Era
uma vez, há muito tempo passado, em uma pequena cidade do sertão nordestino, cercado pela caatinga ressequida onde bodes e
cabras se fartavam pelos raros ramos
verdes que insistem a brotar regado pelo orvalho da madrugada.
Nessa
localidade vivia um jovem franzino loirinho de olhos azuis, cujos desejos não
eram o de um jovem qualquer de sua idade, onde hormônios fluem por todo o corpo
impelindo-os em busca de sexo.
Ele
desde pequeno se interessava por coisas diferentes, do que os meninos de sua
idade gostavam. Ao contrário de outros jovens, ele não interessava por futebol,
caçar pássaros com bodoque ou estilingue, e consequentemente por cabras ou
meninas. Ou seja, como se diz por aí, ele não gostava da fruta, mas sim do
tubérculo, tanto que fazia de tudo para aproximar dos garotos de sua faixa
etária.
Os
meninos por suas vezes, quando não sumiam caatinga adentro, munidos de um
pequeno pedaço de corda, recolhendo cabras e mulas barranqueiras, faziam o
loirinho de garota e assim o tempo ia passando naquele monótono lugarejo.
Os
meninos foram crescendo, e como aves de arribação, migraram para outros cantos.
Uns já adultos casaram e formaram
família, tornando-se independentes, outros simplesmente partiram em direção a
outras regiões em busca de estudos e trabalho, necessidades essas escassas
naquele ermo e esquecido vilarejo. Junto com os meninos do passado, foi-se
também a fruta por eles compartilhada.
Haviam
muitas estórias e passagens sobre o compartilhamento da fruta, um fora visto
levando-a no cano de uma velha bicicleta caatinga a dentro, outro simplesmente
a colorara dentro de uma carroça, conduzindo-a noite a dentro em companhia de
outro amigo, para se banhar nas águas barrentas de uma poça, e assim a festa
promíscua prosseguia libertina e abominável.
Com
a fruta sendo compartilhada, esqueciam até mesmo as jumentas e as cabritas
barranqueiras, e assim passavam o tempo que até então esquecido em um passado a muito distante.
Certo
dia, chegou a noticia do passamento da fruta, ocorrido em uma outra região
inóspita da caatinga, para onde havia migrado. Morrera o lourinho, que no
passado fizera às vezes das meninas, jumentas e cabras para os seus coleguinhas
de adolescência. Não houvera pranto, nem comoção pela sua ida, somente alívio
daqueles que dele haviam desfrutado.
Até
que em um outro dia qualquer, surgira a notícia da existência de um testamento,
onde a fruta compartilhada relacionara os nomes dos que no passado a desfrutaram
nos escuros arrabaldes daquele longínquo vilarejo.
A
simples noticia da provável existência deste testamento, trazia medo,
transtornos e insegurança a aqueles que na época compartilharam aquela fruta.
Se tal testamento fosse aberto, causaria inúmeros aborrecimentos para eles
que participaram de inocentes abominações.
Se
não bastasse este recôndito receio, havia outro muito mais comprometedor, que
era o fato de constar inserido no bojo da última vontade do testador, o fato de que ele, fora fruta
sim, e que também havia sido compartilhada por no mínimo quarenta e nove
meninos de então, porém o compartilhado, trocava as abomináveis posições e
fazendo as vezes também de menino com eles.
Correu
a boca pequena naquele insignificante vilarejo, que a fruta outrora desfrutada,
no final havia sido mais menino do que os demais, pois além de ser servi-los
também os serviu invertendo as posições na troca-troca de favores.
É
o que consta no possível testamento de uma frutinha do sertão que sendo
despolpada e compartilhada, também fez às vezes de machão.
(O conto em questão é
pura ficção, e qualquer semelhança com pessoas da vida real é mera
coincidência.)
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