O jovem Tião passou a ser assíduo frequentador do prostíbulo de Suzete, fazendo amizade com a maioria das
mulheres daquele local e principalmente com o seu dono.
Sua ida naquele local, não
era simplesmente para satisfazer seus instintos carnais, mas sim de ganhar a
confiança daquelas pessoas e assim poder cumprir a promessa feita ao lado
do corpo do seu pai. Quase todas ocasiões que lá estava, via com frequência o
alvo de sua vingança.
Certa ocasião em que estava
com Julia no quarto, pode ouvir as brigas de Bigode com sua amante, chegando a
escutar os estalos dos tapas que este proferia naquela pobre mulher.
Segundo Julia falara para
ele, ela apanhava sem reclamar, pois tinha medo das consequências se de um modo
ou de outro reagisse a aquelas agressões.
Em uma noite Tião pode
conhecer Maria amante de Bigode. Era uma mulher simples e aparentava ter uns
quarenta anos de idade devido sua aparência sofrida. Poucos sabiam que ela era
uma mulher beirando os trinta anos.
Quando Bigode não se
encontrava no prostíbulo ela deixava o quarto para relacionar com as pessoas
frequentadoras do bordel e até fazia programas a escondida do seu amásio.
E assim passava as noites na zona
de meretrício, onde Tião frequentemente estava com o propósito de estudar o seu
alvo.
Em uma daquelas noites pode
ver a camionete de Bigode estacionada no pátio da casa de tolerância. De longe
pode observar que Tião Bigode caminhava a passos largos em direção ao quarto de
sua amásia.
Era cedo ainda, porém Tião
olhou para o céu e o viu entre as nuvens este salpicado de estrelas reluzentes.
Não havia lua à noite estava escura.
Lembrou do que havia
aprendido com seu saudoso pai, de que as noites escuras são propícias para uma
boa caçada.
Despediu-se do pessoal do
prostíbulo já que Julia não estava disponível, dirigiu-se a velha bicicleta
costumeiramente emprestada e a pedalou com vigor até o posto.
Ao chegar lá viu Pedro que já
foi logo indagando:
_Ué minino, chego cedo?!!
_Cheguei mas já estou vortando?!!
– Falou Tião ao seu interlocutor.
_Vim só pegar uma coisa e já
to indo. – Prosseguiu Tião respondendo a
curiosa indagação de Pedro.
_Ocê não esta precisando da
magrela?!! – Perguntou-lhe Tião.
_Onde eu iria minino, se
tenho que trabaia?!! – Respondeu-lhe o sorridente Pedro.
_Verdade!!! – Confirmou Tião,
caminhando em direção ao seu quarto aos fundos da borracharia.
O Jovem, entrou em seu quarto
para em seguida levantar o colchão e alcançar o velho revólver estrategicamente
escondido, municiou-o com as balas que este por hábito as guardava em um pé de
meia velha, colocando na cinta na parte de detrás em sua costa.
Pegou a bicicleta e a pedalou em direção de volta ao prostíbulo,
porém desta vez, parou antes do seu destino escondendo-a em um terreno baldio
tomado por pés de mamona e capim alto. Pôs
a caminhar em direção ao prostíbulo fazendo se acobertar pelo véu escuro da
noite.
Chegando lá buscou-se
esconder entre a vegetação e de lá ficou imóvel fitando o quarto de Maria
sabendo que lá estaria Bigode, como se esperasse a caça no poleiro próximo ao
pé de tucumam.
Não demorou muito para que Tião
ouvisse o espetáculo causado por bigode agredindo sua amante. Tião sabia que
isto acontecia com frequência quando Bigode estava embriagado.
Era ter paciência, pois logo
Maria deixaria o quarto escorraçada pelas agressões sofrida indo dormir com uma
amiga que estivesse desacompanhada.
Distante Tião podia ver
Suzete gritando com Bigode, e o xingando como costumeiramente fazia. Não
demorou muito para que o silêncio tomasse conta da zona, foi quando Tião viu
que a porta do quarto abriu e de lá saiu Maria caminhando para um outro quarto.
O Jovem sabia que Bigode
estava no quarto, totalmente tomado pelo álcool tornando-se uma presa fácil
para que ele cumprisse sua sina.
Tião olhou para os lados para
ver se havia alguém por perto, comprovando que estava só caminhou com cuidado em
direção ao quarto localizado aos fundos do prostíbulo.
Quando ia se aproximando
sentia seu coração acelerar palpitando com a emoção. Tião lembrou que era a
mesma emoção que sentia quando esperava a caça empoleirado na mata quando
ouvia o ruído do seu aproximar nas folhas secas do chão da floresta, o coração
disparava de emoção.
O Jovem subiu o alpendre
existente antes do quarto cuidadosamente a fim de não fazer ruído e chamar a
atenção de alguém. Já em frente ao quarto, abriu a maçaneta com cuidado para
não fazer barulho.
Com a porta entreaberta, pode
ver Bigode deitado de barriga para cima vestindo somente uma cueca, roncando
que nem um porco gordo.
Ao abrir ainda mais a porta
ela rangeu pela falta de óleo em suas dobradiças foi quando Bigode deu uma
engasgada em uma pequena crise de apneia
acordando e olhando para o vulto que adentrava ao quarto sem distingui-lo no
escuro do ambiente, e foi logo dizendo:
_Quem está aí?!!
_Errou de quarto, dê o
fora!!! – Prosseguiu bigode tentando alcançar o interruptor da luz pendurado
sob a cama.
_Não errei não!!! – Respondendo-lhe
Tião já com a arma em punho.
_Isto é pelo meu pai seu
filho da puta!!! – Dissera-lhe Tião, para em seguida apertar o gatilho repentinamente descarregando o revolver
contra o seu alvo.
Na cabeça do jovem vingador
este tinha certeza que aquele animal, havia de ser abatido com vigor, pois era
uma enorme cobra peçonhenta que poderia lhe dar um golpe fatal.
Bigode rolou da cama gemendo
e grunhindo como um porco selvagem alvejado pelos diversos disparos que o acertaram
desde o abdômen até a altura do tronco e pescoço para em seguida cair ao chão
em um baque seco. Um dos disparos levou o projétil a alojar bem em seu coração.
Tião deixou o local e correu em direção a
vegetação existente próxima dali para esconder-se, sendo que de lá podia ver o
alvoroço das pessoas que corriam assustadas de um lado para outro despertadas pelos estampidos que ecoaram
noite adentro, parcialmente abafados pelas paredes daquele quarto escuro.
O Jovem apressou-se
acobertado pelo escuro até onde estava a bicicleta, para após deixar aquele
local o mais rápido possível.
Enquanto pedalava lembrava da
cena criminosa que havia perpetrado em sua cabeça. O grunhido de dor e horror que aquela víbora peçonhenta soltara na
hora de sua morte.
Novamente havia em seu peito
regozijo pelo que acabara de fazer, a sensação do dever cumprido havia
apaziguado sua sedenta alma.
Pedalou até a ponte do rio
Cuiabá e sob ela encostou a bicicleta
para atirar o revolver em suas águas barrentas encoberta pela escuridão da
noite.
Ficou por alguns instantes
parado sobre ela observando o rio que refletia em suas aguas barrentas o
reluzir das diversas estrelas que naquela noite habitavam o céu.
Havia uma brisa suave e
perfumada da noite, que vez ou outra exalava em uma mistura de flor com cheiro
de algas. Uma suave bruma começava a ascender do leito do rio, o jovem então
pegou a bicicleta e rumou em direção ao posto.
Chegando lá, Tião pode ver
que seu amigo Pedro cochilava sobre o banco. O jovem aproximou com cuidado para
que este não acordasse deixando a bicicleta ao lado e dirigindo-se em direção
ao seu quarto.
Passou uma água rápida no
rosto e nos braços para em seguida deitar-se, alegrava por ter cumprido em
parte sua promessa. Havia matado os dois homens que tinha abatido de forma
violenta o seu velho pai.
Sabia ele que sua vingança não
estava completa, pois ainda existia um distante de seu alcance. Havia ainda
outro a ser morto, mas deixaria sob a vontade de Deus. Havia ainda o mandante
do crime que vitimara seu saudoso pai. Fechou
os olhos e dormiu como a tempo não dormia.
CONTINUA.........