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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

PERSEGUINDO A VINGANÇA – 8ª PARTE.



        Já havia passado algum tempo da chegada de Tião a Rosário do Oeste, e este encontrara serviço em um Posto de combustível às margens da BR. O Posto pertencia ao Sr. Paulo Correia, homem simples, de postura íntegra, porém severa.
                   Paulo havia arrumado serviço de frentista ao jovem Tião. O que este recebia não era muito, porém lhe era franqueado o almoço o jantar e o café da manhã, que eram servidos na pequena lanchonete existente nas dependências do estabelecimento. Tião ainda podia dormir em um quartinho existente aos fundos da Borracharia, onde vez e outra ajudava o velho Vitor, antigo borracheiro daquelas bandas.
                   Pela manhã, o jovem Tião ao levantar-se, encontrou com o velho Pedro, senhor aposentado que ainda trabalhava como guarda noturno do posto, que se dirigiu a ele com um bom dia todo sorridente.
                   _ Bão dia minino Tião!
                   _ Bão dia Seu Pedro! Como é que vai a patroa ?
                   Respondeu Tião ao velho guarda.
                   _ Vai bem obrigado. Respondeu-lhe o ancião com alegria.
                   _ Vamo tomá um cafezinho lá na lanchonete. Falou o velho Pedro, colocando a mão trêmula nas costas de Tião.
                   Pedro era um senhor muito simpático, e estava aposentado pelo Funrural, seu trabalho como guarda no Posto, contribuía para que este complementasse sua pequena renda mensal.
                   Pedro era um antigo morador de Rosário e havia chegado por aquelas bandas oriundo de Minas Gerais ainda jovem, acompanhando as primeiras levas de migrantes que atendendo o chamamento do Governo Vargas, correram em busca de colonizar o sertão brasileiro.
                   Certa vez contara a Tião que seu destino era o Norte do Estado, mas cansado de viajar resolver se estabelecer naquela antiga cidade Matogrossense.
                   Dizia que ali podia fazer suas costumeiras pescarias no Rio Cuiabá e nos seus afluentes, quando não abater umas Pacas e Caititus, do serrado próximo a Rosário.
                   O velho tinha nos poucos cabelos que lhe restavam um branco amarelado, que Tião achara que era devido ao grosso cigarro de palha que frequentemente trazia entre os dentes. No seu rosto haviam profundo sucos que denunciavam um homem sofrido.
                   Tinha suas mãos trêmulas os dedos  deformadas pelo início de uma artrose, e com cicatrizes antigas do labor na roça.
                  Por um momento o jovem Tião, voltou no passado recente de sua vida, quando vivia com o seu pai sua mãe e sua irmã a margem do Rio Arinos. Lembrou das caçadas de pacas do grito estridente das araras, das maritacas, do canto do nhambu, do pio do Macuco, e os seus olhos encheram de lágrimas. Por uns instantes Tião havia esquecido por que tinha vindo morar em Rosário. Mas em  seguida lembrou dos dois homens que seria o motivo de sua sina, e naquele momento seu peito encheu de cólera. Tião, no entanto se conteve, controlou sua mágoa, disfarçando-a com um amargo sorriso, respondendo ao velho.
                   _ Vamo sim. Tô morrendo de vontade de toma um café.
                  E assim os dois caminharam em direção da cantina onde Dona Nena, uma velha senhora os aguardava com uma térmica de café quente.
                   Após ter saboreado o café, acompanhado de um pedaço de bolo de fubá, uma das especialidades de Nena, Tião caminhou em direção das bombas de combustível, onde já encostavam alguns madrugadores camioneiros.
                   O serviço no posto era bastante movimentado. O posto estava localizado as margens da BR 364. Esta importante rodovia que liga a bonita Cuiabá, Capital do Mato Grosso as cidades do conhecido Nortão. Ela muda de nome no entroncamento do Posto Gil, já subindo a Serra da Caixa Furada logo após o Divisor das Águas, da Bacia do Prata com a Bacia Amazonas. Ali no Gil, como é conhecido áquela localidade, a rodovia faz um birfucação. A direita de que vem da Capital do Estado, segue sertão a dentro com a famosa Cuiabá/Santarém, com o nome de BR 163. A esquerda segue para Diamantino e outras importantes cidades do noroeste matogrossense.
                   No final do dia, ao término dos afazeres do posto, Tião já de banho tomado, logo  após o jantar, sentava-se a frente da borracharia para conversar com o Sr. Pedro. Ali entre uma conversa e outra observava a movimentação da rua, que ligava a cidade de um lado a outro da  rodovia. Foi em um desses dias, que viu uma jovem mulher, que acompanhada de sua família, passava  frente a borracharia, todas as quartas feiras, domingos e feriados. A garota era bonita, vestia-se do modo simplório, com roupas abaixo do joelho. Tinha os cabelos negros longos, que caía na parte de trás até a altura de seus quadris. Os seus olhos eram castanhos escuros sua pele morena e quando passava deixava no ar um cheiro suave de rosas.
                   Um dia quando conversava com o velho, via que a garota, ia passando em companhia de seus pais e irmãos. Tião criando coragem, então perguntou ao Velho Pedro.
                   _ Véio, quem é esta guria, que sempre passa por aqui ?
                   Pedro abriu um largo sorriso, virou do lado e deu uma cusparada e em seguida foi falando com o seu jovem amigo.
                   _ Tô vendo que o minino Tião tem bom gosto prá rabo de saia. A menina chama Rosilda, é fia do Salvador, e toda vez que passa por aqui está indo para Igreja. Ela e a famia é crente da Assembléia de Deus. Você não viu que carregam a rapadura em baixo do braço. Completou o velho com uma larga e marota risada.
                   Tião ficou observando a menina, que também o já havia notado, e de vez e outra,  olhava furtivamente para traz, sem que seu genitor ou outro membro de sua família viesse notar.
                   Pedro em seguida falou.
                   _ Escuta menino, eu não sou lá muito religioso, mais minha véia, esta, tá todo o dia com a Bíblia não mão, apesar de nem saber ler direito. Eu acho que minha véia nem sabe lê. Se o menino quizé, um dia levo oçê  prá almoça lá em casa. A Rosilda quase todo domingo visita minha véia para lê a Bíblia para ela. Coisa de crente.
                   Os olhos de Tião brilharam só de imaginar que poderia conhecer pessoalmente aquela simpática garota. Naquele instante ele não mais pensava como a cabeça ou o coração de um obstinado vingador, mas sim de um Jovem prestes a apaixonar-se. Então ele disse.
                   _ Mais não vô recusa memo. Se o Véio convidá, e claro que vô. – Encerrando sua prosa com um largo e feliz sorriso.
                   Seus olhos negros agora brilhavam de ansiedade para logo conhecer e ser apresentado àquela jovem bonita mulher que costumeiramente via passar frente ao posto.

         CONTINUA.....




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