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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Zezinho, Hermes, Renatão e a paçoca de pilão - Lembranças do passado.



   Naquela semana meus irmãos Zezinho, Renato e seu colega Hermes, combinaram uma caçada no Rio Capivari localizado no município Rancharia, distante aproximadamente 80 quilômetros de Assis.
    Combinaram em levar um pequeno barco, para descerem o rio focando com o intuito de encontrar algum bicho que pudessem abater. O Rio Capivari naquela região tinha as águas tão límpidas que dava para ver o fundo repleto de algas verdes e areias alvas e finas.
    Era todo cercado por vasta vegetação ciliar, que que lhe acrescentava um ar de selvagem mistério. Eles acreditavam que na combinação de matas e rio haveriam muita caça escondidas, pois de uma certa forma a soma de tudo aquilo causava um imenso fascínio aqueles caçadores de final de semana.
    Minha mãe então, no dia antes deles partirem para aquela aventura, preparou para que eles levassem como lanche, uma deliciosa paçoca de pilão, que ela sabia preparar muito bem, com ajuda do filho caçula que munido daquela pesada mão, o socava com violência transformando a farinha de milho e a carne ressequida pela fritura em um amalgama de delicioso sabor.
    Dona Alice, após processar a carne e a farinha no velho e carcomido pilão, a refogava com bastante tempero não economizando na cebola, tomate, cheiro-verde e alho, que acrescentava naquela antiga comida tropeira um sabor diferenciado.
    Naquela sexta feira, Renatão chegara na casa da mãe trazendo consigo sua espingarda calibre 20, que horas antes, em sua casa, havia dado um trato limpando-a e lubrificando-a com bastante óleo. Também havia trazido em sua tralha, alguns cartuchos que havia carregado na noite anterior, com capricho de um velho caçador.
    Não demorou muito Zezinho, o irmão mais velho, encostar seu velho Itamarati, carregado de tralhas de pesca, pois além de rodarem em busca de caça iriam armar algumas redes com o propósito de capturar alguns curimbatás ou traíras que acreditavam existir naquelas lagoas que margeavam o Capivari.
    Ali carregaram o restante das tralhas que costumavam guarda-las na casa da mãe, recebendo dela um saco plástico com uma considerável porção da deliciosa paçoca, que planejavam comer na beira do rio acompanhado de bananas nanicas e, evidentemente de um trago de cachaça que Zezinho não abria mão em hipótese alguma.
    E assim, se puseram os caçadores em direção ao Rio Capivari localizado na Região de Rancharia, pela Raposo Tavares, onde pretendiam executar seus planos de caça e pesca como a muito haviam combinado.
Segundo relataram posteriormente, quando chegaram em seu destino, providenciaram de imediato a montagem do acampamento, para em seguida lançar o pequeno barco nas águas claras daquele frondoso rio. Eles pretendiam aproveitar a chegada do anoitecer, para dar início a tão sonhada caçada.
    Carregaram a tralha no pequeno barco de madeira, e junto colocaram a espingarda reluzente com o polimento da noite anterior, munição e a deliciosa paçoca, que minha mãe havia bem condicionado em um saco plástico, pois tinham intenção de saboreá-la ainda aquela noite. Zezinho como sempre, pediu para que Hermes lhe alcançasse a garrafa de pinga que estava próximo à um arbusto, alegando que o remédio não poderia faltar. Na proa do pequeno bote, colocaram a Paçoca as bananas e a garrafa de “Tatuzinho”, de forma que quando precisassem estava ali no alcance das mãos.
    Embarcaram e começaram a descer as águas límpidas do Capivari, porém não contavam com a correnteza do rio e do peso da pequena embarcação, que além das costumeiras tralhas de caça e pesca, levavam três “bruta montes” que juntos pesavam aproximadamente trezentos quilos.
    E ali, deram início aquela jornada para já na primeira curva do Rio o barco fazer água com o peso e emborcar jogando os três dentro do rio junto com toda a tralha que levavam. Foi aquele desespero em atingir o leito e ver o barco afundado e toda a tralha perdida.
    Disseram eles, que o farol ainda permaneceu ligado por alguns instantes, dando para vê-lo deslizando suavemente nas areias brancas do fundo do Capivari. Ainda havia um pouco de lusco fusco naquele entremeio de tarde e noite, e o que mais doeram nestes desastrados caçadores, foi ver a paçoca de pilão boiando no saco plástico rio abaixo longe de ser resgatada pelos náufragos de ocasião.
    Depois de muito tempo eles ainda lembravam daquela cena, do saco de paçoca de carne, que nossa mãe havia preparado com carinho para que seus filhos levassem naquela frustrada caçada, boiando rio abaixo, e comentavam que algum jacaré havia de ter passado bem naquela noite ao encontrar o saco de paçoca temperada com muito capricho que o rio havia levado.




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