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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

PERSEGUINDO A VINGANÇA - 15ª – PARTE.


 
                  A Igreja o destino do casal enamorado, localizava-se na esquina de um singelo bairro, tinha sua fachada feita em alvenaria onde estava escrito “Assembléia de Deus”. O restante do Templo ainda era feita de tábuas de madeira. O piso em cimento queimado, porém impecavelmente limpo. Bancos de madeira estavam distribuídos em seu recinto de forma estratégica facilitando assim o acesso dos fiéis ao seu recinto. Na parte da frente do salão era feito em local mais alto com o intuito de facilitar a visão de todos os presentes. Era onde se localizava o púlpito.

                   Tião quando chegou, pode perceber que todos olhavam para ele, e isto o incomodava, já que era um jovem simples e pouco tímido. E foi logo perguntando para Rosilda.

                   _ Purque tão todos me olhando?!

                   _ Não liga Tião, é purquê ocê nunca veio aqui. – Disse-lhe Rosilda tentando confortá-lo frente aos olhares curiosos dos demais fiéis.

                   Ao adentrarem ao humilde templo, viram como estava repleta por fiéis, que notando a presença de um estranho olhavam  curiosamente para trás acrescentando ainda mais desconforto ao tímido Tião.

                   _Vamo fica desse lado. - Disse Rosilda escolhendo o lado esquerdo da pequena Igreja próxima ao corredor da parede, com o evidente propósito de confortar seu namorado inquieto pelos olhares curiosos dos seus irmãos de fé.

                   Havia um murmúrio inquieto dos presentes, de vez em quando alguém tossia ou uma criança choramingava, e aos poucos a Igreja fora sendo tomada por mais fiéis. Tião pode observar que muitos dos homens que  ali estavam, apesar de serem pessoas singelas e humildes estavam trajadas adequadamente.Umas vestiam paletós e gravatas simples e baratos, porém impecavelmente limpos.

                  Apesar de ser uma noite de julho, o tempo estava quente, e o calor aumentava dentro da Igreja pelo grandes números de pessoas que se faziam presente. O jovem ficava imaginando o calor que estava passando os irmãos dentro daqueles paletós.

                   Aproximou-se do púlpito um senhor de cabelos grisalhos, foi quando todos os presentes ficaram em silêncio esperando seu pronunciamento.

                   _ Quem é aquele lá em cima? – Perguntou Tião para Rosilda.

                   _ É o irmão Paulo, o nosso Pastor da Igreja. – Respondeu-lhe Rosilda.

                   O Pastor então já foi logo dizendo aos presentes.

                   _ Vamos nos colocar em pé, para agradecer ao nosso Pai Eterno nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, por nos permitir em se fazer presente em sua casa.

                   _Amém e Glória a Jesus! – Responderam os fiéis.

                   Em seguida o Pastor deu início a uma oração, que vez e outra eram interrompidas por Aleluias e Glórias a Jesus, gritadas pelos Fiéis presentes. Tião que não estava acostumado com aquilo, pois raramente ia a uma Igreja, ficou assustado com as interferências e com aquela gritaria toda parecendo que haviam tomados todos da Igreja, até mesmo sua namorada, com os olhos cerrados, repetia frases de louvor. Finalizando a oração, o velho Pastor deu início a um cântico de louvor e todos os acompanharam cantando felizes por estarem ali.

                   Sentado ao lado do púlpito havia outros dois homens vestidos de paletós e gravatas, que acompanhavam o Pastor em seu cântico e em suas orações. Mais tarde Tião veio, a saber, que eram os Pastores visitantes.

                   Com o prosseguimento do Culto, foi dado a palavras aos Missionários visitantes, que também, oraram e cantaram com os presentes e após deram início ao sermão.

                   _ Esta noite Deus está falando comigo e disse que haverá muitas curas. – Falava o Pregador do seu púlpito dirigindo-se aos fiéis, que repetidamente diziam:

                   _Amém! Amém!..

                   Prosseguiu o pregador com suas emotivas palavras que chegava aos ouvidos de Tião de forma doce e confortante, para quem nunca havia ouvido este tipo de sermão.

                   _Deus está dizendo para mim, que hoje haverá muitas ofertas para sua obra na terra. Esta dizendo que um entre vocês irá contribuir com uma considerável quantia para prosseguir com a construção de sua Igreja.

                   _Aleluia! – Ouvia-se no recinto, acompanhado de um intenso frenesi de religiosidade.

                   O jovem Tião olhava tudo que estava acontecendo ao seu lado, com certa estranheza e desconfiança, sem entender porque as pessoas gritavam daquela forma. A princípio sentiu-se assustado com tudo aquilo, com o passar do tempo, foi se acostumando com todo aquele frenesi. Como o casal havia escolhido o fundo da pequena Igreja para sentar-se, Tião podia ver quase todo o salão e as pessoas que participavam do evento daquele dia.

                   Foi em um desses momentos, que o jovem visitante da Igreja, olhando todos aqueles que participavam do Culto, sentiu seu sangue gelar novamente quando notou uma pessoa trajando um simples paletó e igual gravata, que se sentava logo à frente no lado direito do pequena Igreja, animado com a pregação que iniciara gritava com fervor e devoção.

                   _ Aleluia! Glória a Jesus!.. – Gritava o homem objeto da atenção de Tião.

                   _ O Sangue de Jesus tem poder! Aleluia!.. – Continuava a gritar aquele homem, que para Tião não lhe era estranho, por se tratar de um dos algozes pistoleiros que havia tirado a vida do seu saudoso pai. Edinho ou “Edi Bala” como era conhecido no passado, agora era crente, como já lhe havia adiantado o seu velho amigo Pedro lá do posto.

                   Daquele momento em diante o que estava sendo dito dentro daquela humilde Igrejinha, não mais interessava a Tião, que agora estava tomado de ira e tinha seu coração tomado pela razão que o trouxera aquela cidade, o seu desejo de vingança.

                   No término do Culto, Tião sem nada falar puxou a namorada pelo braço, logo sem seguida e retirou-se da Igreja as presas, evitando conversar com as pessoas, mesmo diante a insistência de sua namorada em querer apresentá-lo aos seus “irmãos de fé”, e , em passos rápidos procurou a afastar-se o mais longe dali.

                   _ Carma Tião! – Falou-lhe Rosilda, notando o desconforto do jovem e o seu semblante sério.

                   _ Fizeram argo para ôce lá no curto?! – Insistia Rosilda para seu namorado, enquanto este em passos rápidos vencia os quarteirões estreito da pequena Cidade do Cuiabá acima. Tião permanecia calado e não respondia as perguntas que sua namorada lhe fazia, com seu jeito simples de cabocla.

                   _Ocê não gostô do curto?! – Insistia Rosilda, procurando extrair do seu namorado o motivo que o levara a querer sair logo da Igreja, sem ao menos cumprimentar as pessoas que ali se faziam presentes, foi quando Tião, lhe respondeu.

                   _ Dexa eu quieto Rosirda, não to afim de prosa!

                   Ao chegar à casa de sua namorada, deixou-a no portão, com um rápido beijo de despedida, e foi logo dizendo:

                   _Dexa eu ih, amanhã tenho que levantar bem cedinho! – Partindo em direção ao Posto onde tinha seu alojamento, deixando ali sua namorada assustada sem nada entender.

                   Enquanto caminhava pelas ruelas estreitas de Rosário, ia pensando em sua sina. Tinha que fazer o que a vida lhe reservara, tinha que matar aqueles dois homens para poder encontrar paz, pois o sangue de seu pai clamava por justiça.

                   Havia um silêncio profundo naquela noite de domingo, que vez e outra era interrompida pelos cães confinados nos quintais das casas, que ao  escutar os passos do solitário jovem aproximando, investiam nos portões com um rosnado e um latido irritante.

                   A brisa fresca da noite trazia um suave e doce perfume de flores, que levava o Jovem a lembrar das noites enluaradas do seu tempo de menino às margens do Rio Arinos. 

                   Tião tendo chegado ao Posto, fora recebido pelo vigia, seu amigo Pedro.

                   _ Boa noite minimo!.. Tudo bem!?!

                   _ Tudo bem veio! E ocê?! – Disse-lhe Tião.

                 _ Tô indo, graças a Deus e ao nosso Senhô Jesus Cristo!.. – Falou-lhe o velho e simpático senhor.

                   _Senta aí Tião, vamo prosea um pouco! – Disse Pedro ao jovem, indicando o banco de tábuas que estava sentado.

                   _Tome um poco de café, está quentinho! – Continuou Pedro alcançando-lhe a garrafa térmica que se encontrava ao lado do banco.

                   Tião pegou a garrafa em sua mãos servindo o café fumaceante na própria tampa de plástico, sentando-se em seguida ao lado do velho.

                   _Brigado Pedro! Tava precisando memo de um cafezinho quente! – Disse-lhe Tião agradecendo a gentileza do seu amigo.

                   _Tava dando umas vortas minino!..

                   _É fui com a Rosirda na Igreja dela pra conhece.

                   _E aí gosto?!? Perguntou o velho para prolongar a conversa, pois as noites eram longas para ele que trabalhava como vigia.

                   _Oh véio, prá dizer a verdade, nem prestei atenção naquele trololó todo. Eu num tava muito bão. – Respondeu Tião ao seu interlocutor.

                   A resposta de Tião foi seguida de uma longa risada de Pedro, que já foi logo dizendo:

                   _Aquilo é só moagem, já fui lá com minha véia e também num gostei, mais respeito eles, tentam ser bom, e eu acredito em Deus e no nosso Salvado, só não gosto de ir lá.

                   Agora quem estava rindo era o jovem, vendo o seu amigo tentando explicar o seus motivos de não acompanhar sua velha mulher aos cultos. Tião sabia que ele não ia por que tinha sua obrigação de vigia e isto o impedia de lá se fazer presente.

                   Hoje eu vi o tar de “Edi Bala” lá no curto, todo engravatado e gritando amém Jesus amém. – Disse Tião a Pedro prolongando a conversa.

                   _Não te disse minino, que aquela cobra tinha virado crente! A mim ele não engana, pode enganar os tonto de lá, mais eu não! Complementava Pedro em sua fala.

                   _Tonto Porque? Perguntou Tião a Pedro, vendo que ele irritou quando falou isto.

                   _Tonto porque quarquer um que vai lá, por mais traste que seja, grita Jesus, Jesus e Aleluia e tá sarvo, vira gente boa. Falou Pedro mostrando sua irresignação.

                   Sabe minino?!! Este Edi Bala, fez escola lá no quarter da PM, aquele lá da BR. – Disse o velho, referindo-se ao Comando da Polícia Militar localizada as margens da 163, famosa por ter seus membros envolvidos em conflitos agrários. Esta suspeita pairava sob o Comando, pois vez e outra, alguns dos policiais e até comandantes prestavam serviços de segurança para particulares, inclusive na retirada de posseiros e invasores de áreas litigiosas.

                   _Verdade, lá na Gleba Itanhangá, no Porto dos Gaúcho, os grileiro, sempre manda os policia lá, e eles vem daqui de Rosário. – Falou Tião, confirmando a história do velho Pedro.

                   _São tudo bandido perigoso! Mata a troco de pouco. – Completou o velho com indignação.

                   _Bão a prosa tá boa, mas o sono bateu, e de manhã a coisa pega logo cedo lá nas bombas. Falou Tião levantando-se do Banco espreguiçando com os braços erguidos.

                  _Boa noite véio, vê se não dorme no serviço!?! – Falou Tião ao velho com ar de deboche, dirigindo-se em seguida ao seu singelo alojamento.

                   Esta noite seria outra que Tião, não dormiria direito, como aquela em que havia encontrado “Bigode”, buscou entre suas coisas o velho revolver descarregado, empunhando-o mirava em direção à parede de madeira do seu alojamento, disparando-o contra um alvo imaginário, cujo objeto seria aqueles dois homens.

                   _Pou! Pou! Pou!.. – Repetia Tião ao manobrar sua arma. Depois disto guardou-a novamente deitando-se em seguida para dormir.

                   Novamente seu sono foi tomado por pesadelos, que ora o outra, o despertava  seguidamente com espanto, e assim foi até o raiar do dia.


CONTINUA.......

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