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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Justiça para todos!?!


    Para aqueles que ainda achavam que os mensaleiros petistas iriam para cadeia, eu vos digo, eu já sabia...Um empate, e a decisão fica no voto de um Ministro, que adia seu voto para um dia da semana seguinte?!! Tudo isto gera uma grande suspeita.
    Ora não tenha dúvidas quanto a isto, seu adiamento fora estratégico, somente para valorizar ainda mais o seu voto. Valorizar no sentido estrito da palavra, ou seja, quanto lhe pagariam por este voto!!!

    Imagino como que ele negociara o voto com o Governo e os mensaleiros. Deposite para mim nas Ilhas Cayman!!! Ou seria melhor na Suíça?!! Para vocês seria melhor em dólares ou euros?!!

    A culpa de tudo isto é dos eleitores, que votaram em massa no PT nestes últimos anos, possibilitando assim que os mensaleiros tomassem conta dos cofres públicos. Que os petistas nomeassem os Ministros do Supremo!!!

    As nossas autoridades públicas e governamentais, sejam elas do Executivo, Legislativo ou Judiciário perderam completamente a vergonha e a ética. Não estão nem aí com a opinião pública!!! Ou melhor, nunca estiveram.

    Se és honesto, tenha vergonha, pois para nossos representantes somos apenas uma forma deles chegarem lá. Continuem a recolher os seus impostos, eles precisão desviar os bilhões da saúde educação e infra estrutura, para continuar corrompendo e distribuindo bolsas misérias para aqueles excluídos miseráveis, continuem na miséria e votando neles.

    Brasil um país de tolos!!!


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

PERSEGUINDO A VINGAÇA - 2ª PARTE



                 No dia anterior, Zé Chico havia sido interpelado por dois homens, lá no boteco do Julinho, na pequena Vila do Sapecado quando tomava um gole de pinga encostado no balcão. O estabelecimento construído em madeira serrada atendia a todos os seringueiros e moradores daquela região, vendendo-lhes aguardente e alguns gêneros de primeira necessidade.
                   Zé Chico encontrava-se de pé em frente do balcão, quando os dois homens, foram ao seu encontro.
                   _ O Senhor que é o “Zé Chico”, dono daquela posse Arinos abaixo.
                   _ So eu mesmo sim senhô. - Respondeu Zé Chico, aos estranhos que o interpelavam.
                   Neste momento seu filho Tião, que estava sentado na mesa ao lado aproximou do seu pai e dois homens que a ele se dirigiam, observando-os com atenção, já que era a primeira vez que estava vendo aqueles estranhos forasteiros.
                   Tião então notou, que um dos homens, o mais alto, tinha pendurado sobre o peito um cordão feito de uma tira preta, onde havia pendurado um crucifixo de madeira junto com uma figa de igual material. O homem tinha sobre sua cabeça um chapéu de abas largas preto, vestia camisa verde de manga comprida, por dentro das calças de brim preto, onde se notava um cinto de boiadeiro, com uma grande fivela em forma de ferradura. Seu rosto esquálido tinha um enorme bigode, amarelado talvez pela fumaça do cigarro, já que este trazia um no canto da boca. Chamava-se Sebastião, também conhecido como “Tião Bigode”. O mais baixo, pouco franzino tinha na cabeça um boné escrito com propaganda de loja de material de construção de cor vermelha, vestia uma camiseta branca e uma calça jeans preta, e chamava-se Edinho, também conhecido por “Edi Bala” trazia estampado no rosto um falso sorriso e um fino bigode sobre a boca. Tião veio a saber depois, que ambos os homens, eram perigosos  pistoleiros.
                   _ Mais por que me pergunta. Falou Zé Chico aos homens, ali presentes com seu jeito simples de caboclo.
                   _ Pois é Seu Zé, aquelas terras dali, onde o senhor tem a sua posse, pertence ao nosso patrão o Sr. Durval José Pereira, grande fazendeiro de São Paulo, que a pouco mudou para esta região, e pretende derrubar uma grande área para formação de pastagens. Disse  “Tião Bigode” a Zé Chico, que entornava o copo de cachaça, goela abaixo.
                   _ Acho que deve have um engano, pois já faz mais de deis anos que corto seringa por aquelas bandas, e nunca ouvi falar que lá tivesse dono. Respondeu Zé Chico aos forasteiros.
                   _ Inda tem mais, só que moro naquele barraco já faiz mais de cinco ano. Acrescentou Zé Chico em sua fala.
                   Tião Bigode, aproximou-se do Zé Chico, e com a voz mansa e suave, falando baixo para não ser ouvido por outros presentes no recinto disse.
                   _Seu Chico, nestas horas é preciso ter juízo. O Senhor Durval, tem muito dinheiro. Tem a Polícia e os Juízes em suas mãos. Acho bom o Senhor deixá aquelas terras, a fim de evitar problemas.
                   Zé Chico, entornando outro copo de cachaça já embriagado pelo excesso de álcool não deu muita atenção aos seus interlocutores.                     Tião seu filho caçula,  olhava fixamente aos dois homens que conversavam com o seu pai, tentando ouvir a prosa no meio do burburinho do boteco.
                   Quando os homens deixaram o recinto, Tião foi até o balcão e perguntou para o Julinho.
                   _ Seo Julinho, quem são esses homes ?
                   _ Prá trabalhá pro Durvar, boa coisa não são!!. Respondeu Julinho, em voz baixa e olhando dos lados.
                   _ Estes dois na certa são guachebas do Durvar, estão aqui pra québra de mio. - Dissera Julinho, em seus termos acaboclado, que os indivíduos eram pistoleiros de aluguel, e que estariam na região, para cumprir algum contrato de morte. Ouvindo isto, Tião foi até a Porta do estabelecimento, vendo os dois indivíduos a subirem em uma camionete e saírem do vilarejo. 
                   O dia já dava sinal de sua graça, trazendo consigo a algazarra frenética dos passarinhos. Os Papagaios sobrevoando os pés de Buritis, fazendo grande barulho. As Araras, voavam de um lado de outro, sempre aos bandos ou em casal. Tião abriu os olhos, e sentiu o cheiro doce do café recém-coado, que vinha lá da cozinha onde já estava sua mãe. Zé Chico amolava as facas de cortar seringa, sentado em um cepo próximo a casa. O jovem espreguiçou em sua tarimba, e em seguida colocou-se de pé, dirigindo-se quarto a fora.
                   _Bença mãe!!! Bença pai!!! Disse o menino dirigindo-se aos seus pais.
                   _ Bom dia fio Deus te abençoe!!! - Respondeu sua mãe.
                   _ Passa uma água na cara e enxágua a boca, e vem tomá o café. - Completou Maria, dirigindo-se ao primogênito.
                   _Teu pai já tá te esperando prá ôces ir cortá seringa. Tó terminando de prepará o armoço prá ôceis levá. - Disse Maria ao filho, que preguiçosamente dirigia-se a bacia com água existente na tarimba fora do barraco.
                   Futrica a cadela, vendo o menino havia acordado, veio ao seu encontro pulando em suas pernas.
                   _ Saí futrica, se não ôce me derruba. Disse o menino diante da festa que a cachorra lhe fazia.
                   Tião ao ter se lavado, engoliu o café preto, após ter comido uns pedaços de torresmos que sua mãe havia retirado na lata de banha, e lhe trazido com um pouco de farinha de mandioca. Calçou sua botina e respondeu ao pai que lhe apressava no quintal.
                   _ Anda moleque, pega a matula que sua mãe preparou e vamos. Gritou Zé Chico para o filho.
                   _ Já tô indo pai !. E assim pai e filho, foram em direção à mata para efetuar o corte das seringueiras, extraindo o precioso látex que lhe trariam o sustento.
                   Maria colocou o feijão para cozinhar, e foi até o mandiocal próximo a casa, e lá chegando, arrancou um ou dois pés,  sendo  parte para tratar da criação e  o resto para cozinhar para o almoço. Ao fazer isto, Maria se indagava da importância da raiz para o sertanejo. Depois dirigiu-se a tábua de lavar roupa, que encontrava-se pregada em um toco de itaúba próximo ao poço. Ao lado da tábua usada como lavanderia, havia um tambor de duzentos litros cortado ao meio, onde Maria costumava armazenar a água que retirava do poço, através de uma corda enrolada no sarilho.
                   Lá no meio da mata, pai e filho iam de árvore em árvore, fazendo o corte e fixando os coletores de látex, recolhendo os que já se encontravam cheio. Nestas idas e vindas, os dois trilhavam caminhando entre enormes árvores centenárias, sendo que dali mal dava para ver o céu, de tão frondosas e cerradas. Os odores que vinha da mata úmida, tornava o caminhar ainda mais saudável. O ar estava impregnado do cheiro do mato, de flores silvestres de terra molhada. Ah !!..que delícia de vida. Sofrida, porém inegavelmente saudável.
                   Os seringueiros, pai e filho, andando meio as grandes árvores, às vezes transpondo pequenos rios, oriundos das diversas nascentes existentes entre a selva. Esta riqueza natural, que serpenteia entre as árvores, frequentemente era utilizado por Zé Chico e seu filho,  matando a sede e amenizando o calor.
                   Tião, ao caminhar atrás do seu pai, ia observando os pés de Buritis próximos aos córregos ou os Tucumans, que estivessem com frutos maduros, pois sabia que ali, estaria uma ceva natural dos animais silvestres, especialmente as Pacas, cuja carne e demais apreciada pelos sertanejos. De vez em quando, ao encontrar um pé de Tucuman, aproximava-se com cuidado, para não ferir-se em seus espinhos para observar se os frutos caídos e depositados em seus pés, estavam sendo comidos pelas Pacas. Ele sabia que os Bichos estavam visitando a ceva, quando encontrava os cocos roídos. Quando isto ocorrida imediatamente gritava para seu pai.
                   _ Ei pai, as Pacas tão batendo neste Tucun!!! Veja quanto coco comido!!!
                   Zé Chico, para não desanimar o menino, respondia.
                   _ Vai marcando, que uma noite dessas, quando não tiver lua, nóis vamo esperá as baita.
                   E assim ia transcorrendo o dia, até das 10:30 horas, já com a barriga roncando pela fome, sentaram sob uma vasta árvore, com grandes catanas, para saborearem o almoço.
                   _ Vamo pará prá armoça aqui meu fio, bem embaixo deste guatazeiro. Disse Zé Chico ao menino de olhos famintos que o acompanhava.
                   _ Êta pai, já tava na hora. Minha barriga, não parava de roncá. Até parece uma pintada !.. - Dissera Tião ao seu pai, que o respondeu com uma boa risada.
                   _ Dexa de prosa e vamo no que interessa. - Disse-lhe o pai, alcançando um pequeno caldeirão enrolado em pano, dentro de uma matula, entregando ao menino.
                   _ Taí! pegue o seu boião. - Completou o homem para seu filho.
                   Ambos sentaram próximo ao tronco da frondosa árvore, e iniciaram o almoço. Em cada caldeirão, havia feijão, arroz, torresmo e carne de porco, além da indispensável Farinha de Mandioca. Da comida que haviam trazido sempre sobrava alguma coisa, para mais tarde, antes do retorno para a pequena casa.
                   Uma vez e outra, Tião disfarçadamente, longe do olhar de se pai, atirava umas colheradas para a cachorra Futrica, que sempre os acompanhavam mata adentro, e que naquele momento ficava ali por perto esperando os costumeiros restos.
                   E assim ia passado à tarde até a hora de retornar ao lar, onde Maria os aguardava.

Continua..................

terça-feira, 10 de setembro de 2013

PERSEGUINDO A VINGANÇA. 1ª PARTE.



                                                      PREFÁCIO.

    A partir de hoje darei início a publicação semanal de um conto que venho desenvolvendo, onde procuro narrar de forma simplista e objetiva conflitos cuja origem é a posse pela terra.

    O conto é uma ficção, porém tem muito a ver com a realidade dos conflitos pela terra, onde muitas das vezes acabavam com morte, pois era assim que resolviam as contendas no passado.

    O homem em sua histórica trajetória sempre lutou, matou ou morreu disputando um pedaço de chão. Costumava eu dizer que por dois motivos se matavam antigamente, pela terra ou pela mulher. Mas a terra sempre liderou os conflitos já que era mais fácil trocar de mulher do que perder o chão em que fincava as raízes.

    Atualmente nos grandes centros urbanos, a vida ficou banalizada, onde viciados assaltantes, matam por um celular ou alguns trocados, simplesmente para adquirir o veneno que injetam nas veias ou fumam em um cachimbo improvisado.

    A Justiça Matogrossense sempre foi acusada, e com muita razão, de ser morosa e ineficaz, quando não corrupta como é o caso denunciado recentemente o envolvimento de Juízes e Desembargadores do Tribunal de Justiça com a venda de sentenças e envolvimento com o desvio de dinheiro favorecendo uma determinada Loja Maçônica do Estado.

    Nossa estória narra à vida de um jovem que tendo presenciado a morte violenta do seu pai por pistoleiros esquece os caminhos legais e sai em busca de vingança. Entre sua incansável busca fermentada pelo ódio, encontrou pelo caminho também o amor.

    Procurei usar o linguajar acaboclado utilizado nos meios rurais, pelo nosso sertanejo.

     Como já explicado, é uma estória, seus personagens são frutos da ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.



                                                   CAPÍTULO I



                     No entardecer daquele princípio de março de 1980 pairava no ar o cheiro suave da mata, onde antigas árvores  pendiam de forma ameaçadora sobre o leito do rio. Grudada nestas esplêndidas espécies, haviam diversificadas parasitas e cipós pendurados, frequentemente alcançando o leito espelhado do Arinos.

                   Descendo rio abaixo, avistava-se próximo a sua margem direita, uma canoa, então conduzida de forma segura por um homem moreno, de aparência esquálida que empunhando o remo com suas rudes mãos calejado pelo árduo trabalho do campo, aproveitava o curso da água navegando corredeira abaixo.

                    O homem levava consigo no pequeno barco, sua mulher que por sua vez levava nos braços uma criança, também ia junto na mesma embarcação um jovem adolescente, que como seu pai, empunhava um remo com o vigor de sua mocidade ajudando a empurrar a canoa rio abaixo.

                   Zé Chico, como era conhecido, estava na popa do barco, olhando sua família com orgulho de um vencedor. Tinha ele próximos trinta e nove anos, moreno magro, e com o semblante queimado pelo Sol Matogrossense. Seu rosto ostentava uma rala barba de sertanejo e em seu corpo cicatrizes da sua luta cotidiana e de picadas de insetos. Sua mulher Maria, mais nova do que o marido, aparentando  uns trinta e dois anos, cabelos presos por um pedaço de elástico entregava o peito a “gurizinha”[1], que carregava no colo, sentava-se no meio. A criança de ano e meio, grudava no seu seio, sugando com força o leite maternal. Seus olhinhos negros como jabuticabas, buscavam o céu azul, enquanto suas mãozinhas espalmavam o seio de sua mãe. O jovem  adolescente, moreno de cabelos lisos e negros, esquálido como seu pai, porém forte para sua idade, fora batizado por Sebastião em homenagem ao avô paterno, ia na proa, remando vigorosamente com os seus dezesseis anos completos. Todos estavam felizes, apesar do cansaço.

                   Zé Chico, perdido em pensamentos, observava a rica flora ribeirinha, olhando as diversas espécies de pássaros que sobrevoavam as árvores e atravessavam o rio de lado a lado. Havia o gritar estridente das Araras, amarelas e azuis, e até as vermelhas, pousadas nos “Buritis” e “Tucumans”[2] avistados entre a selva. Ninhos de “Guachos”, pendurados nos finos galhos do gigante “Angelin”, fazendo a costumeira algazarra do entardecer. Pombas, Macucos e Jaós[3], espreitavam entre as árvores, com o canto melancólico do final do dia.

               Toda aquela orquestra barulhenta era música para os ouvidos do caboclo, que quando ouvia o canto do pássaro o identificava para o filho, acrescentando o nome da ave. O cabloco estava contente, já que estava retornando a sua pequena área de posse, a uns trinta quilômetros rio abaixo, aonde chegaria ao anoitecer.

               Há uns dois anos passados, ele havia estado ali com o primogênito, e havia erguido um barraco feito de lascas de palmiteiro, usando suas folhas como cobertura, que mais tarde fora substituídas por cobertura de tabuinhas. O barraco era simples e tinha somente duas repartições. Na repartição da frente, havia um fogão a lenha, construído sobre quatros cepos de madeira, rebocado com o barro branco retirado da barranca de uma nascente próxima. No centro uma mesa assentada sobre quatro estacas, tendo em cada lado um banco cumprido, onde a família faziam suas refeições. O barraco havia sido edificado, em uma clareira, recentemente derrubada. Pois as árvores e os tocos estavam enegrecidos pela ação do calor das chamas. Pai e filho haviam trabalhado muito, para construir tudo aquilo.

               Ao escurecer, o silêncio tomou conta da mata, ouvindo somente o coaxo dos batráquios, cantar de grilos e algumas aves noturnas. O caboclo conduziu sua canoa até as margens do rio, chegando ao seu destino.

               _ Pule e amarre a canoa, naquela raiz Tião! Falou dirigindo ao filho, que mais do que depressa, saltou da canoa, puxando-a em direção ao barranco, amarando-a firmemente na raiz exposta da árvore ribeirinha.

                _ Tá segura pai. Respondeu Sebastião, para o homem, que ainda permanecia na popa firme ao seu remo.

               _ Desce Maria, e cuida da guriazinha, não vá deixar ela cair. Disse Zé Chico a sua mulher.

               _  Até parece, que dexo caí nossa princesinha. – Respondeu  Maria referindo-se a caçula que estava em seu colo.

_ Rosinha é o tesouro da mamãe. – Dando um beijo na bochecha da criança, que respondeu com um risinho angelical. 

                   Zé Chico esperou a mulher descer da canoa segurando-a firmemente com o remo fincando junto a ela e no leito raso do rio, e em seguida caminhou equilibrando dentro dela, buscando o chão firme do barranco, dirigindo em seguida ao primogênito.

                   _ Tião descarregue a canoa, pegue a lanterna e alumia, o “trieiro”[4] para usa mãe, vê se não tem nenhuma “Pico de Jaca”[5]. – Referindo   a uma das mais perigosas cobras do Floresta Amazônica, a Surucucu.

                   _ Ajude com as compra, meu fio, que o pai leva o resto. Completou Zé Chico, dirigindo ao jovem Tião. O Homem agachou e agarrou firmemente um volume ensacado, erguendo-o até sua cabeça, e todos seguiram na picada a dentro, até alcançar a clareira onde estava erguido o barraco, distante um duzentos metros da barranca do Arinos.

                   Ao chegar à pequena casa, Tião abriu a porta, que estava amarrada por uma tira de trapo, clareando barraco adentro com a lanterna,  a fim de certificar-se não ter nenhum inseto ou réptil peçonhento.

                   Após entrarem na Casa, Zé Chico, descansou o fardo de compras, sobre a tarimba de madeira, que utilizavam de armário, dirigindo-se a um pote de barro, que existia sobre um cepo de Itaúba[6] próximo a entrada do pequeno rancho. Alcançou uma caneca de alumínio, que descansava sobre a tampa do pote, onde havia armazenado água limpa da mina, mergulhando-a pote a dentro enchendo-a de água fresca bebendo-a em seguida, enquanto observava seu filho iluminando o caminho da mãe em direção ao quarto. Maria colocara a criança na rede, pois esta já estava dormindo, cansada da viagem.

                   A mulher retornou a cozinha acendendo a lamparina, feita  pelo marido, em um velho vidro de palmito em conserva, que havia encontrado jogado em um lote vazio na Vila do Sapecado, falando em seguida.

                   _ Vô acendê o fogo, prá passá um café. Ocê menino, vai até o ninho no balaio véio, lá no galinheiro, e pegue uns ovo prá nóis comê. Falou ordenando ao filho, que mais do que depressa, correu em direção ao galinheiro, quase tropeçando na Futrica, a velha cadela magra que chegava correndo festejando a família.

                   _ Êta futrica, sua guaipeca[7], onde que ôce estava. Disse o menino a Vira Lata que o festejava, pulando sobre suas pernas e lambendo sua mãos

                   _ Pára Futrica, vai me babá todo!!! Gritou o moleque para a cachorra.

_Vaí vê, que estava correndo Cateto, lá pras bandas do córgo. Disse Zé Chico, completando com um grande sorriso de contentamento estampado no rosto.

_ Achei um barrero[8], que tá picado do batido deles.

Enquanto pai e filho assistiam à festa da cadela magra, cheia de cicatrizes, provocadas pelos dentes dos bichos da mata, a mulher alcança uns gravetos em baixo do fogão, para iniciar o fogo, juntando o resto de lenha restante da última vez em que utilizaram o fogão.

           _ Anda menino, deixa de embramá[9], e vá buscá os ovos que eu pedi. Falou Maria para o filho, que mais do que depressa, correu em direção do galinheiro, retornando com os ovos, que sua mãe havia pedido.

          _ E ocê Home, vê se se lava, prá depois discansá, que amanhã o dia é cumprido. E ocê Tião faça como seu pai. Falou Maria ao marido e o filho, que insistiam em observar o festejo da cadela no terreiro em frente à porta.

            Pai e filho, dirigiram-se ao quintal, ao lado da casa, onde havia uma tarimba, com uma velha bacia de latão. Tião pegou o balde, e despejou água na bacia para que o seu pai se lavasse. Zé Chico, pegou o sabão sobe a cantoneira da janela, molhando-o  e  esfregando-o nas mãos e braços, lavando também o seu rosto.

           _ Fio pede prá mãe arrumá uma toaia que é prá mim me enxugá. Disse Zé Chico ao filho, que esperava sua vêz.

O menino entrou casa à dentro, retornando em seguida com uma toalha feita de saco de algodão, antiga embalagem de mantimentos, que Maria havia transformado em uma toalha, entregando-a ao seu pai, que lhe disse.

              _ Vai Fio, vê se se lava, prá nóis cumê o ôvo, que tua mãe tá fritando. Pendurando a toalha no prego sob a tarimba, para que o filho a usasse, após ter se lavado.

        Após terem comido, todos se dirigiram ao quarto para o descanso, restando somente o silêncio da noite, coroada pelo canto dos curiangos, e pelo lamento triste do “Oratau”[10].

continua............



[1] Diminutivo de Guria. Termo utilizado em certas regiões do país. O  mesmo que menina ou garota.
[2] Tipos de palmeira muito freqüentes no Norte do país. Os Buritis costumam surgir em lugares úmidos e o Tucumam, também chamado popularmente de “Tucum”, é palmeira espinhosa que produz frutos (cocos) muito apreciados por algumas aves e animais silvestres.
[3] Aves da fauna brasileira.
[4] Termo empregado pelos caboclos e sertanejos indicando picadas ou caminhos abertos na mata.
[5] Cobra venenosa muito temida pelos sertanejos e seringueiros.
[6] Espécie de árvore ou madeira muito utilizada para edificação de cercas e outros utensílios domésticos. É também conhecida por “canela loura”.
[7] O mesmo que “vira latas”, termo empregado para cães sem uma raça definida.
[8] Barreiro, local onde os animais silvestres, como os porcos selvagens utilizam para se refrescar ou se alimentar de minerais.
[9] Embromar ou enrolar, no linguajar sertanejo.
[10] Ave noturna.