Doutor
Julinho, era delegado de polícia nos negros e difíceis anos da ditadura
militar, instituída com o Golpe de 64, em uma mediana cidade do interior
Paulista. Naquele tempo os direitos civis eram completamente ignorados pelas
autoridades policiais. Não era raro que alguém detido suspeito de qualquer
crime ou delito, ser colocado em uma sala fechada sem direito da presença de um
advogado, e submetido a toda sorte de violência, seja ela física, moral ou
psicológica.
Não
adiantava invocar a Constituição, pois a que vigorava era aquela outorgada pela
junta Militar que detinha o poder. Os Poderes do Estado, não eram o Executivo,
Legislativo e o Judiciário, mas sim, o Exército, Marinha e Aeronáutica.
Presidente era o General Médice, sisudo e de linha dura.
Vivendo
sobre este império, Julinho, o delegado, abusava de suas funções, prendendo,
espancando, humilhando, aterrorizando os moradores daquela urbe. Muitos dos
detidos acabavam pendurado em um “pau de arrara” e submetido à intensa tortura,
somente para satisfação do seu carrasco, que assistia à sessão de tortura se
regozijando com o terror e a dor dos submetidos.
E
assim Julinho comandava seu reinado de terror, acobertado pelo regime ditatorial
e por um judiciário acovardado e
igualmente oprimido, pelos coturnos dos Militares.
Um
dia Julinho chegando a sua residência, vira que tinha um mendigo deitado sob a
árvore que ficava em frente de sua casa. O delegado entrou com seu carro na
garagem, e imediatamente com sua contumaz arrogância fora ter com o mendigo
maltrapilho e sujo, que dormia usando um saco de estopa como travesseiro.
O
delegado aproximou-se do homem e foi logo falando: - Ô vagabundo!!! Aí não é lugar de dormir,
portanto levanta e vai embora!!!
O
mendigo soltando um leve grunhido de ronco continuou a dormir sem tomar conhecimento
daquele que importunava seu sono. Esta atitude deixou o arrogante delegado,
acostumado a explorar o medo daqueles que submetia a tortura, colérico de
raiva.
Julinho
então aproximou-se do mendigo, e com a ponta de seu sapato o cutucou com um
fraco chute nas costas, insistindo que este saísse dali. Foi quando o mendigo
levantou lentamente ajuntando aquele pruído e sujo saco, e dando alguns passos para
trás de distância de Julinho, sacou de dentro uma espingarda calibre doze com coronha
e canos serrados e apontando-a para a cabeça do arrogante e odiado delegado
disparou-lhe um certeiro tiro, atirando-o contra o muro levando-o a instantânea
morte.
Então
o mendigo, pois se a andar apressadamente virando a esquina e desaparecendo no
lusco fusco do entardecer, deixando para trás o corpo inerte, ensanguentado e
sem vida do arbitrário e odiado Delegado de Polícia.
Com
as investigações feitas pela Polícia, encontraram mais trade as roupas usadas pelo
assassino bem como o saco que este manteve escondido sua arma, jogada em um
terreno baldio, concluindo-se que o algoz de Julinho, decerto haveria de ser
uma das inúmeras pessoas que de uma
forma ou outra teria sido submetido a suas arbitrariedades. Era certo que o assassino era conhecedor dos
hábitos daquele que iria matar, e, estava ali de forma estratégica, vestido de
mendigo para não chamar tanta atenção, pacientemente esperando sua vítima para
uma provável vingança.
Assim
terminou a carreira do temido, violento,
arbitrário Delegado Julinho, instrumento de repressão e tortura nos negros anos
de chumbo.
(O conto e o personagem
são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, apesar
de se passar em um momento histórico nada fictício impingido pelo Golpe Militar
de 1964)
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