Manezinho Preto e eu costumávamos pescar no Rio
Arinos ou no Mestre Falcão nos finais de tarde quando as coisas estavam meia
parada.
Ele tinha uma pequena loja de roupas, próximo ao
Banco do Brasil, e vez e outra, quando passava por ali ele me parava e convidava
para uma pescaria no final de tarde.
Certa ocasião, atendendo um dos seus convites,
dirigi-me ao açougue e comprei um coração de boi para usar seus pedaços como
isca, já que tanto ele como eu, não queríamos estressarmos em cavar minhocas.
Pegamos uma pequena canoa de madeira, que eu havia
comprado de outro amigo, e remamos até o começo de uma das ilhas existentes
frente a Porto dos Gaúchos, bem onde esta possui um pequeno braço cortando uma
de suas pontas. Pois ali segundo meu amigo havia um remanso bom de peixe.
Amarramos a canoa em um arbusto, para logo
em seguida Manezinho se alojar na proa do barco em lançarmos nossos
anzóis na água.
O tempo ia passando, e as linhadas continuavam
imóveis, vez ou outra dava uma vibradinha proveniente do mordiscar de pequenos
peixes ou por força da própria correnteza.
O desconforto da pequena embarcação já nos estava
incomodando, e o sol da tarde sucumbia de vez por detrás das matas ciliares,
dando lugar ao escuro de uma noite sem luar, porém tingidas por estrelas cintilantes,
cuja luminosidade refletia nas águas límpidas e escuras do Rio Arinos.
De repente Manezinho Preto em um sobressalto
levantou da proa, onde estava sentado e aos berros correu em direção à popa
onde me encontrava, gritando que havia ao lado do barco chegando de mansinho
uma grande cabeça que este acreditava ser de uma imensa sucuri.
O pequeno barco empinou com o peso de ambos
pescadores e por pouco na engoliu água emborcando nas águas escuras do rio,
agora habitada por uma enorme cobra segundo gritava freneticamente Manezinho.
Fiquei assustado com a situação, pois além do risco
da canoa virar, havia o risco de virarmos comida de sucuri. Foi quando gritei
para o Manezinho, que ficasse calmo, ou realmente teríamos que voltar ao Porto
a nado, o que sinceramente não seria
nada fácil.
Alcancei minha lanterna que estava em uma sacola
improvisada como maleta de pesca, para iluminar a sucuri, pelo menos para
tentar dar-lhe uma remada entre os olhos, já que não tínhamos levado nenhuma
arma se quer, não com a intenção de mata-la, mas pelo menos com o propósito de afugentá-la.
Somente após ter conseguido iluminar o vulto
assustador que devagar se aproximada da proa do barco, de onde Manezinho aos
berros havia corrido, pude visualizar o que seria.
A enorme cabeça de cobra que se aproximava
lentamente do barco, nada mais era do que plástico onde estava envolto o
coração de boi que utilizávamos como isca. Manezinho pouco antes o havia
deixado cair acidentalmente sobre as águas.
O plástico estava boiando sobre o rio e o remanso
das águas fazia que ele permanecesse próximo a embarcação e quando Manezinho
olhou para trás viu aquele vulto que lentamente se aproximava da embarcação
confundindo-o como se fosse à cabeça de uma grande e sorrateira sucuri.
Passado o susto, remamos de volta ao Porto, onde
hoje é a lanchonete flutuante. E até os dias atuais, quando me lembro do
Manezinho aos berros gritando que havia uma sucuri querendo o devorar, acabo
rindo sozinho da hilariante cena, onde um saquinho plástico deu um grande susto
em dois marmanjos pescadores de ocasião.
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