Já havia passado algum tempo da chegada de Tião a Rosário do Oeste, e
este encontrara serviço em um Posto de combustível às margens da BR. O Posto
pertencia ao Sr. Paulo Correia, homem simples, de postura íntegra, porém
severa.
Paulo havia arrumado serviço
de frentista ao jovem Tião. O que este recebia não era muito, porém lhe era
franqueado o almoço o jantar e o café da manhã, que eram servidos na pequena
lanchonete existente nas dependências do estabelecimento. Tião ainda podia
dormir em um quartinho existente aos fundos da Borracharia, onde vez e outra
ajudava o velho Vitor, antigo borracheiro daquelas bandas.
Pela manhã, o jovem Tião ao
levantar-se, encontrou com o velho Pedro, senhor aposentado que ainda
trabalhava como guarda noturno do posto, que se dirigiu a ele com um bom dia
todo sorridente.
_ Bão dia minino Tião!
_ Bão dia Seu Pedro! Como é
que vai a patroa ?
Respondeu Tião ao velho
guarda.
_ Vai bem obrigado.
Respondeu-lhe o ancião com alegria.
_ Vamo tomá um cafezinho lá
na lanchonete. Falou o velho Pedro, colocando a mão trêmula nas costas de Tião.
Pedro era um senhor muito
simpático, e estava aposentado pelo Funrural, seu trabalho como guarda no
Posto, contribuía para que este complementasse sua pequena renda mensal.
Pedro era um antigo morador
de Rosário e havia chegado por aquelas bandas oriundo de Minas Gerais ainda
jovem, acompanhando as primeiras levas de migrantes que atendendo o chamamento
do Governo Vargas, correram em busca de colonizar o sertão brasileiro.
Certa vez contara a Tião que
seu destino era o Norte do Estado, mas cansado de viajar resolver se
estabelecer naquela antiga cidade Matogrossense.
Dizia que ali podia fazer
suas costumeiras pescarias no Rio Cuiabá e nos seus afluentes, quando não
abater umas Pacas e Caititus, do serrado próximo a Rosário.
O velho tinha nos poucos
cabelos que lhe restavam um branco amarelado, que Tião achara que era devido ao
grosso cigarro de palha que frequentemente trazia entre os dentes. No seu rosto
haviam profundo sucos que denunciavam um homem sofrido.
Tinha suas mãos trêmulas os
dedos deformadas pelo início de uma
artrose, e com cicatrizes antigas do labor na roça.
Por um momento o jovem Tião, voltou no
passado recente de sua vida, quando vivia com o seu pai sua mãe e sua irmã a
margem do Rio Arinos. Lembrou das caçadas de pacas do grito estridente das
araras, das maritacas, do canto do nhambu, do pio do Macuco, e os seus olhos encheram
de lágrimas. Por uns instantes Tião havia esquecido por que tinha vindo morar
em Rosário. Mas em seguida lembrou dos
dois homens que seria o motivo de sua sina, e naquele momento seu peito encheu
de cólera. Tião, no entanto se conteve, controlou sua mágoa, disfarçando-a com
um amargo sorriso, respondendo ao velho.
_ Vamo sim. Tô morrendo de
vontade de toma um café.
E
assim os dois caminharam em direção da cantina onde Dona Nena, uma velha
senhora os aguardava com uma térmica de café quente.
Após ter saboreado o café,
acompanhado de um pedaço de bolo de fubá, uma das especialidades de Nena, Tião
caminhou em direção das bombas de combustível, onde já encostavam alguns
madrugadores camioneiros.
O serviço no posto era
bastante movimentado. O posto estava localizado as margens da BR 364. Esta
importante rodovia que liga a bonita Cuiabá, Capital do Mato Grosso as cidades
do conhecido Nortão. Ela muda de nome no entroncamento do Posto Gil, já subindo
a Serra da Caixa Furada logo após o Divisor das Águas, da Bacia do Prata com a
Bacia Amazonas. Ali no Gil, como é conhecido áquela localidade, a rodovia faz
um birfucação. A direita de que vem da Capital do Estado, segue sertão a dentro
com a famosa Cuiabá/Santarém, com o nome de BR 163. A esquerda segue para
Diamantino e outras importantes cidades do noroeste matogrossense.
No final do dia, ao término
dos afazeres do posto, Tião já de banho tomado, logo após o jantar, sentava-se a frente da
borracharia para conversar com o Sr. Pedro. Ali entre uma conversa e outra
observava a movimentação da rua, que ligava a cidade de um lado a outro da rodovia. Foi em um desses dias, que viu uma
jovem mulher, que acompanhada de sua família, passava frente a borracharia, todas as quartas
feiras, domingos e feriados. A garota era bonita, vestia-se do modo simplório,
com roupas abaixo do joelho. Tinha os cabelos negros longos, que caía na parte
de trás até a altura de seus quadris. Os seus olhos eram castanhos escuros sua
pele morena e quando passava deixava no ar um cheiro suave de rosas.
Um dia quando conversava com
o velho, via que a garota, ia passando em companhia de seus pais e irmãos. Tião
criando coragem, então perguntou ao Velho Pedro.
_ Véio, quem é esta guria,
que sempre passa por aqui ?
Pedro abriu um largo sorriso,
virou do lado e deu uma cusparada e em seguida foi falando com o seu jovem
amigo.
_ Tô vendo que o minino Tião
tem bom gosto prá rabo de saia. A menina chama Rosilda, é fia do Salvador, e
toda vez que passa por aqui está indo para Igreja. Ela e a famia é crente da
Assembléia de Deus. Você não viu que carregam a rapadura em baixo do braço.
Completou o velho com uma larga e marota risada.
Tião ficou observando a
menina, que também o já havia notado, e de vez e outra, olhava furtivamente para traz, sem que seu
genitor ou outro membro de sua família viesse notar.
Pedro em seguida falou.
_ Escuta menino, eu não sou
lá muito religioso, mais minha véia, esta, tá todo o dia com a Bíblia não mão,
apesar de nem saber ler direito. Eu acho que minha véia nem sabe lê. Se o menino
quizé, um dia levo oçê prá almoça lá em casa. A Rosilda
quase todo domingo visita minha véia para lê a Bíblia para ela. Coisa de
crente.
Os olhos de Tião brilharam só
de imaginar que poderia conhecer pessoalmente aquela simpática garota. Naquele
instante ele não mais pensava como a cabeça ou o coração de um obstinado
vingador, mas sim de um Jovem prestes a apaixonar-se. Então ele disse.
_ Mais não vô recusa memo. Se
o Véio convidá, e claro que vô. – Encerrando sua prosa com um largo e feliz
sorriso.
Seus olhos negros agora
brilhavam de ansiedade para logo conhecer e ser apresentado àquela jovem bonita
mulher que costumeiramente via passar frente ao posto.
CONTINUA.....
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