A histórica e
desnecessária disputa hegemônica(1) entre Porto dos Gaúchos e Juara tem trazido
grande transtorno principalmente ao núcleo portogauchense. Desde há muito
tempo, tenho notado que existe por parte dos cidadãos (nem todos) destes dois
municípios um acentuado bairrismo cuja origem está fincada nos erros
acontecidos lá no passado.
Este bairrismo
vem disfarçado nas relações cotidianas entre os dois povos, porém vez o outra
aflora de uma forma incômoda e irritante. Eu mesmo já presenciei alguns
comentários preconceituosos quanto a existência da Comarca em nosso Município,
Em uma ocasião vi alguns advogados insinuar a necessidade de extinguir-se a
Comarca de Porto dos Gaúchos abrindo-se mais uma Vara na Comarca de Juara para
absorver os processos oriundos da Comarca extinta. Só estou mencionando tal
ocorrido para justificar o bairrismo imperante de alguns seguimentos de ambos municípios.
Em uma outra
ocasião, um cidadão local me falara, que estando em Juara resolveu comprar uns
materiais em uma papelaria local, e
quando sacou do talão de cheques para o pagamento de sua compra, a dona da loja
já foi logo dizendo, que se fosse cheque da praça de Porto dos Gaúchos, não
aceitaria, pedindo que ele deixasse a compra ali que não havia interesse na venda.
Talvez a comerciante agira daquela forma por ter recebido algum cheque sem
fundos de algum morador desta urbe, porém não haveria motivos para generalizar
incluindo em seu rol de repúdio toda uma população.
Acredito, como
dito no princípio desta colocação, que esta manifestação preconceituosa tenha
surgido no princípio da colonização de ambos Municípios. Alguns moradores de
Juara, quiçá sofrendo algum tipo de discriminação aqui, criaram um preconceito
muito grande pelo local a ponto de desencadear uma incessante contra propaganda
pela cidade portenha. Também pude comprovar isso quando cheguei nesta região, e
narro esta situação um ensaio histórico que pretendo deixar registrado para as
gerações vindouras.
Porém acho que
esta manifestação bairrista, não generalizada é mais acentuada pelo lado
juarense do que portogauchense, e eu já irei explicar porque cheguei a esta
conclusão.
Vejam bem, os
portogauchenses são grandes consumidores do comércio Juarense, nem sempre pelo
preço, mas somente pelo status de se comprar em um centro maior. E isto não é
somente pelos gêneros de consumo geral como também de serviços em todos os
sentidos.
Com a
pavimentação asfáltica entre ambos municípios, esta incessante corrida de
consumidores portogauchenses para Juara ficou mais freqüente, trazendo de uma
forma ou de outra uma grande evasão de riquezas que de uma forma direta
prejudica o já combalido comércio do município ribeirinho.
Um antigo
Prefeito de Porto dos Gaúchos me dissera, que por ocasião de sua gestão, esteve
em contato com alguns empresários juarenses para tentar convencê-los a instalar
em Porto dos Gaúchos uma filial de seus estabelecimentos. A resposta destes
empresários foram de não haver porque ter novas despesas de instalação em Porto
dos Gaúchos, já que o povo potogauchense sempre comprou e continuaria vindo e
comprando em Juara. Olhando por este aspecto ele não deixa de ter razão.
Ontem quando
conversava com uns amigos meus, comerciantes locais, eles enumeraram alguns
profissionais, que recebem dos cofres públicos municipais, mas optaram por
residir na vizinha cidade de Juara. São vários profissionais que vivem do
erário público municipal, porém ao receber os seus salários correm investir e
consumir na vizinha e progressiva urbe juarense. Em fim são cidadãos de Juara
que mesmo ganhando seu dinheiro aqui em Porto dos Gaúchos não trocam o seu
status de juarense, e isto é admirável no povo daquela cidade, ao contrário dos
portogauchense que nunca valorizam sua terrinha, e continuam acreditando que
santo de casa não faz milagre (eu é quem diga!).
Um dia no
passado, um importante empresário Juarense, me falara o que precisava acontecer
em Porto dos Gaúchos para a cidade desenvolver, era que as terras aqui
localizadas trocassem de mão. Na ocasião cheguei até dar razão para o
empresário, concordando que se as terras trocassem de proprietários o
desenvolvimento tão almejado viria com os novos donos.
Hoje já não
penso mais assim, pois ao analisar as diversas propriedades rurais, chega-se a
conclusão que grande parte de seus proprietários residem em outras cidades da
região, como Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop e principalmente Juara. E todas
as áreas de terras recentemente negociadas, foram vendidas para proprietários
ou empresas que não tem intenção nenhuma de investir na sede do município cujos
proprietários mantém suas residências na cidade de origem.
Para nós
portogauchenses só resta uma alternativa, ou seja, mudar nosso comportamento
cultural e se esforçar para consumir no comércio local, prestigiar os serviços
aqui instalados, que geram empregos e investimentos local, por mais singelos que
estes sejam. Os comerciantes e empresários também precisam fazer sua parte,
conversando com os clientes, pesquisando o mercado a fim de sempre melhorar ao
atendimento, receber bem o turista e etc... pois o mundo capitalista é
concorrido e disputado e quem parar no tempo perde o carro da história.
Somos um só
povo, portogauchenses e juarenses e temos que aprender que juntos podemos
melhorar ainda mais o Vale do Arinos, isto é, se esquecermos nossas diferenças
e as cicatrizes das feridas do passado. Somente assim poderemos desfrutar de
uma constante prosperidade, pois caso contrário estaremos predestinados a viver
recôndito em um lugar de acentuada insignificância, perdidos em preconceitos e
em eterna mediocridade. A exemplo disso é a pavimentação asfáltica da MT 338
(Baiana), se cada um ignorar a necessidade de outro, tenho certeza que esta
ficará com os buracos e a poeira de sempre.
1. Relativo a hegemonia, que signfica prepoderância política; superioridade; domínio.
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