Era o
ano de 1985, na recém-instalada Comarca de uma cidadezinha do agreste nordestino. Um jovem advogado, recentemente chegado a cidadezinha, havia ingressado
como uma ação de divórcio direto a pedido de um cliente, cuja esposa, havia a
muito partido, mas antes disto, o havia colocado um grandioso e notório "par de chifres".
A ré encontrava-se em lugar incerto e não sabido, portanto, havia
sido citada por edital, como admitia e até hoje admite nossa legislação processual pátria.
Havia
também a necessidade da produção de provas, objetivando demonstrar o comportamento
imoral da ré, que anos antes havia traído o marido relacionando-se com uma
série de homens da pequena cidadezinha encravada na caatinga.
Por
ocasião da audiência designada para tal fim, presentes em torno de uma grande
mesa feita com uma única prancha de madeira de Lei, se assentava o corno autor da ação,
acompanhado do seu advogado, o Curador Especial nomeado para acompanhar e
defender os interesses da ré ausente, o servidor da Justiça que lavraria o
termo em uma antiga “olivette”,¹ o Juiz e o Promotor.
O
Curador Especial, nomeado pelo Juízo era um antigo advogado que já morava na
cidade bem antes da instalação da Comarca conhecido pelo nome de Vargão.
Vargão
como informara o corno, fornecendo subsídios para o ingresso da ação, era um
dos que desfrutava da ausente quando o marido não estava em casa, ele e mais
uma infinidade de homens. A vida desregrada da ré havia lhe rendido um “carinhoso”
apelido de “Maria Galinha”, e isto também fora noticiado no feito com o
evidente escopo de conseguir o divórcio pleiteado.
No rol
de testemunhas que havia sido declinado pelo advogado do autor, tinha um conhecido na cidadezinha como
Casanova, que além de ter se relacionado sexualmente com a ré sabia de uma
infinidade de outros que também a “comiam” e entre eles o advogado Vargão.
Iniciada
sua oitiva Casanova, um gringo, como é conhecido os descendentes de italianos
na região sul do Brasil, começou a prestar suas informações, após ter sido
devidamente compromissado pelo austero Juiz de Direito Doutor Lequim.
Lequim
ostentava um vasto bigode que acrescentava em seu aspecto bonachão, um ar de
severidade, porém, quem o conhecia sabia que era um homem divertido cujo
passatempo era dar uns tiros e abater alguns animais silvestres muitos
frequentes naqueles tempos da ressequida vegetação de caatinga e de diversificada fauna.
Pois
bem, chegado o momento de fazer as perguntas para testemunha, o advogado do corno, foi logo
perguntado ao Casanova, se ele sabia declinar o apelido que era conhecido a
ausente.
Casanova,
com seu vozeirão grosso carregado por um sotaque peculiar do sul, onde os dois erres
são trocados por um, foi logo respondendo: - “Maria Galinha Doutô!”
O advogado forçando
a barra a fim de enriquecer seu pedido com robusta prova, perguntou a ele (testemunha), se sabia declinar nomes de alguns homens
que havia se relacionado com a ausente. Casanova antes de responder a pergunta
soltou uma divertida risada, respondendo que haviam muito homens que andavam com
a “Maria Galinha”.
Pelo advogado então fora pedido que a testemunha declinasse o nome de pelo menos um deles, e de imediato e com o seu polegar esquerdo, apontou para o Curador Especial, e respondeu: - “O Doutor Jargão aí, também comia a Maria Galinha.”
Pelo advogado então fora pedido que a testemunha declinasse o nome de pelo menos um deles, e de imediato e com o seu polegar esquerdo, apontou para o Curador Especial, e respondeu: - “O Doutor Jargão aí, também comia a Maria Galinha.”
Momento
seguinte, após segundos de silêncio, o Doutor Lequim e o Promotor se entreolharam e todos esboçando um
sorriso no rosto voltaram-se para Jargão, que meio perdido e sem jeito foi logo
respondendo: - “Comi Doutor. Como outros também comi!”.
Juiz,
Promotor, Servidor da Justiça, advogado e inclusive o corno, caíram em risada
vendo a cara de pau desconcertada do Doutor Jargão diante maior saia justa que a testemunha inquirida o havia colocado.
OBS: todos os personagens desta narrativa são fictícios e qualquer semelhança com a vida real e mera coincidência.
OBS: todos os personagens desta narrativa são fictícios e qualquer semelhança com a vida real e mera coincidência.
1 Antiga máquina de escrever, muito usada naqueles
tempos sem o conforto atual de um computador.
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