Naquela semana meus irmãos Zezinho, Renato e seu colega
Hermes, combinaram uma caçada no Rio Capivari localizado no município
Rancharia, distante aproximadamente 80 quilômetros de Assis.
Combinaram em levar um pequeno barco, para descerem o rio
focando com o intuito de encontrar algum bicho que pudessem abater. O Rio Capivari
naquela região tinha as águas tão límpidas que dava para ver o fundo repleto de
algas verdes e areias alvas e finas.
Era todo cercado por vasta vegetação ciliar, que que lhe
acrescentava um ar de selvagem mistério. Eles acreditavam que na combinação de
matas e rio haveriam muita caça escondidas, pois de uma certa forma a soma de
tudo aquilo causava um imenso fascínio aqueles caçadores de final de semana.
Minha mãe então, no dia antes deles partirem para aquela
aventura, preparou para que eles levassem como lanche, uma deliciosa paçoca de
pilão, que ela sabia preparar muito bem, com ajuda do filho caçula que munido
daquela pesada mão, o socava com violência transformando a farinha de milho e a
carne ressequida pela fritura em um amalgama de delicioso sabor.
Dona Alice, após processar a carne e a farinha no velho e
carcomido pilão, a refogava com bastante tempero não economizando na cebola,
tomate, cheiro-verde e alho, que acrescentava naquela antiga comida tropeira um
sabor diferenciado.
Naquela sexta feira, Renatão chegara na casa da mãe trazendo
consigo sua espingarda calibre 20, que horas antes, em sua casa, havia dado um
trato limpando-a e lubrificando-a com bastante óleo. Também havia trazido em
sua tralha, alguns cartuchos que havia carregado na noite anterior, com
capricho de um velho caçador.
Não demorou muito Zezinho, o irmão mais velho, encostar seu
velho Itamarati, carregado de tralhas de pesca, pois além de rodarem em busca
de caça iriam armar algumas redes com o propósito de capturar alguns curimbatás
ou traíras que acreditavam existir naquelas lagoas que margeavam o Capivari.
Ali carregaram o restante das tralhas que costumavam
guarda-las na casa da mãe, recebendo dela um saco plástico com uma considerável
porção da deliciosa paçoca, que planejavam comer na beira do rio acompanhado de
bananas nanicas e, evidentemente de um trago de cachaça que Zezinho não abria
mão em hipótese alguma.
E assim, se puseram os caçadores em direção ao Rio Capivari
localizado na Região de Rancharia, pela Raposo Tavares, onde pretendiam executar
seus planos de caça e pesca como a muito haviam combinado.
Segundo relataram posteriormente, quando chegaram em seu
destino, providenciaram de imediato a montagem do acampamento, para em seguida
lançar o pequeno barco nas águas claras daquele frondoso rio. Eles pretendiam aproveitar
a chegada do anoitecer, para dar início a tão sonhada caçada.
Carregaram a tralha no pequeno barco de madeira, e junto
colocaram a espingarda reluzente com o polimento da noite anterior, munição e a
deliciosa paçoca, que minha mãe havia bem condicionado em um saco plástico, pois
tinham intenção de saboreá-la ainda aquela noite. Zezinho como sempre, pediu
para que Hermes lhe alcançasse a garrafa de pinga que estava próximo à um
arbusto, alegando que o remédio não poderia faltar. Na proa do pequeno bote,
colocaram a Paçoca as bananas e a garrafa de “Tatuzinho”, de forma que quando
precisassem estava ali no alcance das mãos.
Embarcaram e começaram a descer as águas límpidas do
Capivari, porém não contavam com a correnteza do rio e do peso da pequena
embarcação, que além das costumeiras tralhas de caça e pesca, levavam três “bruta
montes” que juntos pesavam aproximadamente trezentos quilos.
E ali, deram início aquela jornada para já na primeira curva
do Rio o barco fazer água com o peso e emborcar jogando os três dentro do rio junto
com toda a tralha que levavam. Foi aquele desespero em atingir o leito e
ver o barco afundado e toda a tralha perdida.
Disseram eles, que o farol ainda permaneceu ligado por alguns
instantes, dando para vê-lo deslizando suavemente nas areias brancas do fundo
do Capivari. Ainda havia um pouco de lusco fusco naquele entremeio de tarde e
noite, e o que mais doeram nestes desastrados caçadores, foi ver a paçoca de
pilão boiando no saco plástico rio abaixo longe de ser resgatada pelos náufragos
de ocasião.
Depois de muito tempo eles ainda lembravam daquela cena, do
saco de paçoca de carne, que nossa mãe havia preparado com carinho para que
seus filhos levassem naquela frustrada caçada, boiando rio abaixo, e comentavam
que algum jacaré havia de ter passado bem naquela noite ao encontrar o saco de
paçoca temperada com muito capricho que o rio havia levado.
Muito bom... Adorei a historia!!!
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