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terça-feira, 24 de julho de 2012

Perfumes e ferroadas.


Um Marimbondo zumbindo com um fremir de asas  pousa junto a uma delicada Flor, que timidamente exala um doce perfume.
Rapidamente ele ingressa para o interno da pétala, passando a se fartar do doce néctar e banhar-se nos mais límpidos e amarelados grãozinhos de pólen fixados em suas anteras.
A flor entra em completo êxtase sabendo que os grãozinhos de pólen que Vespa carregará retido em seu corpo, em visita a próxima flor, perpetuará sua espécie, produzindo frutos, sementes, plantas e novas flores, embelezando ainda mais os campos e as florestas.
E rapidamente o inseto alça voo daquela pétala, para pousar em seguida em outra igualmente perfumada, prosseguindo-se com sua matinal rotina.
De repente para de zumbir e fixa-se em um sútil movimento que se passa na folha ao lado. É uma Aranha, armada de afinados agulhões a espreita de uma descuidada vítima.

A Vespa, mesmo amarelada pelos pólens das flores, ferozmente investe contra o aracnídeo para em seguida com seu afiado ferrão aplicar-lhe uma dolorosa ferroada na altura do seu abdômen, imobilizando-a porém sem tirar-lhe a vida.
Agarra-a pelo dorso e num frenético  esforço carrega-a para um casulo recém construído com a argila extraída do córrego vizinho. Empurra a aranha para dentro deste casulo de barro, e sobre seu inerte abdômen anestesiado pelo poderoso veneno, coloca um ovo, lacrando-o por fora com mais argila baldeada das margens daquele límpido riozinho.
Cumpri assim, sua função reprodutora, arrumando abrigo e alimento para a sua cria, que ainda em forma de larva irá se fartar da aranha, que viva, porém imóvel, aguarda para ser aos poucos devorada.
E novamente cai a tarde prenunciando a chegada da noite, que trará consigo a luminosidade prateada da Lua e mais perfumes de flores noturnas, aguçando ainda mais o frenesi de insetos e morcegos que delas se fartarão de néctar e pólen, prosseguindo-se assim com o ciclo de vida e perpetuação de espécies.

A vida ao mesmo tempo que se faz romântica e poética, pelo perfumes de flores, pode ser moldada com veneno e ferroadas, mas, assim mesmo continua bela e misteriosa aos olhos de um louco poeta.
Assim é o amor, ao iniciar-se exala perfume e um doce néctar nos lábios da mulher amada, porém havendo desavenças, traições e ciúmes pode acabar com uma dolorosa ferroada impregnada de um tóxico e irremediável veneno, alimento para o desprezo e consequente ódio.

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