O vento sopra lá fora, amenizando o calor mato-grossense, no
céu claro sem nuvens a Lua brilha intensamente.
No asfalto ouve-se o ruído de folhas secas sendo empurras de
um lado para outro, fazendo-me lembrar das noites frias de julho em Assis
interior de São Paulo.
Um Jovem de cabelos negros e encaracolados subindo uma das
ruas de sua cidade, as mãos geladas enfiadas no bolso de um singelo casaco em
busca de um pouco de calor. Os olhos avermelhados de um sonhador, assobiando uma
estrofe de um roque qualquer.
Cascas de vagens secas de sementes das “sibipirunas” estalam
sob seus pés, quebrando o silêncio do seu coração, ao longe se escuta a batida
e o toque melancólico do relógio da Catedral, anunciando que está na hora de se
recolher.
O vento frio espantou as pessoas das ruas, todos estão
enfurnados em suas casas talvez em baixo de um cobertor. O cargueiro buzina nos
trilhos da antiga sorocabana ecoando noite adentro.
Chega-se a Ferroviária pela Rua Brasil, dobra-se a Bonfim abaixo
para chegar naquela casa. Olha em volta tudo está diferente. A casa não é a
mesma, seus pais já a muito se foram, a cidade é completamente estranha para
aquele momentâneo e saudoso sonhador.
Há somente fragmentos de memórias que ainda persistem em
fazer lembrar que um dia bem distante no passado caminhava à noite retornando
para casa.
Hoje não há cabelos encaracolados, somente uma reluzente calvície
e alguns renitentes cabelos brancos.Sulcos começam a brotar em seu rosto
marcas de um tempo que insiste em passar.
Quando jovem era loucamente amado pelas mulheres de todas as
cores e tons, pois as amava também como elas queriam serem amadas.
Restou-se somente memórias fragmentadas em seu eu de
outrora. Ainda pode escutar a buzina do cargueiro que agora já soa em um
passado a muito distante.
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