A
família, ou o que havia restado dela, vivia agora em uma pequena casa, situada
no perímetro urbano da Vila Sapecado. Maria trabalhava como lavadeira, e o
filho Tião arrumara um emprego no boteco do Julinho, ajudando na limpeza e no
atendimento dos fregueses. Dessa forma mãe e filho buscavam a sobreviver sem a
presença do saudoso Zé Chico.
Já haviam passados alguns
meses, daquele dia fatídico, que a vida de Zé Chico tinha sido ceifada
violentamente, quando um dia lá no
boteco, Tião escutara dois peões, que conversava animadamente na mesa do fundo.
Ambos já embriagados pela cachaça que tinham freneticamente consumindo.
Os desconhecidos peões,
falavam de vários assuntos, porém sem conhecer Tião, comentavam justamente,
sobre o assassinato do seu pai Zé Chico. Um dos homens, falava para o outro, de
quem havia matado o posseiro Zé Chico, tinha sido os pistoleiros Tião Bigode e Edi Bala, a mando do grileiro e
latifundiário Durval José Pereira, que queria a posse de todas aquelas terras.
Escutando isto, Tião
imediatamente buscou em sua memória, a conversa que escutara pouco antes da
morte do seu pai, ali mesmo no recinto do boteco, quando os dois homens
referidos pelos Peões, conversavam com o seu falecido pai. Foi quando entendeu
o tom ameaçador daquela conversa. Lembrou também daquela noite, quando pescavam
no Arinos, que um barco a motor havia descido o rio, e quando os iluminaram com
a lanterna, retornaram rio acima. Tião concluiu que a morte do seu pai, já
havia sido encomendada, e que os pistoleiros, só estariam esperando o momento
certo para agir.
Tião sentiu o seu peito
encher de revolta, porém mantendo a calma, aproximou dos peões, oferecendo-lhe
uma dose de pinga por sua conta, sentando-se a mesa com os estranhos. Com essa
atitude, Tião visava ganhar a confiança dos desconhecidos, conseguindo maiores
informações sobre o assassinato do seu pai. Foi o que aconteceu, um dos homens
começou a falar tudo que sabia sobre o caso, inclusive onde moravam os
pistoleiros autores do horrendo crime.
_ Pois é seu menino. – Disse o homem se dirigindo ao Tião, com a língua amortecida
e hálito carregado do forte odor de cachaça.
_ Tanto o Tião Bigode, como o
Edi Bala, foram contratado lá em Rosário, pelo Durvar, prá mode matá o posseiro
Zé Chico. – Complementou ele referindo
aos autores do homicídio, que tinha vitimado o pai do rapaz.
Tião, forçando a conversa,
perguntou aos peões, se os pistoleiros ainda moravam lá em Rosário do Oeste.
_ Oiá ! O Tião Bigode não sai
lá da zona, é que lá tem uma puta, que é sua amante. Já o Edi Bala, diz que
viró crente da Assembléia de Deus, e vive pregando Jesus prá lá, Jesus prá cá,
mode enganá os outros. Aquele não é flor que se cheire, é pior do que uma “Pico
de Jaca”, de perigoso. – Dissera um dos
homens a Tião, que ouvia tudo com grande
atenção.
Naquela noite, já em sua
casa, Tião não conseguia dormir, virava de um lado e de outro na cama,
lembrando do que havia escutado daqueles dois bêbados. Quando mais pensava,
sentia o seu peito apertar e revolta e ódio, quando lembrava do seu pai, morto
na frente da casa. Tião levantou, seu corpo estava suado, fazia muito calor
naquela noite, o que contribuía para que não conseguisse dormir. Caminhou até o
quintal de sua casa, e olhou para o céu apreciando a lua cheia, que como um botão
amarelo deixava a noite clara. Respirou fundo, sentindo o cheiro fresco da
noite. Levantou seus olhos para o céu e disse em voz baixa.
_ Juro por Deus, que ainda
vou vingá a morte do meu pai! - Quando dissera isto, seus olhos encheram-se de
lágrimas, lembrando do seu pai, companheiro de pescarias e caçadas. Os galos da
redondeza, já começavam a cantar, anunciando que o Sol já estava por surgir.
CONTINUA............
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