda do astro Rei, que já enviava como emissários seus primeiros
raios de luz. O pátio do Posto encheu-se de fumaça de escapamento dos caminhões
que ali passaram a noite e dos quais os camioneiros já aqueciam os motores para
prosseguirem viajem.
Tião levantou como
costumeiramente fazia, alcançou sua escova de dentes a pasta e o sabonete,
dirigiu-se a torneira existente ao lado do banheiro, onde havia uma pequena pia
plástica fixada do lado de fora do mitório[2].
Depois de ter escovado os
dentes lavado seu rosto, dirigiu-se a lanchonete para tomar o seu café e logo
em seguida se atirar aos afazeres cotidianos.
Hoje era o dia que sairia mais
cedo do trabalho, e tinha que ir ter com sua amada para uma boa conversa, onde
certamente pediria sua compreensão por ele ficar um tempo sem poder vê-la.
Ficava tentando arrumar uma desculpa para sua repentina necessidade de
ausentar-se do namoro. Receava que sua
namorada não entenderia seu pedido, e com isto romper com ele para sempre.
Mas tinha que cumprir sua
sina, pois este fora o juramento que fizera frente ao corpo sem vida do seu
amado pai. Era o motivo de estar ali longe de sua mãe e de sua irmã, que
deixará lá no Sapecado ainda município de Porto dos Gaúchos. Faltava-lhe inspiração para inventar uma
história que evitasse que sua namorada viesse a se melindrar e com isto dele se
afastar para sempre.
Tião estava ao lado das
bombas de combustíveis, porém absorto em pensamentos se distraíra com o
movimento do posto, quando repentinamente alguém chamou sua atenção, gritando:
_E aí pentelho! Vai me atender
ou preciso chamar o seu Chefe!?!.
O Jovem ao escutar o chamado,
sentiu seu sangue gelar, pois ele já havia ouvido antes, e foi ali mesmo naquele local de trabalho. Olhou em direção da pessoa que lhe chamara e lá
estava ele, nada mais do que uns do seu objeto de vingança, Tião Bigode com sua
peculiar arrogância de destemido pistoleiro.
Tião contendo sua ira
disfarçando seu desejo de vingança, armou no rosto um riso amarelo, e foi ao
encontro daquela repugnante pessoa, falando:
_É para completá moço ?!
_Põe somente trinta, e veja o
óleo também. - Respondeu Tião bigode, para em seguida dar-lhe as costas e caminhar
em direção à lanchonete do posto.
Tião vendo aquele homem se
afastando da bomba enquanto abastecia, disfarçadamente apontou-lhe o dedo
indicador com os punhos fechados, como se ali tivesse um revolver imaginário e
murmurou um som imitando um estampido para que ninguém ouvisse:
_Pou! Pou! Pou!...
O jovem imaginava aquela
figura escrota repugnante caído ao chão esvaindo-se em sangue e ria
internamente, sendo que no momento imediato seu riso dava espaço para o
insaciável desejo de vingança.
Foi quando Tião decidira em
ir ter com sua namorada Rosilda para falar-lhe que daria um tempo em seu
relacionamento.
Não demorou para que Tião
Bala, retornasse da lanchonete, pagando a conta e saísse dali sem ao menos dar
atenção para o jovem, que tempo mais tarde seria seu algoz.
CONTINUA.....
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