A Igreja o destino do casal
enamorado, localizava-se na esquina de um singelo bairro, tinha sua fachada
feita em alvenaria onde estava escrito “Assembléia de Deus”. O restante do
Templo ainda era feita de tábuas de madeira. O piso em cimento queimado, porém
impecavelmente limpo. Bancos de madeira estavam distribuídos em seu recinto de
forma estratégica facilitando assim o acesso dos fiéis ao seu recinto. Na parte da frente do salão era feito em local mais alto com o intuito de
facilitar a visão de todos os presentes. Era onde se localizava o púlpito.
Tião quando chegou, pode
perceber que todos olhavam para ele, e isto o incomodava, já que era um jovem
simples e pouco tímido. E foi logo perguntando para Rosilda.
_ Purque tão todos me
olhando?!
_ Não liga Tião, é purquê ocê
nunca veio aqui. – Disse-lhe Rosilda tentando confortá-lo frente
aos olhares curiosos dos demais fiéis.
Ao adentrarem ao humilde templo,
viram como estava repleta por fiéis, que notando a presença de um estranho
olhavam curiosamente para trás acrescentando ainda mais desconforto ao
tímido Tião.
_Vamo fica desse lado. - Disse Rosilda escolhendo o lado esquerdo da pequena Igreja próxima ao corredor
da parede, com o evidente propósito de confortar seu namorado inquieto pelos
olhares curiosos dos seus irmãos de fé.
Havia um murmúrio inquieto
dos presentes, de vez em quando alguém tossia ou uma criança choramingava, e
aos poucos a Igreja fora sendo tomada por mais fiéis. Tião pode observar que
muitos dos homens que ali estavam,
apesar de serem pessoas singelas e humildes estavam trajadas adequadamente.Umas vestiam paletós e gravatas simples e baratos, porém impecavelmente
limpos.
Apesar
de ser uma noite de julho, o tempo estava quente, e o calor aumentava dentro da
Igreja pelo grandes números de pessoas que se faziam presente. O jovem ficava
imaginando o calor que estava passando os irmãos dentro daqueles paletós.
Aproximou-se do púlpito um
senhor de cabelos grisalhos, foi quando todos os presentes ficaram em silêncio
esperando seu pronunciamento.
_ Quem é aquele lá em cima? –
Perguntou Tião para Rosilda.
_ É o irmão Paulo, o nosso
Pastor da Igreja. – Respondeu-lhe Rosilda.
O Pastor então já foi logo
dizendo aos presentes.
_ Vamos nos colocar em pé,
para agradecer ao nosso Pai Eterno nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo,
por nos permitir em se fazer presente em sua casa.
_Amém e Glória a Jesus! –
Responderam os fiéis.
Em seguida o Pastor deu
início a uma oração, que vez e outra eram interrompidas por Aleluias e Glórias
a Jesus, gritadas pelos Fiéis presentes. Tião que não estava acostumado com
aquilo, pois raramente ia a uma Igreja, ficou assustado com as interferências e
com aquela gritaria toda parecendo que haviam tomados todos da Igreja, até mesmo
sua namorada, com os olhos cerrados, repetia frases de louvor. Finalizando
a oração, o velho Pastor deu início a um cântico de louvor e todos os
acompanharam cantando felizes por estarem ali.
Sentado ao lado do púlpito
havia outros dois homens vestidos de paletós e gravatas, que acompanhavam o
Pastor em seu cântico e em suas orações. Mais tarde Tião veio, a saber, que
eram os Pastores visitantes.
Com o prosseguimento do
Culto, foi dado a palavras aos Missionários visitantes, que também, oraram e
cantaram com os presentes e após deram início ao sermão.
_ Esta noite Deus está
falando comigo e disse que haverá muitas curas. – Falava o Pregador do seu
púlpito dirigindo-se aos fiéis, que repetidamente diziam:
_Amém! Amém!..
Prosseguiu o pregador com
suas emotivas palavras que chegava aos ouvidos de Tião de forma doce e
confortante, para quem nunca havia ouvido este tipo de sermão.
_Deus está dizendo para mim,
que hoje haverá muitas ofertas para sua obra na terra. Esta dizendo que um
entre vocês irá contribuir com uma considerável quantia para prosseguir com a
construção de sua Igreja.
_Aleluia! – Ouvia-se no
recinto, acompanhado de um intenso frenesi de religiosidade.
O jovem Tião olhava tudo que
estava acontecendo ao seu lado, com certa estranheza e desconfiança, sem entender porque as
pessoas gritavam daquela forma. A princípio sentiu-se assustado com tudo aquilo,
com o passar do tempo, foi se acostumando com todo aquele frenesi. Como o casal
havia escolhido o fundo da pequena Igreja para sentar-se, Tião podia ver quase
todo o salão e as pessoas que participavam do evento daquele dia.
Foi em um desses momentos,
que o jovem visitante da Igreja, olhando todos aqueles que participavam do
Culto, sentiu seu sangue gelar novamente quando notou uma pessoa trajando um
simples paletó e igual gravata, que se sentava logo à frente no lado direito do
pequena Igreja, animado com a pregação que iniciara gritava com fervor e
devoção.
_ Aleluia! Glória a Jesus!.. –
Gritava o homem objeto da atenção de Tião.
_ O Sangue de Jesus tem
poder! Aleluia!.. – Continuava a gritar aquele homem, que para Tião não lhe era
estranho, por se tratar de um dos algozes pistoleiros que havia tirado a vida
do seu saudoso pai. Edinho ou “Edi Bala” como era conhecido no passado, agora
era crente, como já lhe havia adiantado o seu velho amigo Pedro lá do posto.
Daquele momento em diante o
que estava sendo dito dentro daquela humilde Igrejinha, não mais interessava a
Tião, que agora estava tomado de ira e tinha seu coração tomado pela razão que
o trouxera aquela cidade, o seu desejo de vingança.
No término do Culto, Tião sem
nada falar puxou a namorada pelo braço, logo sem seguida e retirou-se da Igreja
as presas, evitando conversar com as pessoas, mesmo diante a insistência de sua
namorada em querer apresentá-lo aos seus “irmãos de fé”, e , em passos rápidos
procurou a afastar-se o mais longe dali.
_ Carma Tião! – Falou-lhe
Rosilda, notando o desconforto do jovem e o seu semblante sério.
_ Fizeram argo para ôce lá no
curto?! – Insistia Rosilda para seu namorado, enquanto este em passos rápidos
vencia os quarteirões estreito da pequena Cidade do Cuiabá acima. Tião permanecia calado e não respondia
as perguntas que sua namorada lhe fazia, com seu jeito simples de cabocla.
_Ocê não gostô do curto?! –
Insistia Rosilda, procurando extrair do seu namorado o motivo que o levara a
querer sair logo da Igreja, sem ao menos cumprimentar as pessoas que ali se
faziam presentes, foi quando Tião, lhe respondeu.
_ Dexa eu quieto Rosirda, não
to afim de prosa!
Ao chegar à casa de sua
namorada, deixou-a no portão, com um rápido beijo de despedida, e foi logo dizendo:
_Dexa eu ih, amanhã tenho que
levantar bem cedinho! – Partindo em direção ao Posto onde tinha seu alojamento,
deixando ali sua namorada assustada sem nada entender.
Enquanto caminhava pelas
ruelas estreitas de Rosário, ia pensando em sua sina. Tinha que fazer o que a
vida lhe reservara, tinha que matar aqueles dois homens para poder encontrar
paz, pois o sangue de seu pai clamava por justiça.
Havia um silêncio profundo
naquela noite de domingo, que vez e outra era interrompida pelos cães
confinados nos quintais das casas, que ao escutar os passos do solitário jovem aproximando,
investiam nos portões com um rosnado e um latido irritante.
A brisa fresca da noite
trazia um suave e doce perfume de flores, que levava o Jovem a lembrar das
noites enluaradas do seu tempo de menino às margens do Rio Arinos.
Tião tendo chegado ao Posto,
fora recebido pelo vigia, seu amigo Pedro.
_ Boa noite minimo!.. Tudo
bem!?!
_ Tudo bem veio! E ocê?! –
Disse-lhe Tião.
_ Tô indo, graças a Deus e ao
nosso Senhô Jesus Cristo!.. – Falou-lhe o velho e simpático senhor.
_Senta aí Tião, vamo prosea
um pouco! – Disse Pedro ao jovem, indicando o banco de tábuas que estava
sentado.
_Tome um poco de café, está
quentinho! – Continuou Pedro alcançando-lhe a garrafa térmica que se encontrava
ao lado do banco.
Tião pegou a garrafa em sua
mãos servindo o café fumaceante na própria tampa de plástico, sentando-se em
seguida ao lado do velho.
_Brigado Pedro! Tava
precisando memo de um cafezinho quente! – Disse-lhe Tião agradecendo a
gentileza do seu amigo.
_Tava dando umas vortas
minino!..
_É fui com a Rosirda na
Igreja dela pra conhece.
_E aí gosto?!? Perguntou o
velho para prolongar a conversa, pois as noites eram longas para ele que
trabalhava como vigia.
_Oh véio, prá dizer a
verdade, nem prestei atenção naquele trololó todo. Eu num tava muito bão. –
Respondeu Tião ao seu interlocutor.
A resposta de Tião foi
seguida de uma longa risada de Pedro, que já foi logo dizendo:
_Aquilo é só moagem, já fui
lá com minha véia e também num gostei, mais respeito eles, tentam ser bom, e eu
acredito em Deus e no nosso Salvado, só não gosto de ir lá.
Agora quem estava rindo era o
jovem, vendo o seu amigo tentando explicar o seus motivos de não acompanhar sua
velha mulher aos cultos. Tião sabia que ele não ia por que tinha sua obrigação
de vigia e isto o impedia de lá se fazer presente.
Hoje eu vi o tar de “Edi
Bala” lá no curto, todo engravatado e gritando amém Jesus amém. – Disse Tião a
Pedro prolongando a conversa.
_Não te disse minino, que
aquela cobra tinha virado crente! A mim ele não engana, pode enganar os tonto
de lá, mais eu não! Complementava Pedro em sua fala.
_Tonto Porque? Perguntou Tião
a Pedro, vendo que ele irritou quando falou isto.
_Tonto porque quarquer um que
vai lá, por mais traste que seja, grita Jesus, Jesus e Aleluia e tá sarvo, vira
gente boa. Falou Pedro mostrando sua irresignação.
Sabe minino?!! Este Edi Bala,
fez escola lá no quarter da PM, aquele lá da BR. – Disse o velho, referindo-se
ao Comando da Polícia Militar localizada as margens da 163, famosa por ter seus
membros envolvidos em conflitos agrários. Esta suspeita pairava sob o Comando,
pois vez e outra, alguns dos policiais e até comandantes prestavam serviços de
segurança para particulares, inclusive na retirada de posseiros e invasores de
áreas litigiosas.
_Verdade, lá na Gleba
Itanhangá, no Porto dos Gaúcho, os grileiro, sempre manda os policia lá, e eles
vem daqui de Rosário. – Falou Tião, confirmando a história do velho Pedro.
_São tudo bandido perigoso!
Mata a troco de pouco. – Completou o velho com indignação.
_Bão a prosa tá boa, mas o
sono bateu, e de manhã a coisa pega logo cedo lá nas bombas. Falou Tião
levantando-se do Banco espreguiçando com os braços erguidos.
_Boa
noite véio, vê se não dorme no serviço!?! – Falou Tião ao velho com ar de
deboche, dirigindo-se em seguida ao seu singelo alojamento.
Esta noite seria outra que
Tião, não dormiria direito, como aquela em que havia encontrado “Bigode”,
buscou entre suas coisas o velho revolver descarregado, empunhando-o mirava em
direção à parede de madeira do seu alojamento, disparando-o contra um alvo
imaginário, cujo objeto seria aqueles dois homens.
_Pou! Pou! Pou!.. – Repetia
Tião ao manobrar sua arma. Depois disto guardou-a novamente deitando-se em
seguida para dormir.
Novamente seu sono foi tomado
por pesadelos, que ora o outra, o despertava seguidamente com espanto, e
assim foi até o raiar do dia.
CONTINUA.......
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