Naquele dia, pai e filho
haviam combinado uma pescaria no esplêndido Rio Arinos. Eles haviam cavado
minhocas próximo a mina, e com elas, pescados alguns Acarás e Lambaris, para
serem utilizados como isca. Zé Chico tinha lá no Rio Arinos, alguns anzóis, que
vez e outra iscavam, em busca de pegar algum peixe.
_ Tião, vai até lá no
Cajueiro, é pegue uns cajus, para nois iscá o espinhéu, vamo vê se hoje nóis
pega uma Matrinchã[1].
Disse o pai ao filho.
_ Já to indo pai. Mais o que
eu quero pegá é um Lobó[2]
e dos grandes. Respondeu o filho contando vantagem de pescador.
Maria que amamentava a
caçula, sentando frente ao barraco, ria das conversas do pai e do filho, que
animadamente preparavam a tralha de pesca.
_ Ôceis toma é cuidado com a
Sucuri. Disse Maria aos dois animados pescadores.
_ Qui nada muié, se este
bicho aparecê, nois vamo servi ele na janta. Disse Zé Chico em bravata e aos
risos para sua preocupada esposa.
Tralha preparada, anzóis e
iscas no borná[3],
lá se foram pai e filho em direção à trilha que os levariam a barranca do Arinos, onde estava a canoa
amarada.
Encontravam-se “apoitados”
perto de um remanso do Rio, quando escutaram o barulho do motor de uma voadeira[4],
que às pressas viam rio abaixo. Estava escuro, o que impossibilitavam pai e
filho de identificar as pessoas, porém sabia-se que podia ser dois que no barco
navegavam. Os passageiros do barco a motor tinham um farol à bateria, que
iluminavam de um lado de outro do rio. Quando o barco aproximou dos dois, foram
focados pelo forte farol, que por alguns segundos manteve sobre a luz. Depois o
barco virou-se e retornou rumo rio acima de onde haviam vindo.
_ Deve ser caçador focando
Paca. Disse Zé Chico ao filho, que se encontrava sentando na proa do bote.
_ É vai vê que é. Respondeu o
filho, que de imediato respondia ao beliscar de sua linhada com um forte puxão.
_ Êta pai, perdi mais um! Disse
o menino.
_ Não se afobe não, se nois
não pegá nenhum na linhada, o espinhér e os anzor de galho garante pescaria.
Falou Zé Chico ao menino, completando.
_ Está disgraça de voadeira,
só feiz foi espantá os peixe. Falou Tião ao seu pai que naquele momento
descansava a linhada no fundo do barco, enquanto enrolava um cigarro.
Os peixes não mais
mordiscavam a isca, somente os pernilongos e mariposas, circulavam o barco. A
Lua prateada surgia imponente por detrás das árvores, refletindo todo o seu
esplendor nas águas escuras do Rio Arinos. Pai e Filho recolheram as linhadas,
correram os espinhéis e anzóis de galho, que haviam armado às margens oposta do
Rio, recolhendo algumas traíras e
Jurupensem[5]
que estavam fisgados e foram para casa.
CONTINUA................................
[1]
Espécie de peixe, cujo habitat natural é a bacia amazônica, muito apreciado
pelo sabor de sua carne.
[2]
Espécie de peixe muito voraz conhecido também por lobo do rio ou simplesmente
trairão, alguns chegam a pesar mais de 50 kg.
[3]
Sacola de pano utilizada a tiracolo.
[4]
Bote ou canoa com motor de popa.
[5]
Espécie de peixe de couro muito apreciado pelos ribeirinhos.
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