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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Nos anos de chumbo.



Doutor Julinho, era delegado de polícia nos negros e difíceis anos da ditadura militar, instituída com o Golpe de 64, em uma mediana cidade do interior Paulista. Naquele tempo os direitos civis eram completamente ignorados pelas autoridades policiais. Não era raro que alguém detido suspeito de qualquer crime ou delito, ser colocado em uma sala fechada sem direito da presença de um advogado, e submetido a toda sorte de violência, seja ela física, moral ou psicológica.
Não adiantava invocar a Constituição, pois a que vigorava era aquela outorgada pela junta Militar que detinha o poder. Os Poderes do Estado, não eram o Executivo, Legislativo e o Judiciário, mas sim, o Exército, Marinha e Aeronáutica. Presidente era o General Médice, sisudo e de linha dura.
Vivendo sobre este império, Julinho, o delegado, abusava de suas funções, prendendo, espancando, humilhando, aterrorizando os moradores daquela urbe. Muitos dos detidos acabavam pendurado em um “pau de arrara” e submetido à intensa tortura, somente para satisfação do seu carrasco, que assistia à sessão de tortura se regozijando com o terror e a dor dos submetidos.
E assim Julinho comandava seu reinado de terror, acobertado pelo regime ditatorial e por um  judiciário acovardado e igualmente oprimido, pelos coturnos dos Militares.
Um dia Julinho chegando a sua residência, vira que tinha um mendigo deitado sob a árvore que ficava em frente de sua casa. O delegado entrou com seu carro na garagem, e imediatamente com sua contumaz arrogância fora ter com o mendigo maltrapilho e sujo, que dormia usando um saco de estopa como travesseiro.
O delegado aproximou-se do homem e foi logo falando:  ­­- Ô vagabundo!!! Aí não é lugar de dormir, portanto levanta e vai embora!!!
O mendigo soltando um leve grunhido de ronco continuou a dormir sem tomar conhecimento daquele que importunava seu sono. Esta atitude deixou o arrogante delegado, acostumado a explorar o medo daqueles que submetia a tortura, colérico de raiva.
Julinho então aproximou-se do mendigo, e com a ponta de seu sapato o cutucou com um fraco chute nas costas, insistindo que este saísse dali. Foi quando o mendigo levantou lentamente ajuntando aquele pruído e sujo saco, e dando alguns passos para trás de distância de Julinho, sacou de dentro uma espingarda calibre doze com coronha e canos serrados e apontando-a para a cabeça do arrogante e odiado delegado disparou-lhe um certeiro tiro, atirando-o contra o muro levando-o a instantânea morte.
Então o mendigo, pois se a andar apressadamente virando a esquina e desaparecendo no lusco fusco do entardecer, deixando para trás o corpo inerte, ensanguentado e sem vida do arbitrário e odiado Delegado de Polícia.
Com as investigações feitas pela Polícia,  encontraram mais trade as roupas usadas pelo assassino bem como o saco que este manteve escondido sua arma, jogada em um terreno baldio, concluindo-se que o algoz de Julinho, decerto haveria de ser uma  das inúmeras pessoas que de uma forma ou outra teria sido submetido a suas arbitrariedades.  Era certo que o assassino era conhecedor dos hábitos daquele que iria matar, e, estava ali de forma estratégica, vestido de mendigo para não chamar tanta atenção, pacientemente esperando sua vítima para uma provável vingança. 
Assim terminou  a carreira do temido, violento, arbitrário Delegado Julinho, instrumento de repressão e tortura nos negros anos de chumbo.
(O conto e o personagem são fictícios, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, apesar de se passar em um momento histórico nada fictício impingido pelo Golpe Militar de 1964)


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