FOI ASSIM QUE ME CONTARAM.
Em todo lugar onde já fora fronteira, existem histórias ou lendas de fatos acontecidos. Nosso Mato Grosso, outrora foi conhecido como terra sem lei. Quem já não jogou loto, ou bingo, onde aquele que canta os números que vão saindo, sempre tem um apelido jocoso para alguns números. Por exemplo, dois patinhos da lagoa, estavam sendo cantados o número 22. Ao cantar o número 44, o jogador gritava alto e em bom tom, “lei do mato grosso”, referindo-se que a única lei conhecida então no Estado era o do revolver calibre 44.
Em minhas andanças como advogado escutei muitas histórias, algumas delas exageradas e outras lendas, como aquela do “pé de garrafa”. Porém teve uma história que me foi contado por uma pessoa, conhecida como “Pombo”, (somente me recordo do seu apelido, o nome ficou no passado) que se referia a uma disputa de terras entre duas famílias poderosas que outrora dominaram a região onde atualmente é o Município de Novo Horizonte do Norte e Juara. Com o objetivo de preservar estas famílias não irei revelar seus nomes, pois não sei se a história que me fora contada era verdadeira e se realmente acontecera como então me fora narrado.
A disputa entre os dois clãs estava tensa, ambos queriam a mesma porção de terras, e estavam em armas, com a contratação de mercenários, ou melhor, explicando, pistoleiros, jagunços, bate-paus e outros nomes mais, como eram conhecidos aqueles que vendiam seus préstimos profissionais, no uso de uma arma de fogo.
Alguns destes profissionais tinham até treinamento militar, uns até eram ou tinham sido dos quadros da própria polícia de então, e suas especialidade era matar, ou defender as terras objeto da contenda. Polícia, Justiça, Fórum isto não existia nesta região. O Forum mais perto era em Diamantino, dias de viagem daqui. Acesso naquele tempo, era por água ou por estradas completamente inacessíveis. Ou pelo ar, voando em pequenas aeronaves, que pousavam em qualquer pista.
Pombo então me dissera que um destes grupos de pistoleiros, estavam acomodados em uma casa em uma clareira recentemente aberta, com o propósito de defender aquelas terras. A casa era de madeira recentemente serrada, bem construída apesar de ter sido cobertas por tabuinhas de madeiras. Ali estavam acampados a dias de oito a dez homens fortemente armados, com revolveres e escopetas de diversos calibres, porém principalmente a de calibre 12, arma de grande potencial destrutivo, própria para matar e a curta distância fazia grande estrago em suas vítimas.
Entre os acampados havia um que era da Bahia, e fora trazido para ali com o propósito de amedrontar os pistoleiros adversários. “Baiano” como era chamado, intitulava ter o “corpo fechado”, pelas entidades do candomblé. Bala nele não acertava, e se acertava não entrava. Era o “supermam” da pistolagem, tudo em nome de entidades da umbanda e do candomblé da Baiano.
Este Baiano era respeitado pelos seus companheiros de gatilho, por isto e pelas atrocidades que cometera em sua breve vida que estava por terminar. Ele gostava de contar aos seus comandados do que era capaz e de como matara seus desafetos. Isto o ajudava a manter o respeito entre os demais pistoleiros que estavam o acompanhando em mais esta empreitada.
Numa certa madrugada, quando ainda dormiam dentro da casa, ouviu-se alguém bater a porta do barraco. Ainda pouco sonolento levantou-se Baiano e fora em direção da porta, para abri-lá já que esta se encontrava fechada por uma tramela. Baiano talvez acreditasse que alguns de seus comandados estava retornando da ronda noturna. Ao abrir a porta receberá um tiro de calibre doze no peito, o que o atirou de encontro com a parede do fundo da casa, quase três metros de distância, morrendo em seguida com o seu “corpo fechado” em companhia de suas entidades espirituais.
Em seguida, segundo Pombo, ouve uma seqüência de tiros tanto de dentro da casa como vindo do lado fora pelos outros pistoleiros da facção adversária, por mais ou menos trinta minutos de disparos. Pomba no seu jeito simples de homem da roça, analfabeto por opção, ao narrar-me o acontecido, fazia os sons dos estampidos com a boca, aquilo me divertia e levava-me a imaginar a cena digna de um filme do oeste americano.
Pombo falava que os revolveres, calibre trinta e oito e quarenta e quatro, repetiam uma seqüência de tiros, do qual ele tentava repetir os som imitando a seqüência dos disparos,“Tau”, “tau”, “tau”, “tau”, e entre meios ao som repetidos por Pombo, ele falava que a calibre doze disparava mais grosso, imitando com a voz rouca um “pou”, ao tentar reproduzir o estampido da espingarda.
Eu advogado recentemente chegado à região, escutava a história com apreensão, aguardando o seu desfecho. Em seguida perguntei-lhe, como ele sabia daquele causo, em riquezas detalhes como havia me contado. Ele sorriu de forma matreira e me disse que havia estado lá, porém sem revelar se participara da contenda. Também não me dissera de que lado estava das famílias em armas. Isto caiu no silencio e não fora me revelado pelo seu Pombo.
Pombo somente me dissera que estava em um sítio vizinho (???) e escutou o acontecido, porém aquela pureza de detalhes não me deixara dúvidas, ela havia participado do acontecido, talvez alguns daqueles disparos que me narrara na ocasião haviam sido feito por ele, empunhando um revolver ou mesmo a tão violenta calibre doze.
Era assim que se resolviam as pendengas naquele tempo que há muito se fora, na bala e na pistolagem, e com uma “chumbeira” de grosso calibre. A história não deixa de ser interessante e até hoje me aguça a curiosidade.
Pombo somente acrescentara em seu relato, que na casa onde encontrava baiano e os demais pistoleiros não houvera sobreviventes.
Nilton Flávio Ribeiro
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
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