A lenda do Rei Arthur, aquele da
távola Redonda, tinha por detrás do seu trono a figura mística do Mago Merlin,
e junto com ele os cavaleiros nobres que ali se sentavam. Os Cavaleiros da Távola Redonda, segundo a
lenda, foram os homens premiados com a mais alta ordem da Cavalaria,
na corte do Rei Artur,
no Ciclo Arturiano. A Távola Redonda, ao
redor da qual eles se reuniam, foi criada com este formato para que não tivesse
cabeceira representando a igualdade de todos os seus membros. Entre estes bravos
cavaleiros existia um que segundo a lenda era grande defensor de Artur. Seu
nome era Lancelot.
O Mago Merlin conhecia mistérios do céu e da terra, da vida e da morte, dos homens e dos deuses. Alguns
o chamavam de feiticeiro, outros achavam que ele era um santo. Todos, porém, o
reconheciam como um dos homens mais sábios desde tempos imemoriais. O papel do
Merlim na trama a partir daí não era o de fazer magia e feitiços, mas sim de
mostrar ao seu povo que ele continuava junto ao rei e com isso assegurar a paz entre
o reino e os povos antigos, os tornando aliados incontestáveis.
Saído do Romance de Miguel de Cervantes, existe um outro personagem, um
cavaleiro solitário que empunhando uma lança investia contra os antigos moinhos
de ventos confundindo-os como monstros. O protagonista da obra é Dom Quixote de
La Mancha, um pequeno fidalgo castelhano que perdeu a razão por muita leitura
de romances de cavalaria e pretendendo imitar seus heróis preferidos. O romance
narra as suas aventuras em companhia de Sancho Pança,
seu fiel amigo, companheiro e escudeiro, que tem uma visão mais realista. A
ação gira em torno das três incursões da dupla por terras de La Mancha,
de Aragão
e de Catalunha.
(quem quizer conferir a biblioteca pública de nossa cidade – se ainda existe e
funciona – tem a obra e foi doada por mim).(1)
Também saído dos contos de fadas e lendas antigas a outros personagens
dignos de referência que se eu fosse citar daria um comprido texto e que
certamente as pessoas a quem busco atingir não iriam se dar ao luxo de ler por
inteiro.
No reino encantado de Marmem, a fraca Rainha, além do temeroso Bruxo
Javengar, que orbita em seu torno, existem também os defensores do seu frágil
trono. Não que se comparem ao Lancelot do Reino de Artur, talvez se aproximem
de Sancho Pança da clássica obra literaria de Cervantes, mas existem. Embuidos
na defesa do Reino estes pseudos heróis que
protagonizam cenas que quase sempre fogem das raias da razão.
Em nosso reino encantado, existe o parlatório dos comuns que quase nunca
saem em defesa dos súditos, e tremem quando ouvem a gargalhada estridente do
Bruxo, que com sua renovada carruagem negra trafega pelas ruélas escuras e
esburacadas do vilarejo.
Entre os comuns do parlatório, alguns de seus membros, frente a fragilidade
dos demais, ditam as regras do jogo, conduzindo de forma competente a defesa da frágil Rainha. Alguns são como Sancho Pança, outros simplesmentes Arlequins[2] e
assim vão conduzindo os interesses e os propósitos da Côrte em detrimento dos
súditos aldeões.
A fragilidade de um reino, seja ele encantando ou amaldiçoado, nas “estorinhas”
infantis quase sempre e com raras exceções os vitimados são os súditos,
atônitos com o pagamento de tarifas e tributos e com o incerto futuro.
Será que um dia se terá um final feliz, como em todo conto de fadas, onde
os vilões são derrotados e os destinos são reunidos em um “viveram felizes para
sempre”?! Enquanto isto não acontece ficam-se a ouvir os estalos da chibata e o
arrancar da carruagem do bruxo seguido pela sua horrenda e temerosa gargalhada,
e o silêncio mórbido de incertezas futuras.
Voltando a dura realidade, sem “estorinhas” de reino encantado, fiquei
sabendo por ouvir dizer, que semana passada, em uma reunião onde estavam
presentes a Chefe do Executivo, alguns Vereadores e também líderes políticos da
atual e rara oposição para discutir a formação de um conselho ou comissão dos
acampados da Mandaguari, houve troca de acusações entre oposicionistas e
situacionistas. Em defesa da Prefeita, em meio ao clamor da discusão, eis que surgi um “herói” que
brandindo seu punho gritou freneticamente acusando o prefeito anterior de ser o
causador do clima de desânimo que vem assolando Porto dos Gaúchos. (rssss...
bem feito para ele, que tem preferido o silêncio...)
Quando me relataram o fato, lembrei logo do Lulla e do seu carcomido discurso
da herança maldita. Quando o problema aparece o mais fácil é atribuir a
responsabilidade aos outros, mesmo que em palanque outrora você tenha se
comprometido com o eleitor em resolvê-los, pois afinal de contas, é para isto
que são eleitos os políticos.
O problema taí, e esconder-se dele, fugir do debate ou torná-lo campo de
uma disputa pessoal, somente irá contribuir para que as mudanças prossigam. Não
as mudanças administrativas, mas sim as mudanças de famílias e empresas indo
para outras regiões mais prósperas. A coisa tá feia!!!
(1) Fonte de pesquisa: Wikipédia.
[2]
Personagem que, na comédia italiana, usava roupa feita de retalhos triangulares
de várias cores. 2 Bufão, farsante, palhaço, bobo da corte.