Naquela manhã quando tomava café na cozinha, dissera Tião a sua mãe.
_ Mãe, tô ganhando uma mixaria,
lá no boteco do Julinho. Tô pensando e ir embora prá uma cidade maió, prá vê se
arrumo serviço mió. Fiquei sabendo que lá em Rosário do Oeste, tem muito
serviço. Tô pensando em dar um pulo lá.
Maria escutou o que o filho
falava para ela, e viu que ele estava virando um homem, pois este agora tinha
já dezessete anos de idade. E disse ao rapaz no seu jeito simples de cabocla.
_ Ocê é qui sabe meu fio. Se
é prá o teu bem vai com a proteção de Deus e do Nosso Senho Jesus Cristo.
Tião vendo que a mãe havia
concordado, disse para ela buscando confortar a sua aflição e o medo de nunca
mais ver o filho.
_ Pode ficá tranquila Mãe, eu
não vou esquece da Senhora ou da minha irmanzinha. O dinheiro que eu ganhá,
mando para oceis ir vivendo, e assim, que der certo mando buscá oceis.
A mulher sorriu, e acariciou
os cabelos negros do filho.
Tião retornando ao Boteco de
Julinho falou de sua intenção ao patrão, pedindo que este arrumasse outro para
o seu lugar. Julinho lhe dirigindo a palavra disse.
_ Vai com Deus garoto, e que
ele lhe ajude a arrumar um serviço melhor.
Passado algum tempo Tião, em
uma tarde seca do mês de agosto dirigiu-se a Porto dos Gaúchos, cidade próxima do Sapecado, em carona na boleia de
um caminhão de toras. Chegando lá foi até a rodoviária comprando uma passagem
para Rosário do Oeste. Mais o que ninguém sabia, era que em sua bagagem levava,
um revolver calibre 38 que havia comprado de um Policial, e no peito uma
insaciável sede de vingança. O jovem queria encontrar os autores do horrendo
crime que vitimou seu querido pai.
Ele sentado na pequena
Rodoviária de Porto dos Gaúchos, aguardava apreensivo que o ônibus chegasse.
Enquanto esperava, absorto em seus pensamentos, sentia a brisa fresca que
acariciava seus negros cabelos. Misturado ao vento vinha um forte cheiro de
poeira que levantava das ruas se pavimentação da pequena cidade Matogrossense.
Junto com a poeira vinha um cheiro amargo de serragem, oriundos das serrarias
que circundavam a cidadezinha.
Próximo das 23:00 horas, já
com considerável atraso, o ônibus encostou. Ao parar na pequena plataforma,
pessoas desciam de seu interior, correndo em direção ao banheiro ou em direção
ao boteco que funcionava no interior da rodoviária.
Tião dirigiu-se até o
motorista do veículo, apresentado sua passagem ingressando imediatamente no seu interior. Pairava no ar, um
desagradável cheiro de cigarro, misturado com
um forte odor de suor que dava ao
ônibus uma aparência de sujeira e abandono.
Sentou-se em sua poltrona que
com sorte havia conseguido próximo à janela, observando o movimento aos arredores
da Rodoviária. Quando a Luz da cidade se apagou. Os motores que geravam energia
para a urbe, tinha hora certa para seu funcionamento, e após seu desligamento,
deixava a pequena cidade com ares de sede de Fazenda. O motorista tomou seu
assento funcionando o veículo, enquanto os passageiros pressentindo a sua
partida corriam para tomar seus lugares.
O ônibus deixou o pequeno
terminal rodoviária, contornando os persistente buracos da rua, herança das
últimas chuvas e que ainda não havia sido arrumados tomando seu destino final,
ou seja, a Capital do Estado.
Enquanto o veículo balançava
de um lado para outro, devido à má conservação da estrada, Tião observando pela janela, via a claridade
da Lua refletida sobre as gigantescas árvores. Vendo isto, vinha em sua cabeça
as boas recordações da época em que morava com sua família na posse da beira do
Rio Arinos.
Porém, as boas recordações,
em seguida eram afogadas pelas lembranças do dia em que seu pai havia sido
cruelmente assassinado, e o seu coração novamente enchia de dor, revolta e ódio.
Com o balanço do velho ônibus o jovem
Tião adormeceu, enquanto o veículo seguia noite adentro.
Depois da cansativa viajem sacolejando dentro daquele
desconfortável ônibus, o jovem caboclo, pode ver surgindo entre os morros, seu
destino final. Era a pequena cidade de Rosário do Oeste, outrora Nossa Senhora do Rio Acima. Cidade antiga,
fundada por Bandeirantes e garimpeiros às margens do Rio Cuiabá e do que é hoje é a rodovia Cuiabá
/Santarém.
Já era noite do outro dia de
sua partida, quando o veículo encostou na pequena rodoviária. O jovem não tendo
para onde ir, permaneceu no recinto sentado em um banco, onde de vez em quando
tirava um cochilo esperando o dia amanhecer.
CONTINUA.........
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