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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Testamento de uma fruta. (mito e lenda de um povo)


Era uma vez, há muito tempo passado, em uma pequena cidade do sertão nordestino,  cercado pela caatinga ressequida onde bodes e cabras se fartavam  pelos raros ramos verdes que insistem a brotar regado pelo orvalho da madrugada.
Nessa localidade vivia um jovem franzino loirinho de olhos azuis, cujos desejos não eram o de um jovem qualquer de sua idade, onde hormônios fluem por todo o corpo impelindo-os em busca de sexo.
Ele desde pequeno se interessava por coisas diferentes, do que os meninos de sua idade gostavam. Ao contrário de outros jovens, ele não interessava por futebol, caçar pássaros com bodoque ou estilingue, e consequentemente por cabras ou meninas. Ou seja, como se diz por aí, ele não gostava da fruta, mas sim do tubérculo, tanto que fazia de tudo para aproximar dos garotos de sua faixa etária.
Os meninos por suas vezes, quando não sumiam caatinga adentro, munidos de um pequeno pedaço de corda, recolhendo cabras e mulas barranqueiras, faziam o loirinho de garota e assim o tempo ia passando naquele monótono lugarejo.
Os meninos foram crescendo, e como aves de arribação, migraram para outros cantos. Uns já adultos casaram  e formaram família, tornando-se independentes, outros simplesmente partiram em direção a outras regiões em busca de estudos e trabalho, necessidades essas escassas naquele ermo e esquecido vilarejo. Junto com os meninos do passado, foi-se também a fruta por eles compartilhada.
Haviam muitas estórias e passagens sobre o compartilhamento da fruta, um fora visto levando-a no cano de uma velha bicicleta caatinga a dentro, outro simplesmente a colorara dentro de uma carroça, conduzindo-a noite a dentro em companhia de outro amigo, para se banhar nas águas barrentas de uma poça, e assim a festa promíscua prosseguia libertina e abominável.
Com a fruta sendo compartilhada, esqueciam até mesmo as jumentas e as cabritas barranqueiras, e assim passavam o tempo que até então  esquecido em um passado a muito distante.
Certo dia, chegou a noticia do passamento da fruta, ocorrido em uma outra região inóspita da caatinga, para onde havia migrado. Morrera o lourinho, que no passado fizera às vezes das meninas, jumentas e cabras para os seus coleguinhas de adolescência. Não houvera pranto, nem comoção pela sua ida, somente alívio daqueles que dele haviam desfrutado.
Até que em um outro dia qualquer, surgira a notícia da existência de um testamento, onde a fruta compartilhada relacionara os nomes dos que no passado a desfrutaram nos escuros arrabaldes daquele longínquo vilarejo.
A simples noticia da provável existência deste testamento, trazia medo, transtornos e insegurança a aqueles que na época compartilharam aquela fruta. Se tal testamento fosse aberto, causaria inúmeros aborrecimentos para eles que participaram de inocentes abominações.
Se não bastasse este recôndito receio, havia outro muito mais comprometedor, que era o fato de constar inserido no bojo da última vontade do testador, o fato de que ele, fora fruta sim, e que também havia sido compartilhada por no mínimo quarenta e nove meninos de então, porém o compartilhado, trocava as abomináveis posições e fazendo as vezes também de menino com eles.
Correu a boca pequena naquele insignificante vilarejo, que a fruta outrora desfrutada, no final havia sido mais menino do que os demais, pois além de ser servi-los também os serviu invertendo as posições na troca-troca de favores.
É o que consta no possível testamento de uma frutinha do sertão que sendo despolpada e compartilhada, também fez às vezes de machão.
(O conto em questão é pura ficção, e qualquer semelhança com pessoas da vida real é mera coincidência.)

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