Hoje irei sair da rotina, talvez impelido pelo dia
norte americano das bruxas ou “halloween”, vou contar uma “estorinha” de
assombração.
Lembro-me
muito bem quando eu ainda era um infante medroso, meu saudoso pai, nos reunia
no quarto para contar seus causos e entre eles os famosos contos de
assombração. Deitávamos ao seu lado para ouvir em silêncio seus contos, quando
este não lia para nós em livros ou em alguma revista.
Em uma
noite qualquer daquele bons tempos, meu pai contou-nos uma “estória”, da
assombração do “Tio Urias”. Urias era um dos tios do meu avô paterno que havia
falecido vitimado pela febre tifoide nas margens do rio São Mateus na região de
Paraguaçu Paulista onde a família havia adquirido suas terras.
Naquela
época a região ainda era sertão, composta por exuberante floresta de mata
atlântica habitado por tribos indígenas e animais silvestres.
Contava
o velho, que ocorrido o passamento do Tio Urias, em uma noite escura e
estrelada, ouviram um barulho do lado de fora da casa edificada com lascas de
palmito e coberto de sapé, como se alguém tivesse mexendo nos utensílios
amontoados sobre uma pequena tarimba.
Naquele
tempo as famílias eram numerosas, e no quarto que dormiam os meninos, estes
acordaram e passaram a escutar assustados os ruídos que vinha de fora,
alimentando ainda mais o medo impelido pela pouca cultura e superstição muito
frequentes naqueles tempos de ignorância.
Os jovens indagavam se não seria a assombração do Tio
falecido, que viera para incomoda-los, falando um para outro sem muito alarde,
até que teve um deles decerto querendo esbanjar coragem para os demais, enfiou
a mão por uma das frestas estendendo o
braço para fora da casa, disse em voz alta e em bom tom; “ _ Se for o espírito do Tio Urias que está aí, que
pegue em minha mão?!!”
Foi
quando este sentira agarrar sua mão um outra gélida e fria, decerto vinda das
profundezas do além, que somente largou após o grito de horror emitido pelo até
então corajoso rapaz que ecoou noite adentro acordando a todos da redondeza.
Em
seguida ouviram uma voz tenebrosa dizendo: “_ jamais invoque os mortos, pois
outros virão em seu nome...”
Em
seguida o silêncio retornou, porém a expressão de pavor dos envolvidos ficou
oculta pelo manto escuro daquela sombria noite de terror.
Se foi
verdade eu não sei, só sei que nós ainda crianças cobrimos a cabeça de medo,
quando então nos contaram esta “estória”.
Quando
fores dormir esta noite, no escurinho do seu quarto, pense nisso, mas não cai na
besteira de invocar aqueles que já nos deixaram, pois aqueles que vagam pelas
trevas poderão escutar sua chamada e enfim se fazer presente para preencher sua
paz, com o mais profundo horror.
Feliz “halloween”!!!